“Um evento de muita
qualidade, haja visto o conhecimento reunido e a capacidade de análise, além de
muito oportuno, considerando que as entidades se preparam nesse momento para
começar a produzir as suas políticas de investimento para 2017”. O resumo é do Presidente
José Ribeiro Pena Neto, ontem, ao abrir os trabalhos do seminário O Desafio da
Gestão de Investimentos dos Fundos de Pensão, promovido pela Abrapp e presentes
perto de 250 dirigentes e gestores de ativos, tendo ele se manifestado
confiante no aprofundamento dos primeiros sinais positivos oferecidos pela
economia brasileira. Um relativo otimismo compartilhado pelo Diretor Guilherme
Velloso Leão, que sublinhou ser desejo dos fundos de pensão investirem em um
ambiente de juros menores e com valorização de ativos reais associados às
atividades produtivas. Um cenário desses, completou José Ribeiro, abriria
espaço para uma reversão dos resultados do sistema, uma vez que “grande parcela
dos déficits verificados são hoje oriundos de fatores conjunturais”.
Esse novo cenário de
recuperação é passível de se concretizar, mas só se o Brasil for capaz de
realizar as reformas que se impõem, entre elas a aprovação da PEC que limita as
despesas do setor público e as reformas previdenciária e, num segundo grau de importância,
a trabalhista. A opinião é do economista José Márcio Camargo, expositor no
primeiro painel, voltado para o tema “Cenário Econômico Nacional e
Internacional - Qual o Panorama para a Elaboração das Políticas de
Investimento”, que ofereceu uma visão bastante ampla dos elementos
macroeconômicos com os quais as entidades devem lidar neste final de ano e ao
longo de 2017.
No cenário internacional,
observou Camargo, os mercados se mostram razoavelmente tranquilos no que diz
respeito ao curto e médio prazos, mas há motivos de intranquilidade em um
horizonte de tempo mais dilatado. “No caso brasileiro dá-se ao contrário, a
preocupação é especialmente com o curto prazo”, notou.
Estranha combinação - No Mundo, o que se nota
é a combinação de baixo crescimento e inflação próxima do zero. Uma combinação
estranha, porque a estabilidade dos preços em um nível tão baixo deveria estar
impulsionando a atividade econômica, no entanto a expansão global é atualmente
a metade do que era há 10 anos. Há pelo menos 3 diagnósticos diferentes para
tentar explicar isso. A primeira teoria diz que a culpa seria da falta de
demanda provocada pela transferência de renda para os mais ricos, cuja
propensão ao consumo seria menor, segundo essa teoria. E o dinheiro teria sido
transferido em razão da desindustrialização do Ocidente, que com exceção da
Alemanha levou a sua indústria para os países asiáticos.
A segunda explicação para
essa estranha combinação de atividade econômica baixa e inflação quase nenhuma
é o baixo impacto do atual modelo de inovação tecnológica, que afetaria mais a
qualidade de vida e bem estar das pessoas do que traria ganhos de produtividade
para a economia. A comparação, nesse caso, é a grosso modo entre smartphones e
outros gadgets, de um lado, e o vapor e a luz elétrica, de outro. A mensagem é
clara: estes últimos mexeram muito mais com a economia. A terceira e última
teoria tenta explicar o quadro atual pela resposta mais lenta da Ásia aos
convites ao investimento e consumo.
Camargo fechou o seu quadro
internacional notando que tanto Hillary quanto Trump, ambos os candidatos à
Presidente nos EUA, mostram-se protecionistas, muito mais preocupados em
defender o nível de emprego em seu país do que fomentar o comércio
internacional. “E medidas protecionistas, sabemos bem, costumam trazer menor
crescimento e inflação”, analisou Camargo, prevendo para o Mundo “um longo
período de juros baixos e muita liquidez”.
Brasil - Começando a falar
do cenário brasileiro, o economista salientou o fato de que o Brasil, ao lado
da Argentina e Venezuela, são praticamente os únicos países do mundo que
enfrentam hoje um problema de inflação. Preocupam também a questão fiscal e,
dentro dela, a relação dívida versus PIB, e o baixo crescimento da economia.
Tudo isso em seguida a vários anos de aumento dos salários muito acima da
produtividade, juros proporcionalmente baixos e redução gradual do déficit
primário. Enfim, um conjunto de políticas que fez explodir a demanda, mas não a
oferta, algo que foi combustível da inflação.
Olhando para a frente,
sublinhou que a seu ver o declínio da inflação daqui para a frente
depende antes de mais nada das expectativas do mercado em relação aos preços.
Juros nas alturas e taxa de desemprego são fatores que também pesam, mas não
são determinantes. Quanto à relação dívida pública versus PIB, disse que os
atuais 70% são absurdamente altos, mas acrescentou que a chegada de uma nova
equipe econômica que “fala uma lingua que se entende” faz acreditar que a
expiral explosiva foi superada. Espera-se que a fatia do endividamento sobre o
PIB continue crescendo por mais 3 ou 4 anos, seguindo-se um declínio.
Fazer a reforma da
Previdência é algo no seu entendimento imprescindível. “Se não for feita
o País chegará ao final da década de 20 gastando todos os seus recursos com a
Previdência”, previu, explicando que a Alemanha gasta os mesmos 13% que o
Brasil pagando benefícios previdenciários e assistenciais, mas tem uma
população idosa que é mais do dobro da brasileira.
Camargo acredita ser possível
colocar a inflação dentro da meta já em 2017, mas é bem menos otimista no que
concerne ao crescimento da economia, que deverá nas suas estimativas seguir uma
trajetória bem menos entusiasmante. Mas, voltou a dizer que “tudo vai depender
muito de o Brasil conseguir fazer o dever de casa no campo fiscal,
previdenciário e trabalhista”.
Governança - “Avançar na governança é
missão do gestor, que deve seguir nessa direção alinhado aos demais
stakeholders”, afirmou o diretor Guilherme Velloso Leão, primeiro
expositor do painel sobre “Governança em Investimentos e Arcabouço
Regulatório”, que teve como moderador o Presidente do ICSS, Vitor Paulo
Camargo Gonçalves. Este chamou a atenção para a contribuição que o Instituto
vem dando para a crescente profissionalização do sistema e, consequentemente,
para os resultados da gestão dos ativos.
Guilherme lembrou que o
sistema chegará em 2017 aos 40 anos de vida regulamentada, alcançando com isso
uma maturidade cuja outra marca é o êxito que vem sendo alcançado. Entre os
anos de 2002 e 2016 a rentabilidade atingida chegou aos 625%, acima dos 505% do
CDI e de menos de 500% da meta atuarial acumulada.
Por ser um sistema
heterogêneo, uma vez que ao redor de 50% das entidades em funcionamento têm
patrimônio inferior a R$ 500 milhões, normas aplicadas linearmente sobre todo o
conjunto podem onerar demasiadamente e acabar por inviabilizar as pequenas e
até médias EFPCs.
Apontou como evidentes
avanços os passos dados no sentido da autorregulação, fortalecimento dos
controles internos, transparência, qualificação dos profissionais, ampliação
das responsabilidades de todos os envolvidos e atualização da Resolução CMN
3792.
Outro expositor, Fábio
Henrique de Sousa Coelho, Diretor de Assutos Atuariais, Contábeis e Econômicos
da Previc, iniciou a sua participação observando que “mudanças simples no
processo decisório podem evitar problemas no futuro”. Citou como exemplo disso
tomar o cuidado de buscar no passado exemplos de erros cometidos, para não
repeti-los, separar as área de negócio da que faz o monitoramento, investir nos
controles e fazer de alguém da equipe um especialista voltado para a aferição
do respeito aos limites impostos pela Resolução CMN 3792.
Sílvio Rangel, Coordenador
da Comissão Ad Hoc de Solvência do Planos da Abrapp, terceiro expositor,
iniciou dizendo que “as entidades devem explorar melhor o novo ambiente
regulatório em seus investimentos”. Referia-se às novas normas de precificação
e solvência e aquilo que elas podem contribuir para produzir melhores
resultados.
Há nas novas regras um
jogo de incentivos e desincentivos ao risco. De certo modo, é como se
estimulasse a chegar a um determinado ponto, mas não a ultrapassá-lo muito.
Observou que, embora tenha
o seu impacto sobre os planos, a longevidade afeta hoje menos que a
rentabilidade.
O evento terá continuidade hoje (17), sendo seus patrocinadores a
Aditus, BlackRock, Bradesco Asset Management, MSCI, Spectra Investments, Vinci
Partners, Hancock Asset Management Brasil, Venko Investimentos, Patria, Porto
Seguro Investimentos e StepStone
Diário dos Fundos de Pensão