Apesar das visões positivas para as ações no ano
que vem, gestores assinalam que a política fiscal e as medidas a serem adotadas
para trazer a dívida para uma trajetória sustentável seguem indefinidas e, por
conta disso, continuarão entre os principais pontos de preocupação no radar do
mercado.
Tomás Awad, sócio-fundador da gestora 3R
Investimentos, diz que vê uma continuidade do governo atual como um cenário com
um pouco mais de previsibilidade para a evolução da política econômica em 2023,
com a manutenção de Paulo Guedes no ministério
da Economia dando prosseguimento a agenda de caráter mais liberal do ponto de
vista econômico.
Em uma vitória do candidato petista, acrescenta
Awad, o nome forte do governo na economia ainda é uma incógnita, e será
fundamental para que seja possível ter uma clareza maior de quais serão as
principais diretrizes na área.
"Dependendo de quem for o ministro em caso de
uma vitória do PT, pode até ter uma lua de mel com o mercado nos primeiros
meses, até porque o estrangeiro tem uma memória positiva do governo Lula, mas o
cenário para frente é mais incerto", diz o gestor da 3R.
Awad afirma que vem mantendo as carteiras dos
fundos relativamente equilibradas. Há posições que podem ir melhor em um
cenário de reeleição, como as ações da Petrobras, que tendem a se destacar
com a perspectiva de uma privatização.
Mas também com apostas consideradas mais
defensivas, que devem ir bem em um cenário de volta do ex-presidente Lula, como
supermercados e fabricantes de medicamentos.
"Vemos um cenário de volta do Lula como mais
preocupante, em que temos que optar por um portfólio mais cauteloso", diz
o especialista.
Sócio fundador e gestor da GTI Administração de
Recursos, André Gordon afirma que tem hoje na Petrobras uma das principais posições
nas carteiras dos fundos.
Ele diz que, apesar da forte alta recente das
ações, e do risco político intrínseco ao ativo, a estatal segue em níveis de
preços atraentes, frente ao patamar elevado do petróleo no mercado
internacional, e a consequente geração de caixa robusta esperada para a
companhia nos próximos trimestres.
Ele afirma, contudo, que a possibilidade de
uma vitória do candidato petista Fernando Haddad ao
governo de São Paulo o levou a zerar recentemente a posição que vinha
carregando na Sabesp. "Se o Haddad ganhar, tem espaço para a Sabesp sofrer
muito na Bolsa", afirma Gordon.
Enquanto uma vitória do candidato Tarcísio de
Freitas, apoiado por Bolsonaro, poderia resultar em uma privatização da empresa de saneamento, se o próximo governador
for o ex-prefeito da capital, essa possibilidade é quase nula, diz o gestor da
GTI.
FOLHA DE SÃO PAULO