Estudo
divulgado na semana passada pela OCDE (Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômico) e pela revista Foreing Policy mostra,
combinada com outros dados igualmente disponíveis, que o Brasil pode estar às
vésperas de transformar uma boa notícia em problema. Se, por um lado,
ninguém coloca em dúvida que a maior longevidade é em si mesma uma boa
notícia, por outro é cada vez mais motivo de preocupação a dificuldade dos
brasileiros em encontrar uma resposta sustentável para os seus dilemas
previdenciários. O que a pesquisa internacional revela é que o País já está
entre as 12 nações do Mundo cujas populações envelhecem mais rápido. Isso
sozinho não seria algo a lamentar. O que é preocupante é que, tendo hoje uma
população com grau de envelhecimento próximo ao do México, o Brasil gasta com
benefícios previdenciários praticamente o mesmo que a muito mais envelhecida
Alemanha.
“A conta
não fecha”, resume Henrique Noya, Diretor Executivo do Instituto de Longevidade
Mongeral Aegon. Foi ele que, como um dos expositores de painel realizado na
última sexta-feira (9), segundo dia do 13º Encontro Nacional dos
Profissionais de Recursos Humanos da Previdência Complementar Fechada, no
Rio de Janeiro, ajudou a traçar o quadro sobre o imenso desafio que o Brasil
enfrenta e está a exigir ações concretas e imediatas. E completou: “O nosso
País está envelhecendo 2 vezes mais rápido que a média mundial”.
Revisão
do pacto intergeracional - O outro expositor no mesmo painel, José
Ribeiro Pena Neto, Vice-presidente do Conselho Deliberativo da Abrapp,
continuou o raciocínio associando o rápido envelhecimento à falta que se
sentirá um dia de se ter mais trabalhadores jovens e na meia idade para,
através de suas contribuições, financiar os benefícios dessa massa cada vez
maior de aposentados. Daí o comentário: “com a longevidade o pacto
intergeracional terá que ser revisto”, afirmou José Ribeiro.
Por pacto
intergeracional entenda-se o acordo nunca de fato assinado por alguém, mas
vigente na prática, em que a geração que trabalha paga os benefícios da quem já
se aposentou. Algo cada vez mais difícil de equilibrar, na medida em que a
queda da natalidade reduz o contingente de trabalhadores na ativa, ao mesmo
tempo em que o aumento da expectativa de vida faz crescer na outra ponta a
massa de aposentados. O corretivo, sabem os especialistas e vem defendendo a
Abrapp, é abrir um espaço maior para o regime de capitalização, via o fomento
da previdência complementar fechada ou mesmo a adoção também de uma vertente de
poupança capitalizada na própria Previdência Social. Esse seria o caminho que
permitiria a cada trabalhador poupar e, assim, acumular reservas para si
mesmo, deixando de depender tanto das gerações futuras, explicou José Ribeiro.
Longo
prazo - José Ribeiro deixou claro o tempo todo que se refere a uma
poupança para fins previdenciários, algo que não se confunde com mecanismos,
alguns deles caracterizadamente produtos financeiros, que combinam uma
desgastante rotina de depósitos seguidos pouco tempo depois de saques. O tempo
médio de permanência do dinheiro sob gestão das entidades fechadas é atualmente
de quase 15 anos, uma duration de década e meia nem de longe encontrada em
qualquer outra forma de poupar oferecida no mercado. “Simplemente não há
comparação possível”, observou José Ribeiro, chamando a atenção para o fato de
que aquilo que aparece na régua das EFPCs medido em bem mais de uma década, em
outras oferecidas no mercado não passa de alguns meses.
Poupança
previdenciária é conceitualmente de longo prazo. Até porque a existência de um
horizonte de tempo mais longo é indispensável do ponto de vista social, porque
sem isso não se protege de fato o trabalhador, ao mesmo tempo em que
fundamental no sentido econômico, pois sem a formação de reservas expressivas a
economia perde uma importante fonte estável de investimentos. Não por acaso, as
entidades fechadas, lembrou José Ribeiro, administram atualmente mais de R$ 800
bilhões e pagam acima de R$ 42 bilhões em benefícios previdenciários a mais de
700 mil assistidos. Números que seriam ainda muito mais superlativos caso a
previdência complementar fechada fosse fomentada.
José
Ribeiro reiterou para o público formado por profissionais de recursos humanos
de entidades fechadas que, na falta de uma reforma da previdência estrutural,
capaz de discutir o próprio modelo e de colocar o País na rota da
capitalização, a Abrapp passou a apoiar a agenda que parece possível
atualmente, o projeto de reforma pontual proposto pelo Governo.
No evento, promovido pela Abrapp e patrocinado pelo NUBE - Núcleo
Brasileiro de Estágios, presente perto de centena e meia de profissionais de RH
de entidades fechadas, Henrique Noya retornou para recolocar a audiência no
centro das atenções: “O RH seguramente não é ator coadjuvante, é um dos
principais protagonistas na luta por fazer as entidades alcançarem os seus
objetivos”
Diário das Entidades Fechadas de Previdência Complementar