Projeto de lei define teto para reajuste de aluguel
e gera críticas no setor.
Com
disparada do IGP-M, que acumula alta de 31,1%, proposta quer limitar correção à
inflação.
Em resposta à disparada do IGP-M, índice que reajusta o valor do
aluguel, a Câmara dos Deputados aprovou regime de urgência para
um projeto de lei que limita a correção dos contratos à inflação.
A iniciativa,
no entanto, vem sendo criticada como uma tentativa de intervir em uma relação
de mercado.
A proposta que tramita na Câmara prevê que o teto
para reajuste dos contratos seja o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo)
ou outro índice oficial de inflação, caso ele seja extinto.
Em março, o IGP-M acumulava alta de 31,1% em 12
meses, enquanto o IPCA subiu 6,10% no mesmo período.
Assim, um aluguel de R$ 2.000 corrigido pelo IGP-M aumentaria para R$ 2.622, já
pelo IPCA esse valor seria de R$ 2.122 —uma diferença de R$ 500.
A discrepância entre o IGP-M e a inflação já fez
com que algumas imobiliárias, como a QuintoAndar, mudassem o índice utilizado
como referência nos reajustes.
De autoria do deputado Vinicius Carvalho
(Republicanos-SP), o projeto permite correção do valor acima do índice de
inflação convencionado apenas se o inquilino concordar.
Na justificativa, o congressista diz que inquilinos "estão
desesperados com os índices de reajuste dos contratos de aluguel neste período
de pandemia".
Ele destaca que a alta recente do IGP-M em 2020 respondeu a
uma aceleração de variáveis como dólar e commodities.
A aprovação da urgência no dia 7 de abril ocorreu em votação
simbólica, o que dispensa o projeto de exigências ou formalidades regimentais,
acelerando sua tramitação.
No setor imobiliário, o projeto é visto como
engessamento. "Isso é um absurdo. Estamos voltando ao tempo da tabela, de
congelamento de preços.
Essa interferência do Legislativo no acordo privado é
completamente desnecessária", diz Adriano Sartori, vice-presidente de
Gestão Patrimonial e Locação do Secovi-SP (sindicato da habitação).
Segundo ele, a negociação quanto ao reajuste já está acontecendo
entre as partes.
Sartori afirma ainda que a aprovação do projeto poderia criar
insegurança jurídica. "Isso afasta investidores.
Eles não se sentem
confortáveis com esse tipo de medida, com esse tipo de interferência",
diz. "O maior problema é a interferência governamental numa relação
privada."
Ele critica também a escolha do IPCA para reajustar aluguéis,
porque não seria um índice que captura a realidade do mercado imobiliário.
FOLHA DE SÃO PAULO