Atualmente,
69 cidades catarinenses possuem um Regime Próprio de Previdência Social
(RPPS), o que representa 23,3% dos 295 municípios do Estado. O índice é menor
do que o resto do país, onde há 2.090 RPPS (incluindo estados) para um universo
de 5.570 municípios (37%). Segundo os cálculos atuariais do Tribunal de Contas
do Estado (TCE), apenas três cidades catarinense possuem um sistema
equilibrado, operando com superávit atuarial. São elas: Leoberto Leal, Novo
Horizonte e Arroio Trinta.
Para o
auditor fiscal de controle externo Daison Fabrício Zilli dos Santos, da
Diretoria de Controle dos Municípios do TCE, um dos fatores que explica o atual
rombo na previdência de Florianópolis, a maior do Estado, é a falta de um
aporte inicial por parte da prefeitura quando ocorreu a criação do Fundo
Financeiro. Segundo ele, sem esses recursos, a previdência começou a operar no
vermelho pouco tempo depois de ser criada.
A
situação ficou ainda pior com a falência do Banco Santos, onde a prefeitura havia
aplicado R$ 18 milhões em setembro de 2004 (apenas R$ 3,6 milhões foram
recuperados). A segregação das massas, ocorrida em 2009, foi uma tentativa de
amenizar o problema do déficit nominal, que hoje alcança a casa dos R$ 300
milhões. A administração Gean Loureiro agora vai reverter esse processo, com o
objetivo de estancar parte da sangria.
Outras
propostas previdenciárias, no entanto, foram retiradas do pacotão e terão
trâmite normal na Câmara de Vereadores. Entre elas estão o aumento da alíquota
dos servidores, de 11% para 14%, e a criação de um fundo de previdência
complementar. Para Zilli, são medidas necessárias, embora impopulares.
— São
ações que não podem ser descartadas, pensando no futuro. Hoje vivemos aquela
famosa história do cobertor curto. Se você tampa um lado, o outro fica
descoberto — diz o auditor.
Em
relação a Joinville, ele lembra que houve um aporte inicial quando da fundação
do Ipreville na década de 1990, o que garante uma melhor condição financeira
hoje. Apesar disso, ele fala que ainda há um déficit atuarial de
aproximadamente R$ 350 milhões, segundo as contas do TCE, que são mais rígidas
que as do Ministério da Fazenda (que hoje congrega a Previdência). Pelo cálculo
nacional, que leva em contas as gerações futuras, a maior cidade do Estado
possui um superávit atuarial do mesmo valor: R$ 350 milhões.
Uma das
medidas que pode ajudar a melhorar as contas é a criação de previdências
complementares. Ontem, o governo do Estado anunciou que deve permitir que os
municípios possam fazer parte do SCPREV, sistema estadual criado durante a
reforma estadual do fim de 2015, que também acabou com a segregação das massas
e aumentou as alíquotas patronal e dos servidores.
Segundo o
secretário da Fazenda, Antonio Gavazzoni, o pedido para a inclusão dos
municípios deve ser encaminhado para a Alesc e tem o objetivo de reduzir os
custos, já que desobrigaria as prefeituras a terem de criar órgãos parecidos, o
que acarretaria em aumento da despesa. As prefeituras que decidirem se juntar
ao SCPREV terão apenas que pagar uma taxa administrativa.
— O
projeto de lei está pronto e deve ser enviado agora para a Alesc, com o início
dos trabalhos do ano. Quando a gente idealizou o SCPREV, não o constituiu para
atender municípios. Depois, no entanto, ao estudar as legislações, viu-se que
também valia a pena, justamente para os municípios não arcarem com essas
despesas — diz Gavazzoni.
Em relação à atual condição financeira da previdência
estadual, o secretário elenca como importantes as medidas tomadas com a reforma
previdenciária de 2015, porém admite que ela apenas estabilizou o problema. Em
2015, o Estado precisou aportar R$ 3,1 bilhões para honrar os vencimentos de
aposentados e pensionistas. O número de 2016 não está fechado, porém Gavazzoni
adianta que deve ficar no mesmo patamar. Hoje, o Estado conta com quase o mesmo
número de inativos (60 mil e servidores ativos (61 mil).
Diário Catarinense