Os estados e municípios brasileiros possuem 1,6 milhão de
servidores estatutários que recebem salários superiores ao teto de benefícios
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), atualmente em R$ 5.189,82. Esse
grupo corresponde a 25% dos 6,3 milhões de empregados das administrações
públicas estaduais e municipais, e será alvo da reforma da previdência. O
governo federal pretende obrigar, por meio de uma emenda à Constituição, que os
demais entes, incluindo os poderes Legislativo e Judiciário, criem regimes de
previdência complementar para garantir as aposentadorias acima do teto.
A proposta de reforma obrigará todos os estados e municípios
a criar fundos de pensão para os servidores, em até dois anos. A exigência
valerá para os entes que têm regimes próprios de aposentadoria e será aplicada
a servidores que ingressarem na administração pública após a aprovação de leis
que criam as entidades de previdência complementar. Pela proposta, a Fundação
de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo
(FunprespExe) poderá administrar os planos de benefícios dos entes da Federação
que não quiserem criar os próprios fundos.
Com rombos bilionários nas contas, os governos estaduais e
municipais têm dificuldade de fazer investimentos e custear a folha de
pagamentos de ativos e inativos. A criação dos fundos tem o objetivo de
garantir o equilíbrio das finanças a longo prazo e reduzir os gastos dos entes
da Federação com o pagamento de aposentadorias. Na opinião de Leonardo Rolim,
consultor da Câmara dos Deputados e especialista em previdência, a medida é
importante, mas precisa ser acompanhada de outras ações.
Segundo ele, os regimes próprios de previdência dos
servidores públicos precisam ser capitalizados. Atualmente, tudo que é
arrecadado é usado para custear as aposentadorias dos inativos. Com a
capitalização, fundos serão criados para aplicar os recursos no mercado e
garantir rentabilidade para fazer frente à necessidade de recursos.
“Atualmente, os regimes próprios descumprem o artigo 40 da Constituição, que
determina a observação de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial. Na prática, esses fundos deveriam seguir as mesmas regras dos fundos
de pensão. Quando há deficit, a necessidade de financiamento deve ser
partilhada entre o estado e os servidores, mediante contribuições adicionais”,
destacou.
Enquanto a reforma da previdência não chega ao Congresso,
tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 6.088, de 2016, que
autoriza a FunprespExe a administrar planos de benefícios para os funcionários
dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dos estados, municípios, suas
autarquias e fundações, Ministério Público e tribunais de contas. Para que isso
seja possível, os entes da Federação precisam instituir o regimes de
previdência complementar por meio de leis específicas. Atualmente, 12 estados
possuem normas aprovadas que autorizam a criação dos fundos de pensão.
O texto está parado na Comissão de Trabalho, Administração e
Serviço Público e precisa ser apreciado por outros três colegiados antes de
seguir para o Senado. Em exposição de motivos encaminhada ao presidente Michel
Temer, os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo
Oliveira, detalharam que a proposta tem potencial para melhorar a situação
financeira dos regimes próprios de previdência social de estados e municípios.
O projeto prevê que, para cada ente federativo, seja
instituído um plano de benefícios com patrimônio completamente segregado,
inclusive com CNPJ próprio. O texto ainda permite à Funpresp criar planos
multipatrocinados por mais de um ente federativo. Aqueles que ficarem
inadimplentes com a Funpresp e não repassarem as contribuições para custear as
aposentadorias dos servidores seriam punidos com a suspensão de transferências
voluntárias de recursos da União. Além disso, não poderiam celebrar contratos
nem obter empréstimos, avais e subvenções de órgãos federais.
Correio Braziliense