É
evidente a quebra de confiança entre a empresa de Mark Zuckerberg e
os usuários
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“Move fast and break things”, eis o motto que
agigantou o Facebook. A empresa seguiu-o à risca: mexeu-se rapidamente e
quebrou coisas. Só agora começa-se a entender direito o que foi quebrado.
Se alguém ainda acha que a vitória de Trump não passou pela rede
social é porque não está prestando atenção —e com isso cada um pode montar sua
lista de coisas quebradas.
Seja qual for essa lista, ela deverá contemplar a
evidente quebra de confiança entre o Facebook e os usuários. Nessa crise, a
reação da empresa foi tardia, insuficiente e atrapalhada. Começou com uma
falácia: a de que não teria havido “vazamento de dados”, uma vez que ocorreu
exatamente o que havia sido programado. Trata-se de elipse lógica. O buraco,
pois, é mais em cima.
Quem fica mais em cima precisou ser tirado quase a
fórceps do silêncio. Mark Zuckerberg pronunciou-se apenas nesta quarta (21), e
basta olhar os
comentários em seu post para perceber que não ganhou corações e
mentes.
O alcance do Facebook é sem paralelo. Tanto pela
quantidade de dados individuais que congrega quanto pelo porte mundial: 2,1
bilhões de pessoas utilizam seu serviço ao menos uma vez por mês (a título de
comparação, os católicos liderados pelo papa Francisco somam 1,3 bilhão).
No caso do Facebook, porém, os usuários não são nem fiéis nem
consumidores, já que nada pagam.
Uma boa definição para eles apareceu na boca de um
membro do Conselho de Administração do Facebook, Jan Koum, principal criador do WhatsApp,
adquirido pela empresa de Zuckerberg por US$ 19 bilhões.
Antes
de embolsar o dinheiro, ele era claro sobre o que achava de uma relação
“gratuita” como a existente entre o Facebook e seus usuários: “Lembre-se,
quando publicidade está envolvida, você é o produto”. Koum continua bem
quietinho no meio da crise. Mas a revolta dos produtos está ruidosa como nunca.
Roberto Dias - Jornalista, é secretário de Redação da área de Produção da Folha