A reforma
da Previdência vai abrir um novo mercado de administração das aposentadorias de
servidores públicos, e Estados e União se mexem para controlar esses recursos.
Se
aprovada da forma como propõe o governo, a reforma vai impor aos novos
funcionários públicos de Estados e municípios um limite de aposentadoria
semelhante ao do setor privado (hoje de R$ 5.531,31). Quem ganha mais que isso
e quiser aumentar a renda na velhice terá que aderir a planos complementares.
Em São
Paulo, a regra vale desde 2013 e a SPPrevcom já administra a aposentadoria de
19,6 mil servidores, cuja poupança soma R$ 630 milhões. No governo federal, em
vigor desde o mesmo ano, o fundo dos servidores do Executivo e do Legislativo
administra a aposentadoria de 37 mil participantes, um patrimônio de R$ 450
milhões.
Esses
recursos são aplicados em títulos públicos, ações de empresas e, quando
engordarem, irrigarão obras e projetos de infraestrutura, o que dará poder
econômico aos gestores desses recursos.
Tanto o
fundo de São Paulo quanto o federal se mexem para administrar as aposentadorias
de servidores de outros Estados e de municípios, que serão obrigados (hoje é
facultativo) a aplicar o teto para os novos funcionários e criar fundos de
previdência complementar.
Egresso
da Petros (fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, de onde saiu em
2003), Carlos Henrique Flory, presidente da SPPrevcom, prevê que em 20 anos o
fundo de São Paulo seja maior do que a Previ (poderoso fundo de pensão dos
funcionários do Banco do Brasil, uma das controladoras da Vale).
Isso
porque todos os novos servidores têm que aderir ao SPPrevcom para se aposentar
com benefício superior ao teto. São Paulo tem 650 mil funcionários públicos,
com idade média de 48 anos.
"A
capacidade de capitalização dos fundos dos servidores é brutal. Eles são hoje o
que eram os das estatais nos anos 1970", diz o executivo.
Flory diz
que o tamanho do potencial desses fundos ainda não foi calculado. Depende do
número de servidores que cada cidade, Estado e governo federal ganham mais do
que o teto do INSS e quantos vão querer ganhar o mesmo na velhice.
Segundo a
Previdência Social, 9,8 milhões de servidores (de todas as rendas) têm
aposentadoria administrada pelos governos, quase a metade por Estados. Nesta
esfera, poucos criaram fundos de previdência complementar.
No fim do
ano, uma leva de Estados atentaram para a novidade. Aprovado em dezembro, o de
Santa Catarina começou a operar neste mês.
Para o
diretor-presidente do fundo catarinense, Célio Peres, cada Estado vai
administrar seu território, agregando as aposentadorias das cidades da sua
região.
O Estado
de São Paulo começou a negociar com Rondônia, cidades do interior paulista e da
capital a administração dos recursos de seus servidores.
De acordo
com Flory, a ideia é criar conselhos gestores para cada um, com representantes
escolhidos pelos patrocinadores.
Ele
afirma que, do seu lado, está o inevitável custo que governadores e prefeitos
terão para montar seus próprios fundos de previdência complementar para
administrar poucos recursos.
"Algumas
leituras da reforma dizem que os fundos abertos [dos bancos] poderão
administrar os recursos dos servidores. Mas em um PGBL ou VGBL, qual seria a
participação do patrocinador na governança? Quase zero."
No fim do
ano, começou a tramitar na Câmara projeto de lei que autoriza o fundo do
governo federal (Funpresp) a administrar recursos de Estados e municípios.
O relator
Daniel Vilela (PMDB-GO) afirma que a iniciativa nasceu no Ministério do Planejamento,
que entende que municípios não terão condições de administrar a previdência
complementar de seus servidores.
O Piauí
aprovou, no fim do ano, a criação de seu fundo de previdência. Mas ele ainda
não começou a operar.
Segundo o
secretário de Administração, Francisco José Alves, o Estado queria aderir ao
fundo federal, mas sem a lei não é possível.
Segundo
ele, os governadores chegaram a sugerir a criação de um fundo federativo que
seria administrado pela Caixa, mas a ideia não prosperou em Brasília.
"O
volume de recursos para administrar não compensa. Estamos buscando parcerias
com municípios e Estados para criar um consórcio de gestão compartilhada",
afirma o secretário.
Ele diz, porém, que preferiria uma saída federal para
blindar as aposentadorias de novas crises estaduais. "Tamanho não tem sido
segurança de estabilidade, veja o Rio e o Rio Grande do Sul. Estamos melhores
que eles".
Folha de S. Paulo