Diferente do S&P500, o investimento no Ibovespa
não compensa em janelas de longo prazo
Estudo mostra que
Ibovespa perde do CDI em quase 70% das janelas de 120 meses desde 1995.
Todos já ouviram falar que, ao investir na
Bolsa, o horizonte deve ser de longo prazo.
Entretanto, diferentemente dos
resultados da Bolsa americana, essa abordagem não tem funcionado quando o
investimento é no Ibovespa.
Quando falo com
investidores sobre investir na Bolsa brasileira, muitos logo pensam nos ETFs
que replicam o Ibovespa ou em fundos passivos no índice.
Atualmente, há vários
negociados na B3: BOVA11, BBOV11, BOVX1, IBOB11, BOVB11, XBOV11 e BOVV11.
Muitos preferem
estes ETFs e fundos passivos de Ibovespa devido a baixa taxa de administração.
Entretanto, os resultados abaixo mostram que essa economia em taxa pode ter um
alto custo.
Como qualquer
ativo de risco, a compensação pelo risco deve vir por meio de um retorno acima
da taxa básica de juros, por exemplo, Selic e CDI para o caso brasileiro.
Todos compreendem
que a volatilidade de curto prazo pode levar a resultados desfavoráveis para
ativos de risco.
Entretanto, seria de se esperar que, em janelas de longo
prazo, por exemplo, de 10 anos, o Ibovespa superasse o CDI mais de 50% das
vezes.
No entanto, uma
pesquisa que elaborei aponta que quando avaliamos o longo prazo no Brasil, o
investimento no Ibovespa não se mostra vantajoso.
Desde dezembro de
1995, ocorreram 222 janelas de 120 meses, ou seja, de 10 anos. Em apenas 70
dessas janelas o Ibovespa ganhou do CDI, ou seja, em apenas 31,5% das vezes.
Ao contrário do
que a teoria determina, o Ibovespa se sai melhor em janelas de mais curto
prazo. Desde 1995, em janelas de 1, 3 e 5 anos, o Ibovespa superou o CDI em
49,7%, 41,5% e 42,6% das janelas, respectivamente. Entretanto, sempre abaixo de
50% das vezes. Ou seja, na maioria das vezes, perde-se para o CDI.
No mesmo intervalo
de tempo e seguindo os mesmos prazos, comparei o retorno do S&P500 com o
dos Fed Funds, ou seja, o principal índice da Bolsa americana versus a taxa
básica de juros americana.
Os resultados são bem distintos do índice
brasileiro. Desde 1995, em janelas de 1, 3, 5 e 10 anos, o S&P500 superou a
taxa dos Fed Funds em 73,3%, 72,8%, 63,8% e 77,9% das janelas, respectivamente.
Perceba que, em
todas as janelas, o investimento de risco para o americano compensa o risco em
probabilidades maiores que 50%. No longo prazo, ou seja, 10 anos, as chances
convergem para quase 80%.
Enquanto o
Ibovespa perde do CDI em quase 70% das janelas de 120 meses, o S&P500 ganha
dos Fed Funds em quase 80% das janelas no mesmo período. Esta é uma dura
realidade que o investidor brasileiro de Bolsa tem enfrentado.
Esta diferença de
resultados entre as Bolsas dos EUA e do Brasil pode ter duas justificativas
básicas. Primeiro, as taxas de juros no Brasil são elevadas o suficiente para
não compensar correr risco.
Por várias vezes argumentei aqui nesta coluna que
um investimento em renda fixa com retorno de IPCA+6% ao ano isento é quase
imbatível no longo prazo.
A segunda razão
que muitos atribuem a essa diferença de resultados é a ponderação do Ibovespa.
Muitos analistas culpam o grande peso que o principal índice de ações
brasileiro tem em setores e empresas que não possuem perspectiva favorável de
longo prazo.
Mesmo com esses
resultados, ainda acredito que existam oportunidades na Bolsa brasileira.
Entretanto, é importante que o investidor entenda dois pontos. Primeiro,
claramente o balanço de retorno por risco é menos favorável aqui do que no
exterior.
Segundo, se optar por investir na Bolsa no Brasil, pense duas vezes
antes de investir por meio dos ETFs de Ibovespa citados acima ou em fundos
passivos de Ibovespa, pois as probabilidades se mostram desfavoráveis quando
avaliamos os dados históricos.
Também, antes de
investir, assegure-se de que seu perfil de investidor está adequado ao risco do
investimento em ações.
FOLHA DE SÃO PAULO