Os economistas Fabio
Giambiagi e Felipe Vilhena estão lançando, para discussão, a proposta da
Previdência Direta, inspirada na experiência bem-sucedida do Tesouro
Direto. A ideia, é acumular recursos em uma conta de investimento
individual que garantiria uma renda vitalícia durante a fase de
aposentadoria. Simulações feitas pelos autores indicam que assim
se poderia assegurar um retorno mais atrativo na fase de aplicação
dos recursos do que outras alternativas analisadas, caso das rendas geradas
pelo INSS, por planos previdenciários do tipo PGBL e VGBL, fundos de pensão,
investimentos realizados no Tesouro Direto, na poupança, em aplicações em
imóveis e fundos de investimento de renda fixa tradicionais.
O “pulo do gato” na Previdência Direta, dizem
os autores, está no desenho que pensaram para a plataforma, que seria gerida
pelo Tesouro, mas sem intermediários, como corretoras ou a bolsa de valores, e,
portanto, sem despesas administrativas para os participantes. O produto também
se aproveitaria de benefícios fiscais, como a dedução no imposto de renda dos
aportes na Previdência privada, e dos ganhos da “adoção do mutualismo” para a
conversão das poupanças acumuladas em renda, sistema em que, se a pessoa morrer
mais cedo, os recursos vão para um fundo comum, sendo redistribuídos entre todos
os participantes.
A criação de um sistema de contas
individualizado para a formação de poupança previdenciária, sem intermediários,
se justificaria, segundo os irmãos Weintraub, por práticas de suposta má gestão
e pelas altas taxas de administração praticadas no mercado de previdência
brasileiro.
Trata-se, assim, de uma contribuição técnica
de Giambiagi e Vilhena e também do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), do qual os autores são funcionários, para o tema da poupança
previdenciária. “Um eventual fortalecimento do regime previdenciário baseado na
capitalização deve se pautar por sistemas com baixas despesas administrativas e
adoção do mutualismo para conversão das poupanças acumuladas em renda”,
argumentam os autores na apresentação do texto, disponível a partir de hoje na
página do BNDES.
Os autores esperam que a proposta seja
instrumentalizada pelo Tesouro Direto. Isso depende, primeiro, que o secretário
do Tesouro, Mansueto Almeida, “compre” a ideia e depois que o Tesouro faça os
investimentos necessários em tecnologia da informação para o funcionamento da
plataforma da Previdência Direta.
Procurado, o Tesouro Nacional mostrou-se
favorável à proposta. “O artigo de Giambiagi e Vilhena compara a rentabilidade
de vários produtos financeiros e comprova que a compra direta de ativos tende a
gerar maior rentabilidade, pois está sujeita a uma estrutura de custos mais
favorável para o poupador”, disse José Franco, subsecretário da dívida pública
do Tesouro Nacional. Franco afirmou que, assim como o Tesouro Direto contribuiu
fortemente para dinamizar a indústria de fundos de investimentos, um produto
nos moldes do proposto por Giambiagi e Vilhena tem potencial para provocar
efeito semelhante sobre a indústria de previdência complementar. “A entrada no mercado
de um produto mais competitivo tornaria a indústria mais eficiente, pois os
fundos de Previdência tradicionais se esforçariam mais para racionalizar sua
estrutura de custos operacionais e reduzir taxas de administração”, afirmou
Franco. E concluiu: “Do ponto de vista operacional, a sua implantação parece
ser factível, pelo menos do ponto de vista da compra dos títulos públicos
durante a fase de acumulação”.
Pela proposta, os recursos aportados serão
utilizados para a concessão de um benefício de aposentadoria “puro”. Não
haveria, portanto, a concessão de pensões por morte ou invalidez.
Os recursos aportados à Previdência Direta
seriam utilizados na compra de Notas do Tesouro Nacional – serie B (NTN-B) nas
mesmas taxas e condições vigentes no mercado no dia da compra. Não haveria
também custos ou taxas administrativas, uma vez que essas despesas seriam
cobertas pelo governo federal, que também faria a custódia.
VALOR ECONÔMICO