Com o
envio ao Congresso Nacional da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que
modifica profundamente as regras de aposentadoria, o presidente da República,
Michel Temer, procura demonstrar a firme disposição de seu governo de enfrentar
os graves problemas que afetam o País no presente e, se não resolvidos a tempo,
ameaçam a estabilidade econômica no futuro. Ao propor medidas absolutamente
necessárias, mas que dificilmente lhe proporcionarão prestígio popular, age com
a determinação que se espera de um governo responsável diante das dimensões da
crise que o País enfrenta e responde aos que, com insistência crescente, o
consideravam inapto para a tarefa.
As
despesas com o pagamento das aposentadorias e pensões crescem num ritmo muito
maior do que o da evolução das receitas, gerando desequilíbrios cada vez
maiores nas contas do sistema previdenciário e que se tornarão insustentáveis
dentro de algum tempo, como lembrou o presidente em encontro com líderes da
base aliada no qual anunciou sua decisão de propor imediatamente a reforma da
Previdência Social.
O rápido
envelhecimento da população é um importante sinal da melhoria da qualidade de
vida do brasileiro, pois faz aumentar a expectativa de vida. Mas essa mudança
no padrão demográfico do País tem custos. Como lembrou o secretário da
Previdência Social do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, para cada 100
pessoas em idade ativa (de 10 a 64 anos), há cerca de 12 idosos (com 65 anos ou
mais). As projeções do IBGE, com base na evolução do padrão demográfico,
indicam que em 2060 haverá 44 idosos para cada 100 pessoas em idade ativa.
O que
esses números mostram é que, em menos de 50 anos, haverá proporcionalmente
muito mais gente (quase o quádruplo) recebendo benefícios sustentados pelo
mesmo número de contribuintes, o que tornará muito mais difícil o financiamento
do sistema.
Se hoje
ele já é bastante desequilibrado, com a geração de déficits crescentes, pode se
imaginar como ficará nos próximos anos caso nada seja feito desde já. Por isso,
a PEC da reforma da Previdência, que recebeu o número 287, contém modificações
importantes nas regras para a obtenção da aposentadoria. O objetivo, disse o
secretário da Previdência, é fazer uma reforma que dure muitos anos, até as
futuras gerações, sem necessidade de mudanças fundamentais, “uma reforma
perene”.
A
proposta é balizada por dois princípios, o primeiro dos quais é o respeito
total a qualquer direito adquirido. Como disse Temer, direitos adquiridos são
“inatacáveis”. O secretário de Previdência, de sua parte, deixou claro que
“nada, absolutamente nada, se altera para quem recebe aposentadoria ou pensão e
também para quem já completou as condições de acesso”. O segundo princípio é o
de que todos vão contribuir, sem exceção. Como disse Caetano, “de uma forma ou
de outra, todos contribuem: políticos, servidores públicos, não servidores; as
regras serão iguais para todos”.
Entre os
pontos principais da reforma estão a idade mínima para se aposentar, de 65 anos
para homens e mulheres. Pelas regras propostas, quem desejar se aposentar
recebendo o teto do INSS terá de contribuir por 49 anos, pois a regra de
cálculo do benefício prevê direito a 76% do teto com 25 anos de contribuição,
taxa que aumenta 1 ponto porcentual por ano adicional de contribuição.
A PEC
prevê a criação de uma lei de responsabilidade previdenciária que deverá
prever, por exemplo, sanções para Estados e municípios que tiverem regime
próprio de previdência e não criarem um regime de previdência complementar no
prazo de dois anos.
Como previsto, são fortes as resistências de
dirigentes sindicais às mudanças propostas. Eles prometem pressionar o
Congresso no sentido de rejeitá-las. Se isso ocorrer, o País terá perdido mais
uma oportunidade de pavimentar o caminho para um futuro menos turbulento na
área fiscal e estará se condenando a rediscutir o assunto dentro de algum tempo.
O Estado de S. Paulo