Visão sustentável em fundos de pensão: o hoje e o depois


Cerca de 3 centenas de pessoas, de mais de 100 diferentes organizações, se reuniram na quarta-feira (26) na sexta edição do EGPC – Evento Mercer GAMA de Previdência Complementar, realizado em Brasília – DF. O tema desta edição do encontro foi “O novo modelo de acúmulo de riquezas e de geração de renda na aposentadoria”, que contou com a participação de autoridades governamentais, gestores e técnicos de fundos de pensão, representantes de empresa de consultoria, auditoria e seguradoras.

 

 

As exposições e debates foram organizadas em três painéis, nos quais se encarou o desafio de se propor novos modelos e visões para assegurar a sustentabilidade no longo prazo do sistema previdenciário brasileiro.

 

Na abertura do evento, Antônio Fernando Gazzoni, diretor da Mercer responsável pela Mercer GAMA, deu a tônica do debate: “Vivemos um cenário de transformações em questões políticas, econômicas e sociais, mudanças estruturais e inexoráveis.” Ainda, afirmou que,  para assegurar o cumprimento dos benefícios prometidos e os da próxima geração, demanda-se um novo modelo que assegure a carreira, riqueza e saúde das pessoas.

 

Na sequência, Eduardo Ragasol, Líder da Mercer na América Latina, mencionou alguns fatores que impulsionam a necessidade de mudanças no mercado previdenciário, como os avanços na medicina e o perfil das novas gerações que estão sendo inseridas no sistema, exigindo maior flexibilidade e empoderamento frente aos produtos oferecidos.

 

Após a abertura do evento, deu-se início ao 1º painel, que contou com o convidado internacional Tom Murphy, US DC & Financial Wellness Leader da Mercer em Massachusetts, EUA. As reflexões deste painel se deram sobre o tema “o novo modelo de acúmulo e de geração de renda para a carreira, saúde e riqueza das pessoas”.

 

 

 

Nova estrutura dos planos – A mudança de perfil dos sistemas previdenciários, assunto constantemente abordado ao longo do evento, teve um enfoque especial no primeiro painel. Tom Murphy demonstrou, com base em números do mercado dos Estados Unidos, a transição de planos BD para planos CD do tipo corporativo, e mais recentemente o crescimento das IRA’s (Individual Retirement Accounts), de caráter individual.

 

 

Além disso, o palestrante abordou a transferência de risco para as seguradoras, que aumentou significativamente desde 2012, e com projeções de crescimento para os próximos anos. Ainda, deu continuidade à sua fala apresentando algumas tendências esperadas para o mercado, com enfoque em soluções CD, que incluem a simplificação dos investimentos, maior transparência, arquitetura aberta e ainda alguns mecanismos para maior engajamento dos participantes, como a adesão automática e o reajuste automático das contribuições (auto escalation).

 

 

Num terceiro momento da palestra, Tom Murphy trouxe à tona a questão do “Bem-Estar Financeiro”, afirmando que os empregadores e governo podem contribuir para o sucesso financeiro das pessoas. Além disso, foram abordadas as novas perspectivas de soluções para as futuras gerações, como os robo-advisers e soluções de fin tech.

 

 

 

Transformações - Dando sequência ao evento, o 2ª Painel, “Transformações em curso e seus reflexos na previdência complementar brasileira”, foi mediado por José Ribeiro Pena Neto, Presidente da Abrapp, o qual reforçou a necessidade de adequação do sistema às mudanças regulatórias e tecnológicas, reforçando que o tema “interessa inclusive aos que ainda não nasceram”.

 

 

O primeiro palestrante convidado deste painel foi Marcelo Abi-Ramia Caetano, Secretário de Previdência do Ministério da Fazenda. Foram abordadas em sua explanação as propostas de reforma da Previdência Social, impulsionadas pela necessidade de se ter sustentabilidade, isto é, de se “assumir promessas factíveis, que tenhamos condições de cumprir. Esse é o principal objetivo do ajuste”.

 

 

Sobre a Previdência Complementar, o Secretário deu destaque às mudanças ocorridas nas aposentadorias dos servidores públicos. Ainda, reforçou a visão do pilar “não como substituto do pilar social, mas como complemento”, e antecipou que num futuro próximo devem ganhar maior destaque na pauta das discussões do CNPC as questões das submassas e de transferência de gerenciamento.

 

 

A segunda palestra que compôs o painel foi ministrada por Guilherme Abbud, Superintendente de Renda Fixa e Multimercados da Bradesco Asset Management. Segundo ele, apesar de não ser a ideia inicial, dada a conjuntura atual, é possível enxergar uma tendência de normalização das taxas de juros. O caminho natural, afirmou, é de que elas voltem a patamares mais baixos do que os atuais, ainda que maiores do que as praticadas na maioria dos demais países.

 

 

O palestrante destacou a necessidade de se reconstruir a maneira como construímos os portfólios atualmente, migrando de carteiras com foco majoritário em títulos “atrelados ao CDI”, para categorias mais ligadas a crédito e bolsa de valores. Corroborando a sua fala, mencionou o efeito compensatório entre os bonds e equities observado em outros países, e afirmou que mesmo em tempos de agitação na economia, um portfolio balanceado tem condições de obter bons retornos.

 

 

 

Novos caminhos - Diante do contexto e apresentados os desafios a serem enfrentados, outro painel trouxe as visões institucionais sobre os assuntos abordados. Mario di Croce, do IRB Brasil-RE,  mediador do painel “O fundo de pensão do amanhã e a construção de novos caminhos”, comentou que a sinergia deve ocorrer entre as indústrias de seguros e previdência, e que por meio da união destas é que se conseguirá a mitigação dos riscos hoje enfrentados.

 

 

Dando início às exposições do terceiro painel, Edevaldo Fernandes, Diretor Presidente da Fundação Libertas, abordou em sua fala a necessidade de se transformar o ambiente em que estão inseridos os fundos de pensão. Segundo a sua visão, há de se entender as complexidades do sistema, como os diferentes perfis dos atores, as modelagens e questões de cunho técnico, como a precificação do ativo e do passivo e a dicotomia dos investimentos.

 

 

Como objetivos a serem perseguidos pelas EFPC, Edevaldo destacou a busca por flexibilidade no uso dos recursos e redução dos custos, de modo a atender os anseios das novas gerações. No mesmo contexto, enfatizou a necessidade da aplicação da TI como aliada das operações e da gestão. Ainda, dada a concretude dos desafios, finalizou sua fala afirmando que o sucesso frente aos novos desafios depende das ações a serem tomadas hoje. “É preciso juntar pessoas, organizar-se, planejar e aplicar o planejamento. Sem todos, não teremos êxito. Com todos, será penoso, mas teremos êxito.”

 

 

Dando sequência ao painel, Carlos de Paula, Diretor da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, mencionou alguns avanços significativos ocorridos no sistema nos últimos anos, e afirmou que a atual conjuntura pode ser vista como oportunidade para gerar novos produtos que reflitam a nova realidade do país. Como aspectos necessários ao cenário futuro, destacou a velocidade, a transparência e a portabilidade. Por fim, afirmou que “a cobertura previdenciária tem que integrar a sociedade e, como agente econômico, independentemente da finalidade econômica, fazer a diferença na vida das pessoas”.

 

 

Helena Venceslau, Diretora de Supervisão de Conduta da SUSEP, complementou apresentando números do mercado segurador que, segundo sua visão, é reflexo dos avanços na educação financeira. Ainda, trouxe à discussão o advento da Resolução CNPC 17/2015 e citou que está em elaboração uma nova norma, com o objetivo de atender os anseios dos Fundos de Pensão por novos produtos, cuja minuta deve ser disponibilizada para consulta pública nas próximas semanas.

 

 

Como representante da Previc, Esdras Esnarriaga, Diretor-Superintendente Substituto da autarquia, compartilhou com os presentes algumas visões de futuro para as Entidades, o ente regulador e demais agentes do mercado. Segundo o palestrante, as demandas para o sistema de previdência do futuro englobam maior segurança, individualidade e comparabilidade.

 

 

Como visões do órgão fiscalizador, estão uma fiscalização permanente e transparente, e um regramento direcionador, mais distante da análise de conformidade e mais voltada à orientação dos atores. Reforçou, por fim, que a necessidade de mudança requer ação imediata, caso contrário as mesmas discussões continuarão presentes nos próximos 15 ou 20 anos. 



Diário dos Fundos de Pensão
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