Quem tem dinheiro está preocupado; quem não tem
está muito.
Orçamento em
elaboração, brechas no teto de gastos e frustração do mercado com as reformas
prometidas encurralam o Banco Central.
A elevação da Selic em um ponto percentual, para
5,25% ao ano, era aguardada. A piora da inflação corrente, mais do que se
supunha, e da inflação esperada no horizonte que a política monetária afeta já era dada.
O ambiente mais
tenso em relação à situação fiscal do país, o Orçamento em elaboração, as brechas no teto de gastos e a frustração
do mercado com as reformas prometidas encurralam o Banco
Central, reduzido a manipular a Selic para tentar atingir a meta de inflação.
Altas semelhantes,
ou maiores, apenas às vésperas do governo Luiz Inácio Lula da Silva, no
ambiente turbulento de 2008 ou em meados de 2001, com a incerteza da crise hídrica. Em outros momentos de alta, a
Selic teve ciclos no ritmo de 0,50 ou 0,75 ponto percentual por reunião.
Naqueles episódios,
estávamos longe das péssimas condições da economia atual.
Desemprego beirando
os 15% e renda das famílias em queda real; endividamento das famílias e das
empresas elevado sob qualquer perspectiva; expectativas sobre a atividade em
declínio, a partir de níveis já modestos.
A avaliação do
Copom, a necessidade de elevar os juros para evitar que a alta de preços se
generalize e a inflação saia da meta, se baseia em parte na
recuperação da economia.
A ideia é abortar a recuperação em seu papel
“inflacionário”. Uma economia que talvez tenha caído no segundo trimestre será
abafada nos meses adiante.
No limite, a medida
de risco adotada em tal regime é a taxa de juros de mercado, o misto de
inflação esperada e prêmio de liquidez.
Por mais que se negue, a experiência
recente ajuda a olhar para a taxa de câmbio e outros indicadores de risco.
Se, em 2018, o Copom resistiu à alta do dólar e
segurou a Selic sem perder a meta, hoje, a perspectiva de mais incerteza o leva
às cordas.
E a economia irá
junto. Como esperado, o Copom avisou que na próxima reunião a dose será a mesma
e que buscará juros acima do neutro, isto é, contracionistas.
Quem tem dinheiro
está preocupado. Quem não tem, muito preocupado.
FOLHA DE SÃO PAULO