'Lei antiganância' limita o que financeira pode
cobrar.
Medidas citadas por
Ciro Gomes na TV foram implantadas no Reino Unido para aliviar inadimplência.
A "lei
antiganância" —termo criado e citado pelo candidato Ciro Gomes (PDT) no
Jornal Nacional desta terça (23)— está em uso no Reino Unido desde 2015.
Conforme
disse o presidenciável, o cidadão que pagar o
equivalente a duas vezes sua dívida tem seu débito saldado.
No entanto, a
medida inglesa não serve para qualquer dívida e é bem específica: seu alvo é o
high-cost short-term credit (HCSTC, ou crédito de curto prazo e alto custo).
Nesse tipo de empréstimo, o cliente não precisa apresentar garantias e pega
dinheiro basicamente para sobrevivência no dia a dia.
A média desses
empréstimos é de £ 100 (R$ 605) —valor que baixou para £ 60 (363) após a
implantação das novas medidas em 2015. Antes, os juros chegavam a 4% ao dia, e
o dinheiro poderia ser pago em 30 dias ou em 12 meses.
O HCSTC é um
empréstimo não oferecido pelos bancos ingleses. Quem o pratica são financeiras privadas.
Segundo estudo da Financial Conduct Authority (FCA), que regula as leis
financeiras no país, 37 dessas empresas respondem por 99% dos empréstimos
HCSTC.
Em dezembro de
2013, o Parlamento pediu que a FCA criasse um regulamento para proteger os
endividados dos juros excessivos.
A agência, então, estabeleceu três limites
para o HCSTC: que os juros máximos ao dia sejam de 0,8%; que as multas por não
pagamento não excedam £ 15 (R$ 90); e, finalmente, que os juros totais não
ultrapassem 100% do dinheiro emprestado.
É neste último limite que a equipe de Gomes se inspirou para
criar a "lei antiganância". "Estamos dizendo que, se você pagou
o dobro do que pegou, a dívida estará liquidada", disse o coordenador do
programa de governo do presidenciável, o economista Nelson Marconi.
Marconi explica que, caso seja implantada, a "lei
antiganância" não seria retroativa, ou seja, quem está devendo, já pagou
três vezes a dívida e ainda continua endividado não seria beneficiado.
"No
entanto, essa pessoa poderá pegar um novo empréstimo [após a implantação das
novas regras] e, com esse dinheiro, pagar o antigo que tem juros
abusivos", disse.
FOLHA DE SÃO PAULO