Real sofre queda generalizada em relação a
parceiros.
Moeda brasileira é
a que mais perde valor ante o dólar em 2020.
Com a pandemia de Covid-19, o risco fiscal e a
incerteza política, o real não apenas se desvaloriza frente ao dólar —descola
até da cotação dos emergentes.
É acentuada, por exemplo, a desvalorização em
relação às moedas de parceiros comerciais.
Um indicador que
leva em conta a média ponderada das taxas de câmbio dos 61 principais parceiros
comerciais do Brasil, de acordo com sua importância na economia brasileira,
aponta que o real se desvaloriza 24,5% neste ano.
A relação com o dólar, a mais importante, é acompanhada
diariamente.
Dentre todas as divisas do mundo, o real é a terceira que mais
perde valor ante a moeda dos EUA, atrás apenas do dólar do Suriname e da cuacha
de Zâmbia.
Segundo o fechamento de sexta (2), o dólar está a R$ 5,66, uma alta
de 41% no ano em relação ao real.
A alta do euro é
ainda maior (47,4%), a R$ 6,66.
Até o peso argentino, que se desvaloriza 22% em
relação ao dólar neste ano, tem vantagem sobre o real, ficando quase 10% mas
valioso, a R$ 0,07.
A desvalorização do
real está relacionada à percepção do estrangeiro quanto ao crescimento do
Brasil nos próximos anos e à preocupação com a deterioração das contas
públicas.
Havia muita confiança no fiscal e isso está em dúvida agora”, afirma Thomaz Favaro, diretor para Brasil e Argentina da Control
Risks, consultoria de análise de risco político.
A dívida pública brasileira bateu recorde
em agosto ao alcançar 88,8% do PIB (Produto Interno Bruto) com o aumento de gastos
do governo com a pandemia, e deve seguir em alta com o plano do governo de
expandir o Bolsa Família, com o nome de Renda Cidadã.
Até o momento, o governo
aponta fontes de recursos, mas não mostra onde cortar gastos.
"É uma
tempestade perfeita. Temos um grande problema no mundo e vários por aqui, sendo
que o maior deles é o risco fiscal.
Além disso, o cenário para 2021 é ruim.
Tudo isso faz o estrangeiro sair do país e indica que o real vai continuar
depreciando", diz Roberto Dumas Damas, professor do Insper.
O economista também
aponta a relação conturbada do governo Bolsonaro com o Congresso e entre seus
próprios ministros, a crise ambiental, o elevado desemprego e a deterioração as
relações com a China e com os democratas americanos, que podem chegar à Casa
Branca em 2021, como fatores que impactam o real. “África do Sul, Peru,
Colômbia e Chile não têm todos esses problemas”.
FOLHA DE SÃO PAULO