Nas inevitáveis listas de
“vitoriosos” e “derrotados” nas eleições de domingo, conquistaram, com louvor,
lugar de destaque o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, na coluna
dos “ganhadores”, por ter emplacado a sua criação, João Doria, na prefeitura da
capital, logo no primeiro turno, e, na turma dos “derrotados”, a dupla Lula-PT,
atropelada pelas urnas. O feito de Alckmin não é pequeno. Retirou do bolso o
nome de João Doria, empresário bem-sucedido do ramo de eventos, com passagem no
longínquo governo do tucano Mário Covas na prefeitura paulista, e o impôs a
caciques da legenda. No racha, o vereador Andrea Matarazzo, de longa
quilometragem no PSDB, aspirante a candidato, perdeu a disputa interna para
Doria, desfiliou-se, foi para o PSD e compôs chapa com a ex-petista Marta
Suplicy, no PMDB.
O resultado da vitória
retumbante de João Doria (53,3%) é que Alckmin ganha musculatura para disputar
o Planalto em 2018. Pelo PSDB ou não. Contra o projeto do presidente do
partido, Aécio Neves, cujo candidato à prefeitura de Belo Horizonte, João
Leite, foi para o segundo turno. Uma vitória, porém menos vistosa.
A derrota do lulopetismo foi
assombrosa, para a legenda e seu carismático líder. No primeiro turno, o PT
ganhou apenas uma prefeitura de cidade com mais de 200 mil habitantes, Rio
Branco, Acre, com Marcus Alexandre. Até sábado à noite — falta a rodada do
segundo turno —, o PT era o décimo partido no ranking do número de prefeituras.
Havia ganhado em 256 cidades, tendo perdido o controle de 374 que conquistara
em 2012.
Uma derrota avassaladora,
agravada pelo fato de o principal adversário, o PSDB, neste primeiro turno, ter
praticamente mantido seu peso entre as cidades com mais de 200 mil habitantes —
de 15 em 2012, passou para 14. Ao todo, os tucanos ganharam 791 prefeituras,
105 a mais que em 2012. Perdeu apenas para o PMDB.
O lulopetismo foi, além da
capital, também varrido do chamado “cinturão vermelho” da Grande São Paulo,
marca do PT. Esperava-se, e de fato veio, o troco do eleitorado à legenda,
devido à desfaçatez com que o lulopetismo, em nome da “causa”, assaltou o
Tesouro por meio da dilapidação de estatais (Petrobras, Eletrobras) e fundos de
pensão de funcionários de companhias públicas. Com o inevitável enriquecimento
de companheiros. O próprio Lula está enredado na Lava-Jato.
Outro alvo do eleitorado foi
o próprio político. Por isso, Doria avançou no eleitorado paulistano como fogo
morro acima, e pela primeira vez desde a redemocratização alguém ganhou na
maior cidade brasileira no primeiro turno. Era invariável a maneira do
candidato se apresentar: “Não sou político, sou gestor”.
Sintonizou-se com o
movimento de rejeição da classe política, refletida em elevados índices de
abstenções, votos brancos e nulos. No Rio, o bloco dos três foi de 42,5%, quase
a soma do vitorioso Crivella e Freixo, a dupla do segundo turno. Ainda no Rio,
a abstenção foi a maior desde 1996. Em números absolutos ultrapassou a votação
de Crivella. Já os nulos e brancos ganharam dos eleitores do Freixo.
Outro resultado dos números
de domingo é que, enquanto a crise na representação política torna o eleitor
cada vez menos interessado em votar, ficam mais urgentes mudanças que reduzam a
pulverização de legendas.
O Globo