Entenda por que a pressão da inflação vem do campo.
Preços
agropecuários são recordes, puxados por demanda e exportação
Os preços praticados no campo no mês passado
mostram por que a inflação atual tem um forte sustentáculo na alimentação.
Praticamente todos os produtos estão sendo negociados com valores
recordes.
Demanda interna e exportações estão por
trás dessas altas.
O arroz, um dos principais alimentos básicos,
está nessa lista. O preço da saca subiu para R$ 94 no final do mês passado,
segundo análise divulgada pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada) nesta terça-feira (8).
As indústrias foram
ao campo para refazer estoques, e os produtores seguraram o cereal à espera de
novas altas.
O resultado é que a média real de preços de agosto superou em 63% a de
igual período de 2019.
Além da demanda
interna, as exportações atingiram 213 mil toneladas
no mês passado, 98% mais do que em agosto de 2019. As importações caíram 43% no
período.
O açúcar também está com preços em alta.
As indústrias
reduziram a oferta interna do produto em agosto, e a saca foi a R$ 84, segundo
o Cepea.
Os preços médios de agosto superaram em 36% os de igual período de
2019.
A pressão vem
do mercado externo devido à quebra de safra na Tailândia e ao aumento das
importações chinesas.
No mês passado, o Brasil exportou 3,5 milhões de toneladas
de açúcar e de melaço, 118% mais do que em igual período do ano passado.
O boi mantém a
escalada recorde de preços, puxado pela exportação de 163 mil toneladas em
agosto, 29% mais do que há um ano.
Os preços recordes
da arroba de boi —R$ 228 de média— dificultam a situação financeira dos
frigoríficos que apenas trabalham para o mercado interno.
Além disso, essa alta
eleva os custos dos pecuaristas na compra de bezerros para a reposição de
rebanho.
A carne do boi em
patamar elevado ajuda a subir também a de suínos. O quilo do animal vivo está
com valores nominais recordes de R$ 7,9 em São Paulo.
A alta de boi e de
suínos impulsiona também o preço do frango, que sobe há três meses seguidos.
O
valor da asinha de frango custa 82% mais do que em agosto de 2019. As
exportações, que somaram 341 mil toneladas no mês passado, são a segunda maior
do ano.
Demanda externa e pressão do dólar também
colocam o café em patamares recordes.
O preço da saca do produto tipo 6 subiu
para R$ 611 no final de agosto, o maior valor nominal.
As demandas interna
e externa da soja elevam os preços da oleaginosa a patamares jamais atingidos
antes. Com o custo elevado da matéria-prima, as indústrias pressionam também o
farelo e o óleo de soja.
Os consumidores pagam mais para cozinhar, e os
produtores de proteínas desembolsam mais para a manutenção de seus animais.
A indústria de
proteínas sofre também o efeito da alta do milho. Com demanda interna aquecida
e exportações aumentando, o cereal atinge preços recordes nominais no país.
Com
a relutância dos produtores em vender, a saca do cereal chegou a R$ 61,25 no
final do mês passado, segundo o Cepea.
FOLHA DE SÃO PAULO