Em entrevista ao Podcast
da Rio Bravo, Luís Ricardo Martins, presidente da Abrapp, destacou a
importância da reforma da Previdência.
A reforma da Previdência,
um dos principais temas em discussão atualmente no Congresso Nacional, é alvo
de muitas polêmicas e de grande contrariedade por parte de boa parcela da
população brasileira. Porém, muitos economistas destacam a importância que a reforma
tem para a sustentabilidade das contas públicas e do próprio sistema
previdenciário no futuro.
Engrossando o coro dos que
defendem a reforma, está o presidente da Abrapp (Associação Brasileira das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar), Luís Ricardo Martins. Em
entrevista ao podcast da Rio Bravo (confira clicando aqui), Martins destacou:
"não sei o que leva as pessoas a criticarem de uma forma aguda a proposta,
porque o fato é: as pessoas estão vivendo mais, existe uma menor taxa de natalidade
no país, existe um regime de repartição simples que se mostra desequilibrado –
pela razão que eu já disse, desse pacto entre as gerações -, existe
aposentadorias precoces e nenhum regime do mundo sobrevive a isso".
De acordo com ele, o
regime geral não proverá todas as necessidades do trabalhador. Desta forma, ele
afirma que a previdência privada pode ser uma solução para o problema
previdenciário e também ser uma solução para o problema econômico brasileiro.
Confira a entrevista para
o Podcast da Rio Bravo:
Rio Bravo - Mesmo ao longo
da administração Dilma Rousseff, a discussão sobre a Reforma da Previdência
nunca saiu da pauta. Depois que o presidente Michel Temer assumiu o governo, a
reforma, no entanto, passou a ter uma relevância ainda maior. Como é que a
Abrapp percebe o aumento de volume nessa discussão?
Luís Ricardo Martins - O
primeiro ponto é que, com o aumento da longevidade, a baixa taxa de natalidade,
considerando que a nossa previdência oficial, nosso regime geral, é o regime de
repartição simples, ou seja, um pacto entre gerações onde os jovens
trabalhadores pagam aposentadoria daqueles que acabam se aposentando, o fato é
que há um desequilíbrio nítido em termos de custo e pagamento de benefício.
Então, a reforma do regime geral brasileiro é necessária, é urgente.
Notamos que existe uma
aposentadoria, podemos dizer, até precoce do trabalhador brasileiro, é uma
questão de idade. Hoje, internacionalmente, essa faixa está mais elevada, então
o Brasil precisa se adequar e estruturar sua previdência, seu regime
previdenciário, de maneira equilibrada. A proposta da Abrapp para essa
necessária reforma do regime geral era um pouco mais ousada. A gente apresentou
uma proposta estrutural, com um primeiro pilar suportado pelo INSS com cobertor
um pouco mais curto, e o segundo e terceiro pilares através da capitalização de
recursos, e não da repartição simples, em que houvesse uma obrigatoriedade num
segundo pilar privado e num terceiro pilar facultativo como é hoje.
Mas sabemos também, por
outro lado, a dificuldade hoje, tendo em vista a crise política e econômica que
o país atravessa, de a gente conseguir aprovar uma reforma estrutural. Isso é
fato. De todo modo, o que está dando para fazer é essa reforma proposta pelo
governo pontual, em termos de idade, em termos de contribuições.... é
paramétrica, é isso que podemos dizer. Então, de todo modo, tendo em vista a
sua necessidade, a sua urgência e a impossibilidade de a gente fazer uma
reforma mais estrutural, é importante levar adiante essa reforma proposta pelo
governo brasileiro. A nossa expectativa, a minha especial, pessoalmente
falando, até o início do segundo semestre a teremos uma reforma já aprovada no
âmbito do parlamento.
RB - Uma pesquisa recente
da Fecomércio do Rio de Janeiro apontou que boa parte da população brasileira
não acompanha esse debate acerca da reforma. Para vocês, isso faz com que o
desafio seja maior?
LRM - A gente que atua no
segmento da previdência privada tem esse desafio todo dia. Nós estamos
falando aqui de educação previdenciária, de disseminação da cultura
previdenciária. É fato que a sociedade brasileira não se preocupa com a
velhice. Mas é fato também é que isso, ainda que de uma maneira pequena, vem
mudando.
Essa campanha de
comunicação que é feita hoje em função da reforma do regime geral, acaba
aguçando um pouco a preocupação do trabalhador, ainda que de maneira muito
rasa, mas está aguçando no sentido de começar a se preocupar:“ qual é a
qualidade de vida que eu vou ter na minha inatividade? ”. Então, esse trabalho
é um trabalho de todo dia.
Um exemplo é que na
entidade que eu presido, a OABPrev-SP, no final do ano passado, fechamos o ano
com uma média de mais de 600 adesões ao mês ao nosso plano de previdência. Isso
mostra um pouco dessa preocupação em termos essa qualidade.
Como vamos ter essa
qualidade de vida melhor na inatividade, se a gente sabe que o regime geral não
vai ser capaz de prover todas as necessidades do trabalhador? Aí vem a
previdência privada. Temos apontado que a previdência privada é solução de
parte desse problema previdenciário brasileiro. Ela precisa ser vista como
prioridade e precisamos ter protagonistas vivendo isso. A previdência
complementar hoje pode ser uma solução para o problema previdenciário e pode
também ser uma solução para o problema econômico brasileiro. Como os fundos de
pensão são investidores institucionais então, se conseguir esse reconhecimento
e esse protagonismo de diversos atores, vamos colocar a previdência
complementar na cabeça do trabalhador como uma solução, aguçando a sua
curiosidade.
RB - Ao mesmo tempo em que
não acompanha essa discussão, outra parte da sociedade civil organizada rejeita
frontalmente qualquer debate acerca da previdência no sentido de
reestruturá-la. Você acredita que seja possível convencer esses grupos de que a
reforma é necessária?
LRM - Sim, estou
convencido. Como eu disse, hoje, todos os estudos, quer no ambiente
internacional, quer os grandes estudiosos aqui no ambiente nacional, e o
secretário Marcelo Caetano, que vem conduzindo isso à frente do governo, aponta
que estamos convencido de que é necessária uma reforma previdenciária.
Então, alguns poucos que
acabam ecoando um movimento contrário à reforma, avalio que essas pessoas têm
que buscar mais informações ou um grau de sensibilidade maior... Eu não sei o
que leva as pessoas a criticarem de uma forma aguda a proposta, porque o fato
é: as pessoas estão vivendo mais, existe uma menor taxa de natalidade no país,
existe um regime de repartição simples que se mostra desequilibrado – pela
razão que eu já disse, desse pacto entre as gerações -, existe aposentadorias
precoces e nenhum regime do mundo sobrevive a isso. A gente tem vários exemplos
mundiais de que precisa haver uma reforma da previdência para que traga esse
equilibro na sociedade. São poucas vozes que realmente precisam de uma maior
reflexão, porque eu acho que a reforma é necessária.
RB - Tratando de aspectos
objetivos da reforma, na avaliação de vocês, quais são os pontos fundamentais
que não podem ficar de fora de uma reforma como essas?
LRM - O melhor dos mundos
seria uma reforma estrutural. Não vemos essa possibilidade. Então vamos a uma
reforma paramétrica. Precisa-se realmente levar essa régua da idade
acompanhando uma tendência internacional, com 65 anos, que é um pouco essa
proposta que está sendo feita. Tem que aumentar as contribuições para que,
junto com a idade, você tenha um equilíbrio entre custeio e benefício.
Há também o problema da
previdência rural, que é apontada como deficitária e que há um desequilíbrio
nas contas que também precisa ser vista. A questão de acumulação de pensão e
aposentadoria também é algo que me parece que precisa ser enfrentado, tendo em
vista que a gente sabe que existem situações incômodas no regime. A questão de
custeio em termos de contribuição sobre folha de salário, em termos de
arrecadação do PIS e da Cofins, como se dá isso para o custeio desse déficit
que é apontado.... Enfim, acho que são pontos que estão sendo discutidos nesse
ambiente. E agora, é com o debate na sociedade, que está sendo feito na casa
das leis, no Parlamento, nós vamos ter uma reforma. Senão a ideal, uma reforma
que ajude a tentar reequilibrar essas contas do INSS.
RB - Na época da sua
candidatura para a presidência da Abrapp, você angariou apoio de todos os
segmentos, incluindo fundos de empresas privadas, estatais, pequenas e grandes
fundações. Duas perguntas com base nessa afirmação. Primeiro, qual é a
importância desse consórcio para a sua administração nos próximos três anos?
LRM - Isso precisa ser
visto com o perfil do nosso sistema de previdência complementar fechado no país
e, em especial, as associadas da Abrapp, que é muito heterogêneo. Dentro do
processo de aperfeiçoamento e evolução do nosso sistema, como você coloca, nós
temos entidades patrocinadas por entes públicos, nós temos entidades privadas,
nós temos pequenas entidades, grandes entidades. Nós temos entidades de fundos
instituídos, como a Quantum, a OABPrev. Temos as entidades de previdência
complementar do regime próprio, como Funpresp. Enfim, é muito heterogêneo.
Então esse é o primeiro desafio, como vamos buscar soluções para um ambiente
tão diverso.
Por outro lado, o que a
gente sente é que há uma conscientização, há uma sensibilidade de todas as
associadas, que o nosso sistema, hoje, precisa se reinventar. A previdência
complementar, se por um lado, cumpre sua missão; atende e paga os benefícios
aos seus 700 mil assistidos, paga mais de 34 bilhões de benefícios/ano; acumula
mais de 760 bilhões em reservas, ou seja, sólido, moderno, um sistema robusto
quem vem pagando benefícios. Por um outro lado, notamos que, a evolução do perfil
do nosso trabalhador mudou.
As pessoas que entravam
num fundo de pensão, quer queira, num fundo de pensão estatal, privado, fundo
instituído, Funpresp. Aqueles que entravam num fundo de pensão, 20, 30 anos
atrás, eram trabalhadores que queriam ficar um longo tempo trabalhando para o
mesmo empregador, que estavam ali formando suas reservas. Hoje, não, hoje é
diferente! Hoje um jovem trabalhador, que ingressa num fundo de pensão, ele
pensa diferente, ele já está pensando no segundo emprego. Essa "geração y"
é mais exigente, ela é mais rápida. A coisa tem que ser mais fácil de ela
entender, precisa ser mais ágil.
Enfim, essa expectativa
desse segmento, em termos de se reinventar para crescer, houve aí um
envolvimento grande de todas as associadas, que dentro das propostas que foram
feitas no período da campanha de eleição aqui da Abrapp, viram no nosso nome
alguém que pudesse comandar, estar à frente desse processo de reinvenção da
nossa previdência complementar fechada. Tiveram uma votação expressiva, mais de
71% dos votos, que mostra que realmente, primeiro, as nossas associadas – isso
é muito bom -, se envolveram no processo eleitoral, isso é muito bom porque
fortalece a associação, dá destaque à Abrapp numa mobilização de várias das
suas associadas. Essa nossa segunda etapa é como vamos conseguir atender essa
expectativa, nesse grande número de votos, nesse apoio que a gente teve.
RB - Minha segunda
pergunta vai nessa direção. Em termos eleitorais, em tempos de eleição, é
fundamental ter o apoio de todos esses segmentos. Agora, existem pontos de
contato em todos esses grupos possibilitando a conciliação desses interesses a
médio, longo prazo?
LRM - Esse é mais um
desafio. Hoje sabemos que até no nosso ambiente de fundo de pensão, algo que
não ocorria anteriormente, existe uma concorrência. Nós temos os fundos
multipatrocinados que vão criar uma concorrência dentro do nosso próprio
ambiente.
Esse é mais um desafio,
como é que nós vamos atender os anseios e necessidades de um ou de outro tipo
de fundo de pensão? O fato é, qual é a expectativa maior dos fundos? Os fundos
querem buscar o fomento do sistema, os fundos querem uma simplificação do
sistema, uma desburocratização do sistema. O nosso sistema, hoje, está muito
travado. Até no ambiente de supervisão a gente tem conversado isso muito com a
Previc. Como vamos buscar – e é um anseio geral -, independente da
característica do fundo de pensão, uma simplificação, a desoneração.
Todos também têm o anseio
de buscar a capacitação dos nossos dirigentes. Como é que a gente vai conseguir
ajudar, principalmente com o nosso carro chefe, que é a UniAbrapp, que vai
buscar essa capacitação, e o próprio ICSS, que vai certificar e indiretamente
também capacitar. Existe também a questão do aprimoramento de governança, é um
anseio do nosso sistema. Está vindo aí um projeto de autorregulação, um grande
projeto desencadeado pela Abrapp que achamos que vai atender a todos
independente da sua especificidade. Nas ideias macros, a gente acha que aquilo
que estamos defendendo, aquilo que a gente está buscando, vai atender o
segmento como um tudo. Isso eu acho importante.
RB - Quais são as
iniciativas que você pretende adotar já para o ano de 2017? Qual a plataforma
você pretende colocar em prática?
LRM - Bom, já tentamos
sensibilizar os diversos atores que direta e indiretamente se relacionam com a
Abrapp da preocupação do nosso sistema crescer. Adianto que estivemos com o
Secretário Marcelo Caetano, com o Secretário Eduardo Guardia, com o Banco Central,
com segmento de asset, seguradoras, Bovespa, FenaPrevi. Nossa preocupação é
passar para todos esses que transitam no nosso meio, que se o nosso segmento
continuar estagnado, se vier a encolher, vai ser ruim para todo mundo. Essa é
uma grande preocupação: como vamos sensibilizá-los? E nisso precisamos
fomentar.
Nesse ano, de imediato
vamos colocar uma discussão no CNPC, que é o nosso órgão de regulação - órgão
que tem que pensar a previdência complementar de maneira estratégica. Nós vamos
colocar a questão da minuta da norma de inscrição automática para ingresso nas
entidades fechadas de previdência complementar. A gente entende que esse
instrumento, também usado no ambiente internacional, de muito sucesso, vai
fomentar o sistema, garantido claro, para todo trabalhador que não queira ficar
no plano o direito à facultatividade. Inscrição automática já queremos colocar
agora em março para debate, no CNPC, e já desenvolver esse processo na busca
pelo fomento.
Estamos fazendo vários
contatos com parlamentares na busca de que aqueles projetos que tratam de
incentivos tributários por incremento da poupança previdenciária nacional,
possam ter uma tramitação mais rápida. Temos questões envolvendo a
possibilidade de um incentivo tributário para pessoa jurídica, por exemplo, do
lucro presumido que faz um aporte num plano de previdência complementar, que
tem um benefício, hoje não tem. A questão da postergação da opção da tabela
regressiva - progressiva, é fundamental a gente postergar isso para quando do
pedido de concessão do benefício o participante faça a opção tributária e não
quando ingressa no plano, sem muita visão de qual seria o modelo tributário
ideal para ela, entendemos que isso tem que ser postergado. Enfim, questões
também da autorregulação. Hoje a gente tem um projeto de código de
autorregulação, de aprimoramento de governança, que é fundamental para trazer
essa blindagem, para dar credibilidade, é um projeto que está andando.
A UniAbrapp também é um
outro projeto, com MBA, com pós-graduação, que busca a capacitação dos
dirigentes. São vários contatos que precisamos fazer, são vários atores, é
sempre aquilo, as pessoas precisam enxergar. E quando falo pessoas, eu falo de
todos aqueles que estão envolvidos com o nosso segmento: governo, associações, entidades,
seguradoras, instituições financeiras, Bovespa, Anbima.
Temos que enxergar que o
Brasil é o país da América Latina que menos poupa. Para você ter um processo de
desenvolvimento socioeconômico, em qualquer nação, você precisa ter poupança
interna, sendo ali produzida e o Brasil não tem isso. Como que hoje, na América
Latina o que nós temos de poupança interna é inferior a tudo e a todos.
Precisamos incrementar essa poupança, porque eu acho que se conseguirmos
incrementar a previdência complementar fechada, que vai ser parte da solução do
problema previdenciário que estamos vivendo porque vai desonerar o Estado
Brasileiro daquela proteção social que ele tem que dar no regime geral, que
vamos poder complementar no ambiente da previdência complementar e vamos poder
ajudar no processo de desenvolvimento econômico.
A partir do momento que a gente consegue desencadear isso, consegue
poupar mais e melhor, consegue que os fundos de pensão, enquanto investidores
institucionais, possam ajudar o país em projetos de infraestrutura, em projetos
de desenvolvimento específicos no nosso ambiente da economia. Então é
fundamental a gente incrementar essa poupança previdenciária brasileira
InfoMoney