Efeito 'bola de neve' sobre inflação ameaça recuperação do
consumo.
Crise
hídrica pressiona valor da energia elétrica e pode espalhar aumentos de preços.
A inflação de maio, acima das projeções e muito acima
do teto da meta, trouxe uma preocupação
adicional para o cenário de retomada.
Se antes a alta do índice era
interpretada como um problema pontual, e portanto passageiro, agora é vista por
alguns economistas como sinalização de que a pressão sobre os preços pode se
prolongar por mais tempo.
A nova perspectiva
leva em consideração a mudança no componente da inflação.
Nos meses anteriores,
ela refletiu principalmente a alta no preço de alimentos e combustíveis,
especialmente por causa da valorização do dólar e do aumento de exportações de
commodities.
Em maio, no
entanto, foi a energia elétrica que pressionou o IPCA (Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo).As razões para o aumento são climáticas e mais
persistentes.
Durante o verão,
não choveu o suficiente para encher os reservatórios de importantes usinas
hidrelétricas no Sudeste e no Centro Oeste.
O período seco nessas regiões
começou com pouca água nos reservatórios, o que exige o acionamento de muitas
térmicas movidas a gás, diesel e óleo combustível, que custam mais caro e
elevam o preço da energia.
Luz mais cara, além
de pesar no orçamento das famílias, eleva custos de operação, que as empresas
terminam por repassar para os produtos finais.
Ou seja, na visão de analistas,
uma espécie de efeito ‘bola de neve’ vai atuar sobre os preços nos próximos
meses, pressionando de forma persistente a inflação num momento em que o poder
de compra já é prejudicado pelo desemprego.
Para tentar frear o IPCA, o Copom (Comitê de
Política Monetária do Banco Central) subiu no começo de maio a taxa básica de
juros em 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano.
Na ocasião, o colegiado
também sinalizou nova alta na mesma magnitude em junho, para 4,25%. O Copom
volta a se reunir na próxima semana.
FOLHA DE SÃO PAULO