Com a
perspectiva de queda acentuada dos juros em 2017, os fundos de pensão, que
administram um patrimônio de mais de R$ 750 bilhões, terão de buscar alternativas
de investimento com remuneração mais elevada que a dos títulos públicos para
cumprir suas metas de rentabilidade. Para isso, devem procurar aplicações de
maior risco, como os fundos multimercados, ações e títulos privados.
Com a
Selic de 14,25%, que vigorou até outubro de 2016, e a inflação medida pelo
INPC, que fechou 2016 em 6,58%, foi possível bater a meta atuarial — em geral,
INPC mais 5% no ano. Mas, à medida que os juros caem, a Selic já está em 13%,
alcançar essas metas ficará mais difícil.
— As fundações continuarão privilegiando o
conservadorismo, mas, com a redução dos juros e a inflação controlada, as
entidades tendem a rever, aos poucos, as suas aplicações e a buscar outros
segmentos — diz Luís Ricardo Martins, presidente da Associação Brasileira das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).
Marcus Moreira, diretor de investimentos da Previ
(fundo de pensão do Banco do Brasil, que tem mais de R$ 165 bilhões em
patrimônio), confirma que a instituição tem interesse em voltar a comprar
títulos privados.
— Com o potencial de volta da economia em 2017,
existe a expectativa de mais emissões por parte das empresas, e a Previ tem,
sim, interesse nesses papéis, mas desde que o risco seja condizente com a nossa
política — explica.
No Petros, o fundo dos funcionários da Petrobras,
também haverá migração de investimentos, mas priorizando ainda os títulos
públicos. Segundo o presidente da fundação, Walter Mendes, é possível bater a
meta atuarial apenas com a aplicação em papéis do governo corrigidos pela
inflação, as NTN-Bs. Com a redução dos juros, ele vê uma atuação mais ativa dos
gestores do Petros, com apostas em prefixados.
— Vai ser uma gestão mais ativa. Ainda dá para
aproveitar os títulos públicos, enquanto o rendimento estiver acima da nossa
meta atuarial — pondera, acrescentando que, no fundo dedicado aos funcionários
que entraram depois de 2007, há a possibilidade de aumentar a exposição em
ações, que hoje é de 8% do patrimônio e pode chegar a 15% pelo plano de
investimento.
Jorge Simino, diretor de investimentos da
Funcesp, o fundo dos funcionários da Cesp, explica que, desde o final do ano
passado, vem aumentando suas aplicações em fundos multimercados. Cerca de R$
350 milhões já foram direcionados a essas aplicações, e o volume deve chegar a
R$ 800 milhões em 30 dias. Também houve uma alocação menor em ações, de R$ 100
milhões.
— Está claro que vamos ter de fazer essa mudança,
mas a migração vai depender da velocidade e do tamanho da queda da Selic.
Conforme cair, teremos de tomar mais risco — afirma.
O apetite das fundações por ativos de maior risco
também deve ajudar a trazer maior liquidez ao segmento de títulos privados no
mercado de capitais.
— Há três anos, as fundações não têm uma participação
expressiva no mercado de dívida local. Com a queda do juro, eles devem migrar
para o crédito privado. Isso vai ajudar a alongar os prazos das emissões —
avalia Leandro Miranda, diretor do Bradesco BBI.
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