Vende-se: paz do aposentado por R$ 24 bi
Por R$ 6 bilhões
ao ano, INSS lucra com a folha e os dados dos aposentados
Embora não tenha
finalidade lucrativa, de 2009 para cá o INSS descobriu uma excelente fonte de
renda: a venda da folha de pagamento dos aposentados.
Os bancos se estapeiam
para pagar R$ 6 bilhões por ano e ter o direito de efetivar mensalmente o
pagamento de cerca de 437 mil benefícios previdenciários.
O país é dividido
em 26 lotes, considerando o número de concessões por microrregião. No leilão,
vence quem paga mais.
O problema é que nessa transação vai de brinde o sossego
do aposentado. Sem sua aquiescência, seus dados pessoais terminam sendo compartilhados
com outros bancos, quando não caem nas mãos de estelionatários para a prática
de fraudes contra os próprios aposentados.
Do ponto de vista
financeiro, é ótimo para o INSS e os bancos.
A terceirização da folha é
renovada a cada 5 anos, pelo custo de R$ 24 bilhões. Se o número de concessões
crescer, o valor aumenta. Mas tudo é usado apenas em gastos administrativos.
Já os bancos,
conquanto não divulguem com clareza seus ganhos, se investem tanto embolsam
muito mais.
Em entrevista à Folha, o presidente do INSS,
Alessandro Stefanutto, mencionou que só o mercado de empréstimo
movimenta mais de R$ 200 bilhões.
A lógica do banco
é fisgar o novo cliente em potencial.
O público-alvo do INSS, formado por
pessoas em vulnerabilidade social, é justamente o perfil de consumir produtos
do menu bancário.
Desde a tarifa mensal da conta até empréstimos, cartão de
crédito, cheque especial, capitalização, seguros e previdência privada.
Não bastasse tudo
isso, uma terceirização dessa magnitude permitirá que diferentes matizes de
pessoas, desde o gerente do banco até o estagiário da financeira, acessem dados
pessoais e sensíveis.
Parece óbvio que o risco de vazamento potencializa.
Coincidência ou não, o número de fraudes evoluiu. Em 2023 dados oficiais do
governo mostram que o número de golpes contra idosos aumentou mais de 70% no
país, se comparado a 2022.
Se antes já era
difícil o INSS, sozinho, controlar os dados. O que dizer agora? Não é por outra
razão que, a cada nova concessão, o aposentado é assediado imediatamente por
diferentes bancos oferecendo mútuo.
Esta abordagem simultânea e cíclica
confirma a fuga dos dados.
Embora a paz seja
um bem de valor inestimável, a do aposentado é comercializada pelo INSS sem ele
ganhar absolutamente nada com isso
Rômulo
Saraiva – articulista jornal FSP
FOLHA DE SÃO PAULO