O negócio
mais lucrativo da vida de Ricardo Bellino foi o Villa Trump, um resort de golfe
de meio bilhão de dólares que nunca saiu do papel.
Bellino
vendeu a ideia a Donald Trump em 2003, no escritório do bilionário em
Manhattan, sob a pressão de um prazo de três minutos. O negócio, que contava
com um campo desenhado por Jack Nicklaus e Bill Clinton como membro-celebridade
honorário, caiu por terra quando os investidores brasileiros do projeto
recuaram -- mas não sem antes pagarem taxas de rescisão. Trump ficou com US$ 7
milhões e Bellino e seus sócios com o dobro desse valor.
Quando
isso aconteceu, Bellino já havia transformado seu encontro com Trump em um
livro sobre a arte do discurso de venda. Ele o chamou de "3 minutos para o
sucesso", com prefácio de Trump.
Agora
multimilionário com casas em Miami e Barcelona, Bellino, 51, fez carreira
vendendo o nome Trump. Ele está atordoado com os planos de transformar sua
proximidade em algo maior. Assim como os intermediários e sócios de mais de
duas dezenas de países onde Trump fez negócios, Bellino está competindo para
ter um papel em uma presidência cheia de potenciais conflitos de interesse em
termos de política externa.


Na
quinta-feira, Trump deverá delinear o plano para se separar de seus negócios
para poder assumir a presidência. Sheri Berman, professora de Ciência Política
da Barnard College, nos EUA, disse que sócios como Bellino, que se oferecem
para intermediar acordos políticos, podem criar novos conflitos.
"Mesmo
se não houver uma compensação direta, você não quer ter essa ambiguidade, nem
ser obrigado a retribuir favores", disse ela.
Bellino
reivindica o crédito por ter ajudado a levar o reality show O Aprendiz para o
Brasil, por criar o primeiro Trump Open (com um marqueteiro esportivo
recentemente indiciado no escândalo da Fifa) e por lançar as bases para o Trump
Towers Rio, o maior complexo urbano de escritórios em um país em
desenvolvimento (suspenso). Como mostra de sua admiração, ele certa vez
presenteou seu sócio bilionário com um retrato pixelizado em grande escala --
de Trump. A peça foi feita com centenas de cápsulas de café.
O Aprendiz
Trump
disse que possui participação na franquia O Aprendiz; a MGM revelou que ele
será mantido como produtor executivo também da nova temporada de Aprendiz
Celebridades.
Bellino
diz que não é um adulador, que ele apenas reconhece um negócio quando vê um.
Ele é uma pessoa de ideias e acredita na capacidade de Trump de pensar grande.
É por isso que, após anos defendendo Trump dos céticos em seus círculos de
negócios, ele está pronto para atacar.
A maioria
dos projetos de Trump na América Latina está atrasada ou fracassou, mas isso
não deverá impedir que sua revolução política tenha espaço aqui, ou que pelo
menos estimule um pouco a venda de bonés, diz Bellino. Ele vê uma chance não
apenas de construir uma franquia para a mercadoria política de Trump, mas
também de participar das relações políticas de Trump como costumava fazer em
suas negociações comerciais.
'Coisa diplomática delicada'
Ele quer
agendar uma reunião entre Trump, seu amigo Marcos Pereira, ministro da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, e o presidente brasileiro,
Michel Temer, "para criar uma agenda de colaboração em termos de
comércio", no que chamou de "uma coisa diplomática muito
delicada".
O
objetivo? "Tornar a América do Sul grande novamente!", disse Bellino,
em entrevista em São Paulo. "Eu encomendei os bonés. Vai ser
fantástico."
A Trump
Organization não respondeu a um pedido de comentário.
Para Bellino, a vitória política de Trump é mais fácil
de vender do que seus negócios comerciais na América do Sul. O único projeto de
Trump totalmente concluído na América Latina foi o Trump Panama. O Villa Trump
de Bellino e um resort na península de Baixa Califórnia, no México, fracassaram
e diversos outros projetos estão atrasados ou inacabados. O hotel Trump da
Barra da Tijuca estava previsto para a Olimpíada do Rio. Embora tenha feito uma
pré-inauguração, apenas metade dos quartos está em uso e a unidade ainda está
sendo terminada quatro meses após o fim do evento. Enquanto isso, o Trump
Towers Rio, um projeto de maior porte no centro da cidade, ainda não começou
devido a atrasos. Ambos os projetos foram citados em uma investigação do
Ministério Público Federal sobre corrupção em fundos de pensão brasileiros.
Bloomberg