Ao lado dos desafios,
naturalmente presentes em uma conjuntura de tantas dificuldades como a
que o Brasil vive hoje, há oportunidades a serem exploradas e elas não são
poucas: o debate acerca da reforma da Previdência aguçou enormemente no
brasileiro a consciência em torno da importância dos planos previdenciários,
mesmo não tendo despertado inteiramente ainda para relevância da poupança
previdenciária a Fazenda é uma das pastas fortes do Governo e quando se mostrar
sensível a isso poderá fazer toda a diferença, o CNPC já está examinando a
implantação do mecanismo da “adesão automática” e em mais alguns meses a Abrapp
estará instituindo um fundo setorial e, como tal, abrindo a previdência
complementar fechada a novos públicos.
São muitas, portanto, as
chances de avançarmos nos próximos meses e anos, disse ontem, em Belo
Horizonte, o Presidente da Abrapp, Luís Ricardo Marcondes Martins, ao abrir os
trabalhos do Encontro Regional Leste 2017 e, um pouco mais tarde, ao
falar em um painel inteiramente voltado a ouvir as associadas. Ao seu lado, no
início da manhã na capital mineira, o diretor Guilherme Velloso Leão, deu as
boas vindas e ressaltou a importância do evento que se estava iniciando, uma
vez que no seu entendimento “momentos como esse permitem estarmos reunidos e
juntarmos esforços a partir de um diagnóstico nascido do mais amplo debate”. O
também Diretor Roberto Emílio de Senna sublinhou a necessidade de união.
Uma união ainda mais
necessária, prosseguiu Luis Ricardo, diante da pressão que vem de outros
interesses e que se manifestam, por exemplo, tanto na tentativa de através da
PEC 287 alterar o § 15 do artigo 40 da Constituição como nas dificuldades que
se vão criando quanto à definição das normas que regerão a transferência de
gestão de planos.
Ao mesmo tempo em que
certamente inconstitucional, proposta estabelece uma concorrência
desigual entre entidades fechadas e abertas, uma vez que estas últimas recebem
um tratamento tributário favorecido e podem investir em marketing,
enquanto as primeiras não. “Ninguém é contra a concorrência em si, mas a
disputa não poderia ser desigual como seria nesse caso”, resumiu Luís Ricardo.
Ele alertou para as perdas
que os servidores, na condição de participantes dos planos, poderão ter caso a
proposta passe como se encontra: nas entidades fechadas de previdência
complementar têm assegurada participação nos órgãos colegiados, entre outras
tantas garantias oferecidas por uma governança testada e aprovada, ao mesmo tempo
em que nelas todos os ganhos financeiros são revertidos em favor dos
trabalhadores, pois não há acionistas a remunerar.
Planejamento estratégico - Em seguida, o
superintendente-geral, Devanir Silva, apresentou a exemplo dos encontros
anteriores os pontos principais do planejamento estratégico da Gestão
2017-2019. Mostrou que disso resultaria, por exemplo, a conquista no período do
dobro de participantes dos planos, cujo contingente subiria para 5 milhões.
Explicou que figura na
agenda, entre outros objetivos prioritários, desenvolvermos uma visão
inovadora (aproveitar a reforma para reposicionar o modelo, buscar sinergia com
o mercado e fortalecer os laços com a comunidade internacional), fomentarmos a
cultura previdenciária (criarmos um novo valor para as entidades e planos e
desenvolvermos uma comunicação nova em todos os sentidos), conservarmos as
conquistas e trabalharmos por novos avanços (usar as reformas como oportunidade
para fazer pensar sobre a previdência complementar, buscando entre outras
coisas os necessários incentivos fiscais) e, por fim, ampliarmos a governança e
a qualificação (qualificarmos cada vez mais pessoas), avançarmos com a
autorregulação e valorizarmos o ato regular de gestão, ao mesmo tempo em que
desenvolvermos mais e mais o ambiente associativo.
Ouvir às associadas - No evento, que contou
com o patrocínio da BRAM – Bradesco Asset Management e Mongeral Aegon
(plus); BlackRock, Itaú e Santander Asset Management (basic); Banco ABC Brasil,
StepStone e i9 Advsory (co-patrocínio), e ao qual estiveram presentes
perto de centena e meia de dirigentes, os presidentes Luís Ricardo
Marcondes Martins (Abrapp), Jarbas de Biagi (Sindapp), o Diretor
Acadêmico da UniAbrapp, Nairam Félix de Barros, e o Diretor do ICSS, Rubens
Pimentel Scaff Júnior, ficaram à disposição das associadas, no
painel “Momento de Trocar para Somar-Ouvindo o Sistema”, para esclarecer e
dialogar, principalmente ouvir as associadas. E o nosso público participou ativamente,
com os debates alcançando questões como a dúvida sobre se a subordinação
ao Ministério Fazenda fortalece ou enfraquece o nosso sistema. A resposta dada
aos dirigentes foi no sentido de que basicamente o que há é um fortalecimento,
uma vez que a Fazenda não apenas é uma das pastas mais fortes do Governo, como
é aquela também que melhor pode entender o muito que a poupança previdenciária
poderá fazer pelo País, mas por outro lado é forçoso reconhecer que para isso
as autoridades fazendárias precisam mostrar-se mais sensíveis e se deixar
dominar por um pensamento essencialmente estratégico e de longo prazo.
O debate com as associadas
deixou entrever a expectativa de que o sistema volte a crescer impulsionado
pelo lado dos fundos setoriais, instituídos e dos servidores, ao mesmo tempo em
que mostrou ainda mais claramente a demanda pela descentralização da oferta de
cursos da UniAbrapp (algo que virá em boa parte através do ensino a distância)
e ao lado da preocupação em contarmos com quadros dirigentes, profissionais e
conselheiros cada vez mais qualificados.
Reforma e oportunidades - Na sequência veio o
painel “A Reforma da Previdência e as Oportunidades para a Previdência
Complementar”, onde ficou claro quais os principais caminhos de crescimento que
se abrem para o sistema. O primeiro expositor foi José Ribeiro Pena Neto,
Vice-presidente do Conselho Deliberativo da Abrapp, que retomou a ideia de que
o mais importante a fazer nesse momento é enxergar o atual momento como uma
oportunidade e nos prepararmos para aproveitá-las.
“O debate acerca da
reforma abre um canal de oportunidades”, ressaltou José Ribeiro, notando em
seguida que estar preparado para aproveitá-las significa antes de tudo “termos
a melhor regulação e produtos adequados”.
O expositor seguinte foi o
titular da Subsecretaria do Regime de Previdência Complementar, Paulo
César dos Santos. Ele notou inicialmente que a reforma deve abrir a
possibilidade de adesão de cerca de dois mil entes federativos ao regime de
previdência complementar. Segundo ele, “apenas oito estados já oferecem a
previdência complementar para seus servidores. Em pouco tempo serão dois mil
entes públicos que deverão oferecer planos de previdência complementar”, disse
Santos.
Ele acrescentou que a
postura deve ser proativa. “Não devemos ficar esperando eles virem até nós.
Temos que ir até eles”, defendeu o subsecretário. Ele incentivou ainda a
criação de novas modelagens de planos mais adaptadas às necessidades do mercado
de trabalho atual.
José Roberto Ferreira,
sócio-diretor da Rodarte Nogueira e Ferreira, seguiu por uma outra vertente em
cujo potencial a Abrapp aposta. Trata-se dos planos instituídos setoriais
oferecidos para associações e entidades de classe. “Os planos instituídos
setoriais representam um divisor de águas para retomar o crescimento do
sistema”, disse José Roberto.
Ferreira comentou a
proposta de criação de um plano setorial instituído pela própria Abrapp. A
associação pretende implantar um plano setorial no qual as entidades fechadas
poderão participar como afiliadas. A Abrapp terá o papel de instituidora e suas
associadas poderão aderir ao plano para oferecer aos dependentes dos
participantes. Informou que o novo projeto da Abrapp tem prazo de implantação
até agosto de 2017. O projeto inclui a seleção de uma entidade fechada já
existente para administrar o plano de benefícios, que será do tipo contribuição
definida.
O painel que veio em
seguida tratou do tema “Dinâmica dos Mercados: Foco em Oportunidades”, tendo
Luís Guedes, superintendente de renda variável da Bram – Bradesco Asset
Management, indicado que o momento do mercado deve levar ao aumento da
exposição à bolsa. “É o momento de aumentar a renda variável? Acreditamos que
sim. As reformas avançaram bastante e há um processo de ancoragem de inflação,
com a perspectiva de taxa de juros de um dígito”, disse Guedes. Por sua vez,
Camilo Cabianca Ramos, Vice-Presidente da Kinea Asset Management orientou os
seus comentários na direção de produtos que por sua flexibilidade tenham maior
capacidade de enfrentar as atuais incertezas da economia brasileira. Previu a
recuperação ainda que lenta do ambiente econômico, acompanhada do declínio da
taxa de juros.
Rodrigo Araújo, diretor
comercial da BlackRock, ressaltou a importância não apenas da alocação em
diferentes classes, mas a utilização de estratégias dinâmicas de investimentos
para capturar melhores retornos com riscos mais controlados. “Hoje o mercado
tem estratégias dinâmicas como smart beta para capturar crescimento na renda
fixa ou variável”, disse Araújo. O executivo recomendou ainda a busca de
utilização de estratégias ativas e passivas (beta) para obter maior eficiência
de custo nas aplicações.
Aquiles Mosca,
Superintendente Comercial da Santander Asset Management, reconheceu que nas
atuais circunstâncias a tendência natural é de um aumento na alocação em renda
variável. Hoje já temos projeções do Ibovespa em 85 mil pontos e o momento de
investir não deve tardar. Ele acredita que a bolsa deve gerar nos próximos
meses retorno maior que outras classes de ativos como multimercados e renda
fixa.
Mais governança - Antônio Carlos Bastos
D´Almeida, integrante da Comissão Técnica Nacional de Governança da Abrapp
convidou a todos no sistema “a pensar fora da caixa”. Isso significa, acrescentou,
buscar alternativas e soluções diferentes, ser criativo, algo não restrito
apenas à diretoria ou a algumas áreas da entidades mas a todos que nela
trabalham. “Todos devem ser convidados a participar”, resumiu D´Almeida.
Para ele, é isso que o
momento pede: “Reinventar para sobreviver”, através de uma postura
necessariamente e sempre que possível ativa.
Fernanda Mandarino
Dornelas, advogada e assessora jurídica da Previnorte, focalizou o
funcionamento da Câmara de Recursos da Previdência Complementar (CRPC) e a
defesa do “Ato Regular de Gestão”. Fernanda é representante de
patrocinadores e instituidores na CRPC e ressaltou a crescente importância que
a argumentação com base técnica vem adquirindo nos julgamentos da Câmara.
Como a completar o
raciocínio, Nélia Maria Campos Pozzi, integrante do Conselho Deliberativo da
Abrapp e atuando como moderadora do painel, notou que responsabilidade e
independência devem ser valores a orientar dirigentes e conselheiros,
naturalmente voltados para o fiel cumprimento de seus deveres fiduciários. E no
centro de tudo deve estar o ato regular de gestão, visto como sempre como a
melhor prevenção a evitar problemas futuros.
A transferência de risco
de planos de benefícios de entidades fechadas para as seguradoras foi o assunto
tratado por Andrea Levy, consultor da Presidência da Mongeral Aegon.
Aproveitando a experiência de mercados mais desenvolvidos, o especialista
explicou os principais mecanismos de terceirização do risco dos planos para o
mercado segurador. As regras para a transferência de risco estão em fase final
de elaboração pelos órgãos reguladores do mercado brasileiro.
Fábio de Sousa Coelho,
diretor superintendente substituto da Previc, abordou os temas da governança e
autorregulação das entidades fechadas em sua participação no painel. Em relação
à autorregulação, ressaltou a importância do trabalho da Abrapp e a escolha da
governança dos investimentos como primeiro item do novo código da associação.
“A principal fonte de risco
tem origem no processo decisório de investimentos”, disse o titular da Previc.
Ele ainda explicou o novo desenho da Previc a nova divisão de diretorias. A
principal novidade é a criação de uma diretoria de normas, que deve ampliar o
poder de discussão sobre o arcabouço normativo do sistema.
Fábio reafirmou a
importância de as entidades terem uma estrutura de governança robusta,
incorporando a gestão baseada em risco, que é a outra face da supervisão
baseada em risco.
Destacou a montagem na Previc de uma estrutura
de supervisão prudencial, cujo foco principal não reside na fiscalização mas
sim na capacidade da autarquia de fomentar nas entidades a melhor gestão.
Na medida em que estas se orientarem pelas melhores práticas, assumindo maior
parcela de responsabilidade, sendo uma delas a adesão ao Código de
Autorregulação em Governança de Investimentos, a Previc ficará mais livre para
agir com maior proveito, explicou Fábio.
Diário dos Fundos de Pensão