Ex-BCs dizem que relação Bolsonaro-Guedes é
casamento arranjado, sem amor sincero.
Arranjo
poderia explicar a timidez da área econômica em propor políticas liberais,
afirmam.
Os
ex-presidentes do Banco Central Gustavo Franco e Pérsio Arida
afirmaram que a relação do presidente Jair Bolsonaro com a área econômica do
governo é um casamento arranjado, sem amor verdadeiro.
Para o
primeiro, é um arranjo que atualmente funciona, mas de maneira precária. Para o
segundo, essa pode ser a explicação sobre a timidez da área econômica em propor
políticas verdadeiramente liberais.
“Após a
vitória [na eleição] aparece um projeto econômico que a gente pode descrever
como um casamento arranjado entre o projeto político de Bolsonaro e essa gente
que encanta muito os que estão aqui nesta sala”, afirmou Gustavo Franco a uma
plateia de representantes do mercado financeiro durante a Latin America
Investment Conference 2020, evento promovido pelo banco Credit Suisse.
“Nada
contra casamento arranjado. Se for funcional, principalmente. Não dá para
se queixar hoje. As coisas estão funcionando, um pouco precárias, mas estão.
Não é amor sincero, mas está funcionando.”
Pérsio
Arida, que também foi presidente do BC na gestão FHC, disse que concordar com
Franco.
“Esse
governo é muito menos liberal na política econômica do que o discurso que ele
vende. Na abertura comercial, não aconteceu praticamente
nada. Na privatização, não aconteceu nada.
Um ano de casamento arranjado, como
disse o Gustavo, sem amor verdadeiro.”
Ele
disse ainda que o governo deveria avançar para acabar com o FGTS e o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)
e afirmou que as propostas enviadas ao Congresso são tímidas, considerando que
os parlamentares têm hoje um perfil mais reformista e o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), abraçou essa agenda.
Arida
disse ainda que chamar a venda de subsidiárias de privatização é uma enganação,
pois o dinheiro não está indo para o caixa do governo, mas apenas reforçando as
próprias estatais.
FOLHA DE SÃO PAULO