Langoni criou Selic e fez estudo pioneiro sobre
educação.
Economista morto
neste domingo mostrou que investimento na área dá mais retorno do que em
capital físico.
A tese de doutorado
do economista Carlos Langoni, que morreu na manhã deste domingo (13), aos 76
anos, em decorrência de complicações da Covid-19, é considerada um trabalho
pioneiro sobre o retorno econômico dos investimentos em educação no país.
Em seu estudo sobre
o caso brasileiro, o ex-presidente do Banco Central (1980-1983) e diretor do
Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getulio Vargas), chegou a um
resultado muito próximo ao obtido em praticamente todos os trabalhos
posteriores.
Segundo ele, a
rentabilidade do investimento em educação no Brasil é, em média, o dobro da
verificada nos investimentos convencionais em capital físico.
Embora hoje a
importância do investimento em capital humano para o crescimento econômico e a
distribuição de renda seja uma ideia consolidada, essa abordagem causou
surpresa e polêmica na década de 1970, inclusive por ter sido elaborada em uma
tese de doutorado da Universidade de Chicago, vista como reduto de economistas
liberais.
A própria ideia de
"capital humano" era considerada por grande parte dos pensadores de
esquerda no Brasil como um conceito equivocado.
Langoni fala sobre
isso nas entrevistas concedidas em 1998 e em 2018 ao Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV, dentro do projeto Memória do Banco Central.
“Pela primeira vez,
consegui medir a contribuição da educação para o processo de desenvolvimento
econômico”, afirmou o economista.
“Naquela época, aqui só se falava em educação
como aspecto cultural, a importância política de acabar com o analfabetismo,
mas nunca havia sido colocado de forma clara o papel econômico da educação.”
Aloisio Araújo,
professor da FGV-EPGE e do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), que
conheceu Langoni ainda na faculdade e trabalhou com ele também a Fundação,
afirma que a Universidade de Chicago, no qual ambos estiveram em momentos
diferentes, foi pioneira nos estudos sobre a importância da educação.
Foram
três Prêmios Nobel para economistas com trabalhos nessa área.
CRIAÇÃO DA TAXA SELIC
Em 1979, durante o
governo João Figueiredo (1979-1985), Langoni assumiu a diretoria da Área
Bancária do BC, convidado pelo então presidente da instituição Ernane Galvêas,
de acordo com a publicação “História Contada do Banco Central do Brasil”.
Durante seu
mandato, foi criado o Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), um
dos primeiros sistemas no mundo a assegurar a liquidação virtual de operações
com títulos públicos.
Anos depois, a Selic, taxa formada nesse processo de
liquidação de títulos e reservas bancárias, se tornaria a taxa básica de juros
da economia brasileira.
FOLHA DE SÃO PAULO