Vivemos uma epidemia de solidão
Pesquisa mostra
que 1 a cada 4 pessoas enfrenta solidão severa
A cidade de Seul acaba de anunciar que vai investir
US$ 327 milhões para combater a solidão.
A capital sul-coreana é a mais nova
integrante do clube de governos que estão combatendo isolamento social com
política pública.
O dinheiro vai ser aplicado de várias formas.
A
cidade vai oferecer apoio psicológico gratuito para todos os residentes, além
de um serviço emergencial chamado "Adeus, Solidão".
Fez parceria com
os aplicativos de delivery para identificar
as pessoas que vivem sozinhas. Vai dar incentivos a quem participar de
atividades sociais, incluindo visitar bibliotecas, festivais, parques e
restaurantes.
Em Seul, as "mortes por solidão" têm
crescido ano a ano. O fenômeno afeta principalmente homens (84% dos casos) na
faixa dos 50 e 60 anos (50% dos casos).
Seul não está sozinha no problema. O Japão enfrenta há anos a crise dos
"hikikomori", jovens que romperam vínculos e vivem isolados.
Há 1,5
milhão deles, muitos vivendo no próprio quarto.
O problema está em todas as
idades. A onda agora são os "8050". A expressão se refere a pessoas
reclusas na faixa dos 50 anos que dependem da ajuda dos pais de 80.
Para
combater tudo isso, o Japão tem criado centros de apoio, excursões turísticas
para promover vínculos e até ajuda financeira supervisionada para reintegração
social.
Em
2018, a Inglaterra criou o seu Ministério da Solidão (o nome oficial é
Subsecretaria de Estado para a Solidão), que já teve quatro integrantes. A
solidão cresce no país em todos os segmentos, especialmente entre 16 e 29 anos.
Nos
EUA, o problema é similar. Em 2023, o cirurgião-geral (porta-voz do governo
para saúde) anunciou com todas as letras que o país vive uma epidemia de
solidão.
Criou um plano para "reparar o tecido social", baseado na
constatação que um a cada dois americanos alegam sofrer de isolamento social.
Os
dados publicados pela OMS são chocantes.
Em pesquisa global feita pelo Gallup em 142 países,
uma a cada quatro pessoas enfrentam solidão severa e o mesmo número enfrenta
solidão moderada.
Curiosamente os menos solitários são os mais velhos (mais de
65 anos). Já os mais sozinhos são os jovens entre 19 e 29 anos. 27% deles com
solidão severa e 30% moderada.
O dano
da solidão acontece em várias camadas, físicas e mentais.
Um estudo de 2022
apontou que o efeito de estar sozinho para a saúde equivale a fumar 15 cigarros
por dia (o equivalente em nicotina a mascar 10 sachês de Zyn, a nova tendência
do momento).
O Brasil não está de fora. Pesquisa IPSOS de 2021 apontou que o
país ocupava o 1º lugar entre entre os que mais sentem solidão. Está na hora de
reparar o tecido social aqui também.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do
Rio de Janeiro.
FOLHA DE SÃO PAULO