Na crise, mais que
dobra o número de pessoas que buscam emprego há mais de 2 anos. Na avaliação do
Ipea, situação precária do mercado de trabalho adia recuperação do emprego para
2020
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O número de
brasileiros que está há mais de dois anos procurando emprego cresceu 140%
desde o início da crise no mercado de trabalho, chegando a 3,3 milhões de
pessoas. O desemprego de longo prazo atinge mais as mulheres e as regiões Norte
e Nordeste.
Os dados foram
divulgados ontem (18/06) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),
são considerados um indicador a mais da situação precária do mercado de
trabalho brasileiro. Para a pesquisadora do Ipea, Maria Andreia Lameiras, o
desemprego só deve começar a cair em 2020.
Com base em informações coletadas pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Ipea avalia que, apesar de
indicativos recentes de melhora, "o mercado de trabalho brasileiro segue
bastante deteriorado, permeado por altos contingentes de desocupados,
desalentados e subocupados [que trabalham menos do que gostariam]".
Em sua Carta de
Conjuntura, o instituto destaca o elevado número de pessoas procurando emprego
há mais de dois anos: no primeiro trimestre de 2019, foram 3,3 milhões. No
mesmo período de 2015, ano em que se iniciou a escalada do desemprego, eram 1,3
milhão de pessoas.
Esse contingente
representa hoje 24,6% dos desempregados brasileiros –um crescimento de 42,2%
com relação à taxa de 17,4% registrada no primeiro trimestre de 2015. Isto é,
um a cada quatro pessoas sem emprego no país procura trabalho há mais de dois
anos.
Do total, 2
milhões são mulheres e 1,3 milhão, homens. Embora historicamente elas sofram
mais com o desemprego de longo prazo, o crescimento pós-crise foi maior entre
os homens.
De acordo com o
Ipea, 22,7% dos domicílios brasileiros não tiveram qualquer renda do trabalho
no primeiro trimestre, um aumento de 3,7 pontos percentuais com relação ao
primeiro trimestre de 2015. O instituto ressalta, porém, que eles podem ter
tido renda com aposentadorias, programas sociais ou outras fontes.
"Os
domicílios são compostos por diversas faixas etárias e, se ninguém está
recebendo renda do trabalho remunerado, isso mostra que a crise bateu muito
forte", diz Lameiras.
Outros 29,8% têm
renda do trabalho muito baixa, isto é, menor do que R$ 1.615,64 por mês,
considerando todos os moradores. No primeiro trimestre de 2019, o rendimento
médio domiciliar cresceu em todas as faixas de renda, mas os dados apontam
aumento da desigualdade: enquanto nos de renda muito baixa, a alta foi de
0,10%, naqueles de renda alta (maior que R$ 16.156,35), foi de 2,48%.
Para a
pesquisadora do Ipea, a recuperação do mercado só ocorrerá em 2020. Se no
começo ou no fim do ano, depende do ritmo de aprovação da reforma da Previdência, que melhoraria
a confiança para novos investimentos. Ela lembra que o emprego demora a reagir
às mudanças de rumo da economia.
"A reforma é
fundamental e o timing da reforma é fundamental. Se a tramitação acabar se
estendendo demais, se aprovação for só para o segundo semestre, só teremos
melhora no segundo semestre de 2020", concluiu.
FOLHA DE SÃO PAULO