As
perspectivas macroeconômicas para 2017 apontam um cenário ainda difícil,
marcado por muitas incertezas nos ambientes nacional e internacional, o que
contribuirá para frear uma eventual recuperação da atividade econômica ao longo
do próximo ano. As projeções foram feitas por economistas ontem (10) durante o
primeiro dia do 23º Seminário de Investimentos organizado
pela Capef, em Fortaleza, e que será encerrado nesta sexta-feira
(11). A queda efetiva da taxa real até chegar a um juro “neutro”
será um dos fatores decisivos para que se possa pensar em crescimento da
atividade econômica no Brasil a partir de 2018, diz a economista responsável
pela área de Gerenciamento de Ativos do Itaú, Mirela Sampaio. Mas, o ano de
2017 ainda será de muita discussão e acirramento de alguns problemas
macroeconômicos domésticos.
A taxa de
desemprego, por exemplo, que já registra 12 milhões de brasileiros em busca de
trabalho sem conseguir, assim como o aumento da informalidade que afeta a renda
e a segurança das pessoas, tendem a ser ainda mais agravados no próximo ano,
com o desemprego em alta até meados de 2017, projeta a economista. “A única boa
notícia por enquanto é relativa à inflação, que continua a ceder e deve ser
menor no primeiro trimestre do próximo ano, até porque os limites para
repasses de preços estão muito baixos”. Quanto à taxa Selic, o cenário hoje é
incerto e a próxima reunião do Copom pode trazer tanto uma redução de 0,25%
como de 0.50% mas o que importa de fato é a taxa real de juros paga pelo
Brasil, totalmente distorcida diante de um mercado global em que 80% dos
títulos das dívidas soberanas têm juros negativos.
Mundo
mais incerto - O mesmo diagnóstico foi feito pelo economista
responsável pela área de Gerenciamento de Ativos do Bradesco, Tiago Pereira,
que aponta 2017 como um ano difícil no caminho para o crescimento. O ambiente
externo também é um complicador uma vez que o crescimento mundial mudou
de patamar e os PIBs não crescem mais a níveis significativos. Essa mudança é
principalmente grave no que diz respeito à China porque impacta a exportação de
commodities pelo Brasil, já prejudicadas no momento pela valorização cambial.
“Sob o ponto de vista dos fundos de pensão e seguradoras internacionais, o juro
real negativo praticado hoje no mundo por um período longo de tempo pode
significar dificuldades expressivas para que eles entreguem suas promessas de
aposentadoria”, lembra Pereira.
O mundo
está mais incerto e há um acirramento do debate político glogal – que subiu
alguns graus com a eleição de Donald Trump nos EUA – para o qual ainda não há
respostas claras, observa o economista. “O mundo crescerá menos nos próximos 12
a 18 meses e , no mercado doméstico, vivemos o nono trimestre consecutivo de
retração da atividade com a desvantagem de que o setor externo agora perdeu a
vantagem da desvalorização do real frente ao dólar”, diz Mirela. “O consumidor
interno não voltará tão cedo ao consumo ou ao crédito, por conta do desemprego,
então fica difícil falar em recuperação para o próximo ano”. Ela vê, porém,
possibilidade de algum crescimento em 2018, apesar das pressões de um ano
eleitoral.
“Com a
NTN-B de 2050 pagando juro real de 5,60% ao ano, taxa bem abaixo dos 7,5% na
média do ano passado, começa a haver possibilidade de recuperar alguma
confiança mas os desafios ainda são grandes e o tempo político é muito
diferente do tempo econômico”, pondera Tiago Pereira. As projeções do Bradesco,
segundo o economista, apontam inflação de 4,9% e taxa Selic de 10,25% em
dezembro de 2017. O nível de juro real, então, está ainda muito acima da média
global em que os juros são próximos do zero ou negativos. As
possibilidades de retomada interna, segundo a tese do mercado financeiro,
partem de uma aposta no ajuste fiscal rigoroso negociado no Congresso, com o
congelamento dos gastos nos próximos 20 anos e reforma da previdência, entre
outros temas. “As projeções para a dívida bruta, por enquanto, são preocupantes
e mostram que ela continuará a subir chegando a 82,2% do PIB em 2018, então é
essencial discutir como chegar ao equilíbrio” , observa o economista.
Defesa da
previdência – A taxa de desocupação, queda da renda e menor consumo
criam um círculo vicioso na economia que dificulta qualquer prognóstico de uma
vida fácil para a previdência complementar em termos de atração de novos
participantes. A avaliação é do secretário adjunto da Secretaria de Políticas
de Previdência Complementar, José Edson da Cunha Júnior. Quando houver uma
melhora no cenário, a prioridade das famílias será recuperar o que tem sido
perdido nos últimos anos em planos de saúde, matrículas em escolas privadas e
outros itens considerados prioritários, só depois disso é que voltará a haver
interesse pela previdência.
A reforma
do Regime Geral, por outro lado, deverá motivar os brasileiros a pensar no tema
para compensar a renda perdida no INSS, argumenta o secretário. A reforma,
entretanto, ainda terá um longo caminho pela frente e será discutida ao longo
do próximo ano, devendo perder boa parte de seu rigor para chegar a uma fórmula
de meio termo entre o governo e o Congresso, diz Cunha Júnior.
Com menor
disponibilidade orçamentária, a poupança feita a título de precaução pelas
pessoas não é depositada em previdência complementar porque, embora os
planos ofereçam bons retornos, não tem a liquidez necessária para tempos de
crise. “Por isso aprovamos, por exemplo, a possibilidade de resgate parcial nos
planos instituídos, nossa proposta original era incluir também a autorização
para que as contribuições especiais feitas pelos participantes pudesse ter
liquidez mas o CNPC achou essa ideia ousada demais e não aprovou”, conta o
secretário.
Nesse cenário, ele lembra que a educação
previdenciária é item indispensável para as entidades que pretendam oferecer
perfis de investimento aos seus participantes. No check list de medidas a serem
adotadas pelas entidades ele inclui ações como a simplificação dos
produtos de previdência complementar: “Inovar sem perder o aspecto
previdenciário”; a necessidade de aperfeiçoar a comunicação; ter regulamentos
simples; manter uma política de investimentos alinhada com as expectativas dos
participantes; enfrentar riscos de forma pró-ativa e municiar os conselhos com
informações de maneira que eles possam cumprir suas obrigações, entre outros
Diário dos Fundos de Pensão