Sem contar com a popularidade da Operação Lava Jato – que apura
esquema de corrupção e cartel na Petrobrás –, a Operação Greenfield é, de
longe, a que mais impressiona pelo volume de prejuízos, a quantidade de
investigados e a de lesados. A Greenfield apura a conduta de 50 grupos
econômicos, gerou R$ 53,8 bilhões em prejuízos que afetam a vida de quase 2
milhões de funcionários públicos na ativa e de aposentados.
“Os prejuízos e os valores (envolvidos) são muito altos”,
disse o procurador da República Andrey Borges de Mendonça.
Quando a operação que investiga supostas fraudes em fundos de
pensão foi deflagrada, em março deste ano, os investigadores estimaram que dez
grupos estavam envolvidos e o prejuízo somava R$ 8 bilhões. No entanto, na medida em
que novas evidências foram surgindo ficou claro que o esquema apurado era muito
maior.
Além da própria Greenfield, a investigação cresceu e agora engloba
também os resultados de outras duas operações: a Cui Bono, que apura cobrança
de propina na liberação de empréstimos na Caixa Econômica Federal, e a Sépsis,
que investiga suposto esquema de pagamento de propina para liberação de
recursos do FI-FGTS, fundo mantido com recursos dos trabalhadores e gerenciado
pelo banco estatal.
A fusão de operações leva em consideração três pontos. O primeiro
é o fato de tratarem de um mesmo tema: investigar a gestão e o destino do
dinheiro dos chamados investidores institucionais.
Nesta lista o Ministério Público Federal incluiu os grandes fundos
de pensão de estatais, como Previ – dos funcionários do Banco do Brasil – e
Petros – dos trabalhadores da Petrobrás; bem como institutos de previdência
estaduais e municipais; o FI-FGTS, cujo o patrimônio passa de R$ 3
bilhões; além
de diretorias da própria Caixa, que movimentam grandes financiamentos para
empresas.
Outro ponto em comum é que essas operações também lidam com as
mesmas instituições e programas. Empresas do Grupo J&F, holding que
controla a JBS, por exemplo, possuem financiamento da Caixa, recursos do
FI-FGTS e aporte de fundos de pensão.
Em terceiro lugar, o modelo de atuação para se conseguir o
dinheiro era bem parecido. Incluía a criação de uma nova empresa, do zero. Seus
ativos eram superavaliados, o que gerava pagamento de propinas dos empresários
para executivos da Caixa e gestores dos fundos de pensão. A propina era paga
para a liberação do dinheiro, caracterizando gestão temerária.
Segundo cálculos do MPF e da Comissão de Valores Imobiliários
(CVM), o “xerife” do mercado de capitais, esses investidores institucionais têm
R$ 1 trilhão para investir anualmente – praticamente o mesmo valor de todo
Orçamento anual do governo federal.
Afetados. Mas a maior parte dos recursos pertence a assalariados
de empresas privadas e servidores, como bancários e professores de escolas
públicas que foram surpreendidos pelos prejuízos dos esquemas.
A Funcef, por exemplo, que reúne economiários da Caixa, tem R$ 17
bilhões de
déficit e compartilhou o prejuízo com funcionários da ativa e aposentados.
Entre as origens do prejuízo está um investimento de mais de R$ 1
bilhão na
Sete Brasil, empresa criada para monitorar a produção de sondas para a
exploração do pré-sal que se mostrou foco de corrupção na Lava Jato.
“Temos aposentados com mais de 100 anos de idade que estão pagando por
isso. Nem eles, nem eu, com 43 anos de Caixa, imaginamos que algo assim
aconteceria”, disse Jesse Krieger, presidente do Conselho Deliberativo da
Federação Nacional das Associações de Aposentados e Pensionistas da Caixa.
O Estado de São Paulo