Teto de gastos não aguenta do jeito que está, diz
Arminio Fraga.
Ex-presidente do
Banco Central se diz preocupado com cenário fiscal.
Para Arminio Fraga,
ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, o teto de gastos não irá barrar o crescimento da dívida pública se
não for acompanhado de reformas.
“O Brasil tem hoje
uma âncora [fiscal] remanescente, que é o teto de gastos, que é uma âncora
mínima e até insuficiente se não for reforçada.
A dívida vai crescer mesmo que
o teto seja obedecido, e o teto do jeito que está não aguenta, o governo vai
ter que aprovar algumas reformas”, disse em evento virtual da XP nesta
segunda-feira
"Vejo o Congresso agindo de forma mais reativa do
que proativa.
Não é um cenário ideal. É um cenário movido por medo, por um
certo conservadorismo e instinto de sobrevivência", disse Fraga.
Neste cenário, ele
vê a possibilidade de aprovação de emendas constitucionais que ajudem no
equilíbrio fiscal, inclusive para redirecionar gastos para a área social.
“A resposta do governo
à Covid-19 foi enorme, mas veio com um custo. Brasil está com muita dívida e
isso é uma vulnerabilidade”, diz o economista.
Ele vê a reforma
tributária e uma reforma do Estado, com reformulação dos gastos públicos, como
de maior dificuldade.
"É um momento
político difícil. Existem inconsistências dentro do quadro, inclusive entre as
lideranças do país, algumas com uma cabeça mais liberal e outras não. É um
caminho difícil para 2022".
O economista diz
que o cenário global de juro baixo é um "combustível extraordinário"
para o crescimento do mercado de capitais, mas que o país não se beneficia
tanto do movimento pela situação econômica negativa de seus pares na América
Latina e pela imagem negativa com relação à proteção da Amazônia.
"O clima nas
Bolsas é quente. Talvez quente até demais.
É bom ter diversificação e
cautela", disse Fraga, que vê uma dissonância entre o mercado financeiro e
a economia real e espera uma recuperação modesta da economia em 2021.
FOLHA DE SÃO PAULO