ECONOMIA


Brincando com fogo.

Próximo governo vai precisar de visão e sangue-frio, afirma ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Desafios importantes seguem órfãos de diagnósticos e respostas concretas. O próximo governo terá que definir prioridades, com base em um cálculo transparente de custos e benefícios.

De cara, é essencial reconhecer que as estatísticas fiscais exibem relevante fragilidade. 

Após uma melhora recente nos resultados, em parte causada por fatores não recorrentes (juros baixos, salários congelados, inflação e preços de commodities altos), a trajetória de crescimento da já elevada dívida pública será retomada, podendo chegar a 100% do PIB ao fim desta década se providências não forem tomadas.

A relação entre o tamanho da dívida pública e quanto ela custa de juros merece reflexão. 

Há uma década a narrativa causal nas economias avançadas tem sido dos juros para a dívida. Por quê? Se um país consegue se endividar pagando taxas de juros muito baixas, até negativas em termos reais, por que não o fazer? 

Ora, assim tem sido feito.

No Brasil, a mera observação de que o governo paga juros reais de 6% em sua dívida indexada ao IPCA sugere que aqui a cadeia causal funciona na outra direção: o tamanho da dívida e seu crescimento aumentam os prêmios de risco e empurram para cima taxas de juros, alimentando um perigoso círculo vicioso de juros e endividamento. 

Esse quadro é reforçado pelo desmantelamento da Lei de Responsabilidade Fiscal e do teto de gastos, assim como pela rigidez e pelo tamanho dos gastos obrigatórios, pelo orçamento secreto e pela PEC Kamikaze.

Para o ano que vem, os melhores especialistas projetam um déficit primário de 1 a 2% do PIB. Urge definir uma estratégia clara de reconstrução fiscal, que de forma crível ponha em queda a dívida pública (como proporção do PIB).

Para tanto, seria necessária uma radical priorização do gasto público e a construção de um superávit primário que, sob hipóteses razoáveis de juros e crescimento, fizesse a dívida cair 1 a 2 pontos do PIB a cada ano.

OBS.: vale sua leitura detalhada: Brincando com fogo - 24/09/2022 - Arminio Fraga - Folha (uol.com.br)



FOLHA DE SÃO PAULO
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