Participantes
de um dos planos de previdência do Fundo Banespa de Seguridade Social
(Banesprev) protestaram no Senado contra cobrança de contribuições extras para
cobertura de deficit e pagamento de aposentadorias futuras. Eles alegam que os
integrantes do chamado Plano 2 estão sendo obrigados a arcar com aumento de
cobranças muito acima do esperado.
Segundo o
presidente da Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, Camilo
Fernandes dos Santos, houve gente que contribuía mensalmente com R$ 132 e agora
paga mais de R$ 500. Quem pagava quantias baixas, na faixa de R$ 30, passou a
ter que cumprir com mais de R$ 250. " Estamos prestes a completar 16 anos
da privatização do Banespa. Antes da privatização, já havia estudos que
apontavam para possíveis problemas no Plano 2 [...] O Santander sempre prefere
judicializar. Registro que não vamos aceitar solução que traga prejuízo aos
trabalhadores e aposentados", afirmou.
O
representante da Associação dos Funcionários Aposentados do Banespa (Afabesp),
Eros Autorio de Almeida, disse que o problema é causado principalmente pela
recusa do Santander em pagar o chamado serviço passado, que permitiria a
quitação dos prejuízos do Plano 2, quando passou a receber beneficiários do
Plano 1.
"No
Plano 1, o patrocinador [banco] era responsável por tudo, não havia
contribuição dos trabalhadores. No Plano 2, é diferente, há participação das
duas partes. O resultado é que muitos colegas se aposentaram pelo Plano 2 com
pouco tempo de contribuição. Quem migrou trouxe apenas o passivo. O plano 2
passou a ser responsável por algo pelo qual não tinha reserva matemática. A
responsabilidade é do patrocinador", explicou.
O
conselheiro deliberativo do Banesprev, Walter Antonio Alves de Oliveira,
informou que o deficit atual é de R$ 1,7 bilhões, valor alto e difícil de ser
pago, segundo relatou. "Não é possível que não haja serviço passado se no
Plano 2 houve pessoas aposentando com poucos meses de trabalho e contribuição.
Sem esse aporte do serviço passado, fica difícil manter".
Para o
secretário de Comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, o edital de
privatização do Banespa foi muito generoso com o comprador e negligente com o
trabalhador. As consequências estão vindo agora. "O Santander é um banco
muito lucrativo. Ano passado, lucrou mais de R$ 6 bilhões e, este ano,
possivelmente vai lucrar mais. O banco tem dinheiro e, aliás, manda boa parte
dele para a Espanha. Como uma instituição com um lucro desses mantém
funcionários e aposentados arcando com contribuições insuportáveis?",
indagou.
Defesa
O
presidente do Banesprev, Jarbas Antunes de Biagi, disse que o Plano 2 é
excelente e seguro, pois se encontra lastreado quase que totalmente em renda
fixa e em bons títulos. Todavia, reconheceu que está "um pouco
doente", e o remédio é o aumento da contribuição por parte do banco e dos
participantes.
"Todos
vão se aposentar, a menos que não queiram. O plano é excelente, com benefícios
vitalícios e fiscalizações rotineiras que atestam que está tudo correto e não
temos nada pendente. Um gestor de plano de previdência tem que prestar conta
sempre que for chamado", disse Biagi, que garantiu não haver qualquer
maquiagem nos números da Banesprev.
Ainda
segundo Biagi, o valor total da folha dos benefícios atualmente é de R$ 38
milhões por mês. Em média, os beneficiários têm 60 anos de idade e recebem R$
4.200 mensalmente.
O
representante do Santander, Alessandro Tomao, que atua no Jurídico do banco,
afirmou que a empresa vem honrando seus compromissos, depositando suas
contribuições extraordinárias em dia, e nunca se opôs às definições dos
participantes do fundo previdenciário. Para ele, a doença do plano não se deve
ao serviço passado, que, aliás, nem estava previsto no edital de privatização
do Banespa ou na constituição do Plano 2. Ele acredita que os fatores
prejudiciais ao fundo foram o aumento da expectativa de vida, a baixa
rentabilidade dos ativos, o aumento das aposentadorias e a reforma da
previdência do fim dos anos 90.
Diante do impasse, o presidente da CDH, senador Paulo
Paim (PT-RS), propôs que as partes realizem uma nova rodada de negociação nos
próximos 15 dias para tratar do pagamento do serviço passado, com a
intermediação da Superintendência Nacional de Previdência Complementar
(Previc).
Agência de Notícias do Senado