Desde que
a operação Greenfield foi iniciada, há um ano e meio, a partir da descoberta de
indícios da prática de gestão temerária como causa de déficits bilionários nos
fundos de pensão Funcef (Caixa), Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e
Postalis (Correios), as entidades representativas dos fundos de pensão reiteram
a necessidade de apuração das ocorrências para a punição dos responsáveis pelos
desvios e também o aprimoramento das atuais regras de governança corporativa
nos fundos.
"O
sistema dos fundos de pensão no Brasil é sólido. Há mais de 300 fundos de
pensão no país, administrando recursos acima de R$ 750 bilhões. Por ano, pagam
R$ 34 bilhões a aposentados e pensionistas. É uma referência nacional. A
investigação das quatro instituições estatais não prejudica a solidez do
sistema que conta com um arcabouço legal moderno e governança corporativa
evoluída", afirma o diretor jurídico da Associação Brasileira das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), Luis Ricardo Marcondes
Martins, também presidente do fundo OAB Prev São Paulo.
A
operação Greenfield investiga os déficits bilionários constatados em 2015 e em
anos anteriores. A apuração abrange até investimentos feitos pelos fundos em
2009. Um total de 241 planos de fundos de pensão ficaram no vermelho em 2015.
Do total, apenas dez planos concentram 80% do déficit de todo o sistema, sendo
nove patrocinados por estatais. Se considerados apenas quatro fundos ligados a
estatais, o saldo negativo em 2015 alcançou R$ 48,7 bilhões. São eles: Petros
(R$ 22,6 bilhões), Previ (R$ 16,1 bilhões); Funcef (R$ 8,8 bilhões); e Postalis
(R$ 1,2 bilhão).
Segundo
informações do Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal, as
investigações estão sendo conduzidas por um grupo insterinstitucional formado
por MPF, Polícia Federal, Superintendência Nacional de Previdência Complementar
(Previc) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O Tribunal de Contas da
União (TCU), a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Caixa Econômica Federal
(CEF) também colaboram com o trabalho.
"Sempre
que verificados elementos que possam vir a caracterizar a ação como crime, seja
pela ação ou pela omissão, por parte de pessoas que direcionam ou recebem os
recursos haverá representação à Polícia Federal e ao Ministério Público",
diz o diretor-superintendente substituto da Previc, Estras Esnarriada Junior.
O diretor
da Regional São Paulo da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de
Pensão (Anapar), José Ricardo Sasseron, também ex-presidente da entidade e
ex-diretor de seguridade da Previ (2006-2012), diz que o impacto maior do
déficit, em 2015, ocorreu nos planos de Benefício Definido (BD) que concentram
cerca de dois terços do patrimônio dos fundos fechados e a grande maioria
destes recursos pertence a planos patrocinados por estatais.
Diante do
cenário de 2015, com inflação alta, taxa de juro alta, reduzido retorno nas
aplicações de renda variável e em fundos de investimentos, alguns fundos de
pensão de benefício definido tiveram de revisar suas premissas, como taxas de
juros, tábua de longevidade e cálculo do passivo. "Essa revisão provocou
resultado negativo na reserva matemática nos planos BD, devido à sua modalidade
de capitalização", diz Sasseron.
O diretor
jurídico da Abrapp explica que esse déficit técnico não significa
"rombo". Apenas mostra que muitos fundos de pensão não alcançaram a
meta atuarial em função do cenário econômico e por isso tiveram déficit
técnico. "Os desvios mesmo, constatados em alguns fundos de estatais,
ficam ao redor de 10% do valor do déficit total. Apurado esse desvio, tem de se
punir os responsáveis. Mas, o desvio não coloca o sistema em risco", diz
Martins.
De acordo
com o último balanço do MPF do Distrito Federal, divulgado no começo deste mês,
durante a fase ostensiva das investigações da Greenfield, 26 pessoas e empresas
firmaram termos de ciência e compromisso com o MPF e a Polícia Federal. Os
envolvidos se comprometeram a apresentar garantias financeiras que serão usadas
para ressarcir as instituições em caso de condenação judicial. Somadas, essas
garantias - que podem ser seguro, dinheiro, bens e ativos - superam os R$ 2,27
bilhões. Além da reserva de recursos, sete empresas e 19 pessoas físicas
assumiram o compromisso de colaborar com as investigações. Em troca, tiveram
medidas cautelares como sequestro e bloqueio de bens suspensas pela Justiça.
O
Postalis esclarece que foram repassadas à PF todas as informações solicitadas.
A Funcef informou que está prestando todas as informações às autoridades. Já a
Previ informa que no âmbito da CPI dos Fundos de Pensão na Câmara dos
Deputados, nenhum dirigente ou executivo da entidade estava entre os
indiciados, como não se constatou qualquer irregularidade. A Petros afirma que
está prestando as informações solicitadas pelas autoridades.
Valor