PLANO REAL


Plano de modernizar Brasil foi interrompido pelo PT e abandonado por tucanos, diz Elena Landau.

Economista, que acompanhou discussões desde a academia, afirma que Plano Real era um projeto de país.

Segundo o economista Edmar Bacha, quando se fala em elaboração do Plano Real, a mãe deveria ter sido Elena Landau. 

Fazia parte do grupo de economistas que estudou a inflação na PUC-Rio e aderiu ao PSDB. Foi convidada para fazer parte do governo, mas declinou.

"Quando Fernando Henrique foi para a Fazenda e chamou as pessoas, eu tinha um filho de nove anos. Não podia ir para Brasília", confirmou Landau à Folha. 

Mais tarde, assumiu como diretora do Programa de Desestatização do BNDES, que tem sede no Rio de Janeiro, sua principal residência até hoje.

Na avaliação de Landau, a ambição era que o Plano Real fosse além da estabilização monetária.

"Temos que lembrar que o Real propiciou um momento muito importante. 

Como ministro e depois como presidente, Fernando Henrique ganhou legitimidade para fazer uma mudança de modelo econômico. 

Acho que esse foi o salto. O Plano Real era um projeto de país —aberto, moderno, inclusivo."

Na sua avaliação, qual foi a conjunção de fatores que levou o Plano Real ao sucesso?


São muitos, mas a essência do Plano Real —e eu sou suspeita para falar— é o Departamento de Economia da PUC [Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro], onde se juntaram pessoas cuja grande preocupação, basicamente, era o processo hiperinflacionário e a crise internacional, a dívida externa.

 

No início dos anos de 1980, vem o Larida [plano de estabilização monetária concebido por Pérsio Arida e André Lara Resende]. 

Pérsio vinha com um tipo de ideia, o André com uma outra. Tinha o Chico Lopes, o Edmar Bacha. Quer dizer, havia um grupo com uma discussão consistente sobre causas, combate, o que tinha dado errado. Foram muitas teses e estudos. 

Quando veio a oportunidade, o grupo estava maduro e com um espírito público extraordinário. Largou o que estava fazendo e foi para o tudo ou nada.

Mas tem uma outra razão, mais social. Ninguém aguentava mais a hiperinflação. Foi surpreendente a aceitação da URV [Unidade Real de Valor, moeda escritural do plano]. 

A sensação de ter uma moeda que dá poder de compra ao longo do tempo tem um efeito muito forte: você não precisa sair correndo para o supermercado, o salário não acaba no primeiro dia, o tomate na feira hoje vale a mesma URV, apesar do cruzeiro real ter disparado.

O reconhecimento de ganho de qualidade de vida se mantém até hoje. Há uma intolerância com a volta da inflação. Pode nâo ter problema no emprego, mas se tiver inflação, as pessoas reclamam mais.



FOLHA DE SÃO PAULO
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