Economia virou muleta no debate entre
presidenciáveis.
Candidatos jogaram
números ao vento enquanto se forma a tempestade.
Aqui e ali, se
falou um pouco de saúde, costumes e malefícios da esquerda, mas as
perguntas no último debate dos presidenciáveis neste 2022 antes
do primeiro turno ficaram concentradas em duas grandes temáticas: ofensas
pessoais e economia, sempre misturadas com acusações de corrupção.
À exceção do Padre Kelmon (PTB), que precisava ler a cola
de perguntas básicas, os candidatos demonstraram que tinham estudado os
números, sabiam os dados, mas trocaram a oportunidade do debate astuto da boa
política pelo ringue da luta livre na lama intelectual.
Sempre é possível
dizer que a toada belicosa do presidente Jair Bolsonaro (PL) insuflou os
adversários.
Mas não é verdade nesse caso. Todos tinham espíritos armados.
O eleitor foi
submetido ao espetáculo de troca de acusações misturadas a expressões soltas
sobre a importância de cadeias globais de valor, teto, calibragem dos juros, responsabilidade
fiscal, controle do gasto público.
E daí se o PIB está
para cima, a inflação para baixo e o orçamento secreto encosta em R$ 40
bilhões?
Qual o significado de transferir R$ 4 trilhões para os bancos, R$ 350
bilhões para os pobres e devolver R$ 16 bilhões da roubalheira na Petrobras?
Tudo assim, junto e misturado?
Foram números ao
vento enquanto se forma a tempestade.
A recuperação
interna emite sinais dúbios. Cresce o emprego. Cai o salário. Faltam
medicamentos no SUS.
Os estudantes estão abandonando as escolas.
A inflação
cede nos preços administrados, com a canetada do governo, mas segue
pressionando os alimentos.
O ano de 2023 não será fácil para o eleito, seja
quem for.
A proposta dos
marqueteiros, ao que tudo indica, é levar o coração e o fígado do eleitor para
as urnas, não suas mentes. É o Brasil que temos para hoje.
FOLHA DE SÃO PAULO