Era de juros baixos provocou ilusão sobre bitcoins,
diz André Esteves
Executivo do BTG
Pactual diz que criptomoeda não é o novo ouro digital e afundou junto com a
queda das Bolsas americanas
Para André Esteves, presidente do conselho de administração e
sócio sênior do BTG Pactual, os juros baixos praticados nas grandes
economias globais desde meados de 2007 ajudaram a criar uma falsa impressão
sobre a real eficácia das criptomoedas para a diversificação das carteiras dos
investidores.
Ele avalia também
que o baixo retorno oriundo da renda fixa distorceu os preços dos ativos no
mercado financeiro de forma geral e prejudicou a percepção de parte dos
investidores a respeito da boa diversificação dos portfólios de investimento.
Segundo o
executivo, nos últimos 15 anos, o mercado conviveu com um ambiente de
"bull market" [períodos de forte alta dos ativos de risco], que
coincidiu com taxas de juros reais negativas nas
economias dos mercados desenvolvidos.
"Isso inflou
os preços de muitos ativos financeiros e criou várias teses do ponto de vista
da diversificação de portfólio que não necessariamente se mostram verdadeiras
quando tem uma reversão do cenário", afirmou Esteves, durante evento
promovido pelo BTG Pactual nesta terça-feira (21).
O principal nome à
frente da instituição financeira disse ainda que, na esteira da era de juros
baixos desde praticamente a crise imobiliária nos Estados Unidos, se
desenvolveram teses a respeito do potencial das criptomoedas, com alguns
agentes de mercado chegando a defender que o Bitcoin se tratava de uma opção
tão segura para as carteiras como o ouro.
No entanto, com a
alta da inflação e dos juros nos mercados desenvolvidos, e a forte correção da
Bolsa americana de tecnologia Nasdaq, o Bitcoin caiu ainda mais do que as
ações, assinalou Esteves.
A Nasdaq acumula
desvalorização de 31% no acumulado de 2022, até 17 de junho, enquanto a mais
popular das criptomoedas recua 55%.
O ouro sobe cerca de 0,5% no intervalo.
O
Bitcoin "não é nada 'digital gold' [ouro digital]", disse o
presidente do conselho de administração do BTG Pactual, reconduzido ao cargo no final de abril, após
ser destituído em meio a uma grave crise que atingiu o banco.
FOLHA DE SÃO PAULO