O caminho
para o reequilíbrio das contas públicas esbarra na Previdência Social. Num
contexto de baixo crescimento econômico e de envelhecimento da população, o
déficit das aposentadorias e das pensões representa o principal desafio para a
equipe econômica, ao responder por quase a totalidade do rombo das contas do
governo em 2016.
No ano
passado, o Governo Central – Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco
Central – registrou déficit primário de R$ 154,2 bilhões. Desse total, R$ 149,7
bilhões (97%) vieram exclusivamente da Previdência Social. Os R$ 4,5 bilhões
restantes que compõem o rombo foram obtidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco
Central (BC).
O
resultado primário é a diferença entre as receitas e despesas nas contas do
governo antes do pagamento dos juros da dívida pública. A deterioração das
contas públicas acompanhou o crescimento do déficit da Previdência. Em 2011, o
rombo nas contas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) totalizou R$
51,3 bilhões. O superávit primário de R$ 186,3 bilhões do Tesouro e do BC, no
entanto, foi mais do que suficiente para cobrir o déficit da Previdência.
A
situação continuou positiva até 2013, quando o INSS fechou o ano com um
resultado negativo de R$ 64,4 bilhões, contra superávit de R$ 162,9 bilhões
obtido pelo Tesouro e pelo BC. O problema começou em 2014, quando o superávit de
R$ 68,9 bilhões do Tesouro e do BC foi, pela primeira vez desde o início da
série histórica, insuficiente para cobrir o déficit de R$ 68,5 bilhões da
Previdência.
A
recessão econômica de 2015 e 2016 piorou a situação. Com o aumento do
desemprego, menos trabalhadores passaram a contribuir para o INSS, fazendo o
déficit da Previdência saltar. Apesar de as receitas do INSS poderem se
recuperar daqui a alguns anos caso a economia volte a crescer, a professora
Vilma Pinto, do Núcleo de Economia do Setor Público do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), diz que o país precisa se
debruçar sobre as contas da Previdência.
“Numa
situação em que a receita [da Previdência] varia conforme o ciclo econômico e
as despesas [aposentadorias, auxílios e pensões] são rígidas, alguma reforma
tem de ser feita para impedir problemas no médio e no longo prazo. A população
está envelhecendo e, daqui a algumas décadas, a contribuição dos trabalhadores
na ativa será insuficiente para pagar os benefícios da Previdência”, alerta a
professora.
Ao
explicar os resultados das contas do Governo Central em 2016, a secretária do
Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, disse que o déficit piora se levar em
conta a Previdência dos servidores públicos. O regime próprio para o
funcionalismo federal passou por reformas em 2003 e em 2012, com a criação de
uma Previdência Complementar que pôs fim às aposentadorias integrais
.
“O regime
próprio [de Previdência] dos servidores públicos está estabilizado em termos
reais [corrigidos pela inflação], mas não o regime geral [INSS]. Se somarmos o
déficit do regime geral com o déficit do regime próprio, a gente fala em R$ 220
bilhões, que é uma cifra expressiva. Daí a importância das reformas que estamos
discutindo agora”, declarou Ana Paula. No ano passado, a Previdência dos
servidores federais registrou rombo de R$ 78,5 bilhões.
Seguridade
social
Apesar de
o déficit da Previdência ser considerado o principal problema das contas
públicas, diversos economistas, entidades e sindicatos contestam o rombo no
INSS. Na última segunda-feira (13), o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais
da Receita Federal (Sindifisco Nacional) soltou um” target=”_blank”> vídeo
em que informa que não existe déficit na Previdência Social ao considerar todas
as fontes de financiamento, não apenas as contribuições de patrões e empregados
ao INSS.
Para Vilma Pinto, o argumento de que não existe rombo
nas aposentadorias e pensões é uma questão conceitual entre quem mistura as
contas do INSS com as da Seguridade Social, que engloba, a assistência social e
a saúde, além da Previdência. “Do ponto de vista contábil, ao se considerar
receita previdenciária apenas as contribuições ao INSS, existe déficit, sim. E
ele é considerável. Ao cobrir o rombo da Previdência com as demais receitas da
seguridade social e com receitas não vinculadas, o governo gasta menos em
outras áreas”, diz.
IstoÉ