Segundo o FMI,
rendimento per capita nesse patamar é marca simbólica de ascensão econômica
O Chile deverá encerrar 2018 como a primeira nação da América do Sul a
atingir uma renda per capita superior a US$ 25 mil em paridade do poder de
compra (PPC), medida que considera diferenças de custo de vida entre os países.
A ultrapassagem não será suficiente para fazer a economia chilena ingressar no
grupo que o FMI (Fundo Monetário Internacional) —responsável pela
projeção— classifica como avançadas. Mas é uma marca simbólica importante.
O próprio Fundo estabelece a faixa a partir de US$ 25 mil como a mais
elevada de renda nas representações gráficas que faz usando como indicador o
PIB (Produto Interno Bruto) per capita, aferido em PPC e em dólares correntes.
Esse grupo com poder de compra mais alto reúne, atualmente, 63 de 192 países
para os quais há dados. Com PIB per capita de US$ 16,1 mil nessa mesma medida,
o Brasil aparece no conjunto imediatamente anterior —dentre outras 4 faixas de
renda—, cujo poder de compra varia de US$ 15 mil a US$ 25 mil.
O maior nível de
desenvolvimento do Chile —que atingirá PIB per capita de US$ 25,9 mil neste
ano—, ajuda a explicar por que a economia do país inspira formuladores de
políticas públicas de outros países da região, como o futuro ministro da
Economia do Brasil, Paulo Guedes.
Ex-professor
universitário no país vizinho, Guedes citou, durante a campanha de
Jair Bolsonaro à presidência, o Chile como referência do modelo previdenciário de capitalização
para o qual ele defende que o Brasil migre gradualmente.
Em entrevista à
Globonews, o economista disse que esse sistema —pelo qual os trabalhadores
depositam sua poupança em contas individuais e financiam sua própria
aposentadoria— ajudou o Chile a se tornar "a Suíça
latino-americana" e "democratizou o acesso à riqueza".
Segundo dados do
"The Conference Board" norte-americano, a produtividade do
trabalhador chileno é, hoje, 73% maior do que a do brasileiro e 27% superior a
do argentino. No ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, o Chile
está no 33º lugar, entre 137 nações. O Brasil amarga a 80ª posição.
Apesar desses
aspectos positivos, a entrada da economia chilena no grupo de nações
desenvolvidas ainda é freada por uma série de barreiras. Como outras nações da
região, a pauta de exportações permanece concentrada em poucas commodities,
lideradas pelo cobre. Embora tenha avançado na tentativa de aumentar o valor
agregado de produtos básicos como frutas, a sofisticação da economia do país
não é alta.
Para pesquisadores
do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, em
termos de complexidade dos produtos que exporta, o Chile está em 64º lugar
entre 127 países, atrás do Brasil, da Colômbia e do Uruguai. A geografia do
país, com regiões de difícil acesso, é um outro desafio em termos de logística.
Além disso, nos
últimos anos, diferentes governos do país enfrentaram desgastes relacionados a
efeitos colaterais negativos de parte das reformas.
O sistema
previdenciário admirado por Guedes, por exemplo, tem levado à forte
insatisfação social, já que os aposentados pelo regime de
capitalização recebem, em média, bem menos do que o salário mínimo local.
Essas limitações
demonstram que o modelo chileno requer uma série de ajustes que demandarão
maior envolvimento do governo na economia, a exemplo do que fizeram os países
asiáticos que conseguiram convergir para patamares de renda mais alto nas
últimas décadas.
FOLHA DE SÃO PAULO