Se o ano
passado foi um dos mais difíceis para a gestão de recursos, 2017 não será menos
complicado em termos de volatilidade mas os especialistas em investimentos
apontam algumas possibilidades relevantes para sustentar a busca de
rentabilidade acima das metas, objetivo que os fundos de pensão conseguiram
atingir em 2016.
“O ano
que passou foi marcado por um ambiente de muitas mudanças no âmbito político,
muita volatilidade no câmbio e nas curvas de juros, podendo ser considerado um
dos cenários mais difíceis e desafiadores para a gestão de recursos”, observa o
especialista em investimentos da Mongeral Aegon Investimentos, Luiz Fernando
Cruz.
Baixa
correlação - A queda do juro real, já perceptível no mercado futuro,
deverá levar os fundos de pensão brasileiros a uma mudança estrutural no que
diz respeito aos investimentos e aproximá-los do que acontece nos Estados
Unidos, com a valorização crescente de ativos reais, avalia o diretor de
Investimentos da Hancock Asset Management no Brasil, Cleidson Rangel.
Especializada em ativos florestais, a gestora viu um salto dessa classe de
ativos em 2016, por conta do ajuste do câmbio. E também pela percepção dos
investidores institucionais brasileiros de que o segmento têm baixa correlação
com a inflação e o resto da economia. O que faz dele uma opção importante de
diversificação com horizonte de longo prazo.
“ O
segmento florestal acaba sendo uma proteção importante a longo prazo, tanto é
que os fundos florestais foram os únicos a manter captação ativa dentro do
segmento de Fundos de Investimento em Participações- FIPs”, explica Rangel.
Diversificação - Nas
estratégias das EFPCs para 2017, acredita Luiz Fernando Cruz, os investimentos
no exterior voltarão a ocupar maior espaço. Depois de terem sofrido em
2016 por conta da volatilidade do dólar, esses ativos serão mais
demandados por várias razões, segundo aponta o especialista: Há perspectiva de
aumento dos juros nos Estados Unidos e o fortalecimento da sua economia, a
expectativa de um melhor desempenho da Bolsa americana, um crescimento moderado
na economia mundial, e a necessidade de diversificar o risco em renda variável
entre as bolsas do Brasil e do mundo. “Os investimentos no exterior serão um
importante instrumento de diversificação no portfólio dos fundos de pensão
brasileiros em 2017 e alguns deles, inclusive, já iniciaram este movimento”.
Ele vê
também oportunidades em crédito de empresas de alta qualidade e na gestão de
fundos multimercado enquadrados na Resolução 3.792, mandato que permite uma gestão
mais ativa na parcela de renda fixa das carteiras. O aumento do apetite ao
risco, entretanto, irá depender muito dos acontecimentos políticos, observa
Cruz, e da aprovação das medidas de contenção de despesas e o ajuste das contas
do governo. “Com a queda nas taxas de juros, naturalmente os agentes terão que
se submeter a maiores riscos, na busca por melhores rentabilidades mas, até que
haja uma clara percepção de melhora no ambiente político-econômico e enquanto
as taxas de juros reais permanecerem atrativas, acreditamos que os ativos de
renda fixa, principalmente aqueles com características mais conservadoras,
continuarão tendo participação bastante relevante na composição dos
portfólios”.
Governança
e regulação - No caminho da diversificação, as entidades passam a contar
com um roteiro fundamental, acredita o especialista, que é o novo “Código de
Autorregulação em Governança de Investimentos”, lançado no mês de setembro de
2016. “O Código apresenta as diretrizes das chamadas “melhores práticas, com o
objetivo de aprimorar a qualidade das aplicações, a redução dos riscos e o
desenvolvimento sustentável da previdência complementar no Brasil”.
Outra
mudança que deverá ter impactos sobre as políticas de investimento dos
fundos de pensão é a revisão da Resolução CMN 3.792, que deverá apresentar um
modelo capaz de favorecer as necessidades de alocação de ativos e os aspectos
relacionados à governança, com reflexos diretos nas políticas de investimento.
As ideias apresentadas até o momento vão no sentido de utilizar premissas de
Gestão Baseada em Risco e o aprimoramento dos controles internos. “A nova
Resolução precisará tratar todos os tipos de planos, sem comprometer a
qualidade da gestão”, pondera Cruz.
Um exemplo é o caso dos
títulos de crédito privado em que são considerados, fundamentalmente, os
ratings para tomada de decisão. Entretanto, o especialista lembra que outros
aspectos precisam ser observados, como os riscos de mercado, de liquidez,
regulatório e questões relacionadas à diversificação. Além disso, o
mercado espera mudanças na regra que trata da reavaliação dos ativos
imobiliários dos planos, que devem refletir as condições reais de mercado.
O Estado de S. Paulo