MERCADO DE SEGUROS


Mercado de seguros funciona como jogo de gato e rato, diz livro.

Autores de 'Risky Business' explicam por que seguradoras tentam escolher os clientes certos e evitar os errados.

Confuso, opaco e caro. Comprar e cobrar apólices de seguro pode ser frustrante. 

Acontece, porém, que as seguradoras costumam sentir o mesmo sobre seus clientes –um grupo de pessoas cujos segredos internos são a chave de seu sucesso ou fracasso.

As razões por trás da incompreensão mútua estão no cerne do motivo pelo qual muitos mercados de seguros funcionam mal ou não funcionam.

Como explicam os autores de "Risky Business" [Negócio arriscado], o seguro é o que os economistas chamam de mercado de seleção –aquele em que a identidade dos clientes é tão importante quanto o preço que eles estão dispostos a pagar. 

Alguns clientes serão mais baratos para a seguradora atender porque fazem poucos sinistros; outros, mais caros. O mercado só funciona se houver uma combinação dos dois.

"O problema da seleção introduz um jogo de gato e rato de dois lados, no qual as seguradoras tentam escolher os clientes certos (e evitar os errados), enquanto os tipos 'errados' de clientes fazem o possível para que as seguradoras acreditem que são realmente os ‘certos'", argumentam os autores. 

O principal problema, dizem Liran Einav, Amy Finkelstein e Ray Fisman, é que os clientes sabem muito mais sobre o risco que correm do que as seguradoras.

Na pior das hipóteses, a seleção pode levar algumas empresas ou segmentos inteiros do setor à falência. 

Se uma companhia de seguros descobrir que os clientes são mais caros de atender do que se esperava, ela poderá aumentar os preços. 

Isso poderia impedir os clientes de menor risco de comprar cobertura, deixando a seguradora apenas com os mais arriscados. 

E assim os custos da seguradora aumentam novamente e os preços aumentam novamente, empurrando ainda mais pessoas para fora. 

Eventualmente, o seguro fica caro demais para a maioria das pessoas ou a companhia de seguros quebra. Os autores dão vários exemplos, desde seguro de divórcio até cobertura de desemprego.

O jogo do gato e do rato transforma o mundo dos seguros de mil maneiras diferentes, à medida que as empresas tentam manter o mercado funcionando bem. 

Por exemplo, qualquer pessoa com uma apólice de seguro de saúde empresarial está familiarizada, e talvez frustrada, sobre as regras que só permitem alterações uma vez por ano. 

Os autores apontam que isso é para impedir que as pessoas comprem cobertura assim que descobrem que estão doentes. 

Da mesma forma, oferecer academias gratuitas é uma tentativa de eliminar as pessoas que não gostam de academias –e, portanto, talvez sejam menos saudáveis e mais caras para a seguradora.

Os autores, três acadêmicos residentes nos Estados Unidos, mantêm o debate em curso com um estilo falante e leve, familiar aos leitores dos livros "Freakonomics" de Stephen Dubner e Steven Levitt. 

É um livro sobre seguros que não parece um livro sobre seguros. No entanto, é um livro sobre seguros nos Estados Unidos. Faltam exemplos de outras partes do mundo.

Onde o livro pega o ritmo é com alguns dos problemas mais espinhosos que as seguradoras e seus clientes estão começando a enfrentar. 

Voltando ao seguro de saúde, por exemplo, a crescente disponibilidade de dados genéticos leva a um novo conjunto de desafios, pois essas informações podem ser usadas para identificar quem corre maior risco de certas doenças. 

Os governos devem permitir que as seguradoras usem essas informações para precificar apólices? 

Se assim for, algumas pessoas correm o risco de ser excluídas do mercado porque perderam na loteria genética. 

Mas se as seguradoras não puderem usar essas informações e seus clientes sim, o mercado será distorcido em outra direção.

Não há respostas fáceis aqui, e os autores não tentam oferecer nenhuma. Existem, dizem eles, apenas compensações. 

"Seja qual for o equilíbrio entre eficiência e justiça que o governo escolher, haverá vencedores e perdedores", argumentam. "Os perdedores geralmente têm histórias genuinamente trágicas para contar."

Esses tipos de perguntas se tornarão mais comuns à medida que as seguradoras coletam uma gama cada vez maior de dados sobre seus clientes. 

Os dados podem dizer a eles, por exemplo, que as pessoas com cabelos claros são mais propensas a dirigir em velocidade. 

Ou que jornalistas que escrevem resenhas de livros são estatisticamente mais propensos a ter suas casas inundadas. 

A vantagem da informação pode mudar do cliente para a seguradora, e os autores são um pouco desdenhosos do potencial de os grandes dados perturbarem o mercado.

 Mas esse potencial existe. E não necessariamente tornará o seguro um lugar menos confuso, opaco ou caro.

"RISKY BUSINESS: WHY INSURANCE MARKETS FAIL AND WHAT TO DO ABOUT IT"

  • Preço US$ 30
  • Autor Amy Finkelstein, Liran Einav e Ray Fisman
  • Editora Yale University Press


FINANCIAL TIMES
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