INVESTIMENTOS 1


Nos últimos 12 meses, até a renda fixa está exigindo paciência do investidor

O passado recente pode estimular decisões que comprometerão o retorno de longo prazo.

Normalmente, quando falamos que um investidor tem de ter paciência nos investimentos, usualmente, estamos nos referindo a investimentos de maior risco como ações, fundos imobiliários ou multimercados. 

Entretanto, nos últimos 12 meses, esse escopo se expandiu, também, para a renda fixa, diz Michael Viriato (Casa do Investidor). “Explico o que tem ocorrido e porque a paciência deve se pagar”.

A maioria dos investidores brasileiros se acostumou com o retorno do CDI ou Selic e sempre que seus portfólios se distanciam deste indicador, mesmo que por curto prazo, logo surge um impulso pela mudança.

Entretanto, o alívio de curto prazo que a mudança pode proporcionar, tem consequências.

Dois efeitos são responsáveis pelo maior impacto nos portfólios de renda fixa.

O primeiro efeito foi a deflação que ocorreu no segundo semestre do ano passado. Os meses de julho, agosto e setembro apresentaram inflação negativa acumulada de -1,33%.

Isso fez com que a variação acumulada do IPCA no segundo semestre de 2022 fosse de apenas 0,28%. 

Desde 2000, apenas no primeiro semestre de 2020, quando ocorreu a pandemia, tivemos uma inflação tão baixa.

A consequência disto foi que títulos referenciados ao IPCA apresentaram resultado bem abaixo do esperado e abaixo do CDI. Temendo a persistência deste efeito, investidores fugiram para ativos que remuneram o CDI.

Títulos referenciados ao IPCA são alocação fundamental de portfólios com horizonte de longo prazo. É esperado que o CDI e Selic não rendam acima de IPCA+5% ao ano por muito tempo.

Portanto, cuidado ao preferir o CDI, olhando para o curto prazo, pois você pode comprometer anos de ganhos acima do CDI no longo prazo.

Curiosamente, o segundo efeito também só teve paralelo na pandemia de 2020.

Atualmente, vivenciamos uma elevação do spread de crédito só observada na pandemia. O spread de crédito é o retorno em excesso ao CDI que investidores demandam para aplicar em títulos de emissão privada.

De fato, ocorreram eventos de crédito inesperados neste primeiro semestre. Entretanto, assim como na pandemia, o nível do spread de crédito parece fora do normal e tende a reverter para a média de longo prazo.

Esta elevação de spread de crédito fez com que títulos e fundos de renda fixa marcados a mercado tivessem resultado pior neste primeiro trimestre de 2023.

Novamente, correr deste efeito, neste momento, é jogar fora uma oportunidade de curto prazo que poucas vezes ocorre e que tende a se reverter no curto prazo.

Assim como ocorreu no segundo semestre de 2020, é muito razoável esperar que o spread médio hoje em 2,9% ao ano, medido pelo Idex JGP, recue para 2,1% ao final do ano. Este recuo já promoveria ganhos excepcionais nos títulos e fundos de renda fixa.

Adicionalmente, como ocorreu em 2021, o recuo poderia continuar até 1,6% ao final de 2024, mantendo os ganhos excepcionais nestes ativos por pelo menos mais um ano.

Portanto, neste momento, também na renda fixa, investidores devem refletir sobre os ganhos futuros antes de realizar suas escolhas. 

Olhar para o passado recente pode estimular decisões que comprometerão o resultado de longo prazo de suas carteiras.



FOLHA DE SÃO PAULO
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