Prioridade dos primeiros dias do ainda interino
governo pemedebista, a Lei de Responsabilidade dos Fundos de Pensão está parada
há três meses na Câmara dos Deputados, mas, apesar da promessa do presidente
Michel Temer de que congelaria as nomeações até a aprovação das novas normas,
isso não impediu trocas na gestão. Dos quatro maiores fundos estatais, três já
mudaram de comando.
Primeiro foi o Postalis, responsável pelas
aposentadorias de funcionários dos Correios. Em julho, o economista André Motta
deixou a diretoria de investimentos e foi alçado à presidência do fundo. Ligado
ao PMDB, ele dirigiu estatais do Distrito Federal, como o Banco de Brasília e a
Terracap. O cargo de diretor de investimentos foi, então, ocupado por Christian
Scheneider, do PSD, partido do presidente dos Correios, Guilherme Campos.
Em agosto, Walter Mendes passou a presidir o
fundo de pensão dos trabalhadores da Petrobras, o Petros. À época, ele trocou a
cadeira de membro do conselho de administração da estatal pelo comando do
fundo.
Um caso mais recente é o da Funcef, dos
servidores da Caixa Econômica Federal. O fundo foi um dos mais atingidos pela
Operação Greenfield, da Polícia Federal, que investiga suposto esquema de
fraude e, em setembro, prendeu dois ex-diretores da Funcef. O banco teve que
fazer alterações no fundo: Paulo Cesar Cândido Werneck, com atuação no mercado
financeiro, assumiu a diretoria de investimentos e Renato Villela,
ex-secretário da Fazenda do Rio de Janeiro e de São Paulo foi para a de
Participações Societárias e Imobiliárias.
A Funcef também trocou de presidente. Saiu Sérgio
Mendonça, ligado ao PT, para dar lugar a Carlos Antônio Vieira Fernandes,
indicado do líder do PP na Câmara e ex-ministro das Cidades, o deputado
Aguinaldo Ribeiro (PB). Fernandes é funcionário de carreira da Caixa, banco que
passou a ser controlado pelo PP com o impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff.
A Greenfield apura irregularidades nos quatro
maiores fundos de pensão de estatais do país: Funcef, Postalis, Petros e a
Previ (Banco do Brasil). Diante de denúncias de corrupção nas empresas e também
nos fundos, Temer, ainda interino, declarou, em junho: "Mandamos paralisar
toda e qualquer nomeação para diretoria e presidência de empresa estatal ou
fundo de pensão enquanto não for aprovado".
A Lei de Responsabilidade das Estatais já foi até
sancionada. A dos fundos de pensão aguarda aval da Câmara, que esteve com a
agenda carregada pela pauta econômica do governo e dos Estados e pelas eleições
municipais. O projeto hoje sequer consta dos itens da pauta semanal divulgada
pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Presidente da Associação Nacional dos
Participantes de Fundos de Pensão (Anapar), Antônio Bráulio de Carvalho critica
a ideia de incluir representantes do mercado na administração dos fundos e diz
que o projeto não muda a lógica das nomeações. "As indicações que o atual
governo fez demonstram claramente que a intenção não é, de fato,
"profissionalizar" a gestão dos fundos, afastar a política partidária
e os conflitos de interesse, como apregoa", afirma.
A proposta prevê regras mais rígidas para
indicações e nomeações a cargos, além de estabelecer novas normas de
transparência e gestão. "O importante do projeto não é só a mudança de
nomes, é a mudança de práticas", afirmou Efraim Filho (DEM-PB), que
presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara sobre os fundos de
pensão.
Para atender a pedidos de integrantes da CPI, da
Força Sindical e do PPS, que questionavam o projeto, o relator, deputado Marcus
Pestana (PSDB-MG), costurou um texto em busca de consenso. Será criado um
Comitê de Investimento - mais uma instância para analisar negócios dos fundos -
e uma área de Auditoria Interna. A ideia é impedir indicações políticas e
estabelecer regras mais rígidas para que alguém assuma as funções. Mesmo sem o
aval à nova legislação, fundos de estatais retomaram as nomeações.
Pestana quer pressa na votação do projeto, mas
disse ser "compreensível" que as entidades tenham empossado novos
dirigentes diante da demora para análise do tema pela Câmara. A análise da
proposta, dizem parlamentares, deve ocorrer em novembro, após as eleições e a
proposta de emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos. "Esse tema saiu
da pauta prioritária do governo, mas deve voltar nos próximos dias", afirmou
Sérgio Souza (PMDB-PR), que foi relator da CPI. Se aprovado na Câmara, o
projeto ainda terá que seguir para o Senado, pois foi alterado em relação ao
que os senadores já aprovaram.
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que os
fundos são pessoas jurídicas de direito privado e têm regras próprias. "As
nomeações foram feitas pelos respectivos conselhos. Quando os órgãos públicos
tiverem que indicar seus representantes, sempre o farão observando a legislação
em vigor - que ainda não foi alterada pela proposta que tramita no
Congresso", diz o texto.
Valor