QUEBRA DE CONTRATOS EM SAÚDE ENCARECE PLANOS
E PREJUDICA OS PACIENTES.
O excesso de judicialização da saúde brasileira tem
preocupado Estado, operadoras de planos, profissionais do Direito e da Saúde,
gestores e a população como um todo.
Isso porque o grande número de liminares
concedidas no país obrigando as empresas a realizarem procedimentos que nem sempre
estão previstos nos contratos dos beneficiários tem causado um perigoso
desequilíbrio no mercado.
Esse é o entendimento dos participantes do terceiro
encontro da “Jornada Jurídica da Saúde Suplementar”, realizada pelo Instituto de Estudos de Saúde
Suplementar (IESS) em conjunto com o Colégio
Permanente de Diretores de Escolas Estaduais da Magistratura (Copedem).
O encontro “Mutualismo e equidade em planos de saúde: princípios e busca por
equilíbrio” teve a participação do ministro João Otávio de Noronha,
do Superior Tribunal de Justiça (STJ); de Raquel
Marimon, diretora do Instituto Brasileiro de Atuária e CEO da Prospera Consultoria;
do desembargador Marco Villas Boas, presidente do Copedem e diretor geral da Esmat; e de
José Cechin, superintendente executivo do IESS.
“O
mutualismo tem uma solidariedade limitada a uma responsabilidade”, aponta o
ministro Noronha.
“O não cumprimento de regras ameaça o equilíbrio econômico do
contrato e pode gerar um aumento das mensalidades e, consequentemente, a
elitização dos planos de saúde, dificultando o acesso para quem precisa”,
continua.
Segundo ele, esse movimento pode ser um desastre para os mais
carentes porque os preços são calculados em cima do risco de cada consumidor,
mas o risco judicial não está na conta.
Reforçando
os pontos colocados pelo ministro, José Cechin, do IESS, reiterou que o
equilíbrio do setor de saúde complementar existe quando os custos são repartidos
de maneira proporcional ao risco entre os beneficiários, o que justifica a
divisão dos preços por faixa etária entre os planos.
“Não é possível fornecer
tudo para todos o tempo inteiro. As concessões individuais afetam o equilíbrio
porque não foram previstas nos cálculos atuariais que determinam o preço das
mensalidades”, aponta o especialista.
“O
desafio do mutualismo é tornar as incertezas individuais em certezas coletivas.
Toda vez que uma decisão individual é tomada em detrimento do coletivo, afeta o
equilíbrio do todo”, aponta Raquel Marimon.
Ela ainda lembrou do importante
debate sobre a incorporação de tecnologias à saúde – tema de encontro anterior
da Jornada.
“É fundamental que toda a incorporação seja acompanhada da análise
de impacto econômico de forma mais intensa. Hoje, esse impacto é discutido
depois da incorporação.
E não antes, como deveria ser”, completa.
Para
ela, o setor tem avançado em diferentes aspectos e debates, mas ainda levará um
tempo para mudanças mais sistêmicas e profundas, como da mudança de modelo de
remuneração dos serviços em saúde.
“Hoje se remunera pelo volume de
procedimentos e não pelo benefício para a saúde do paciente”, conclui.
“No
Brasil, temos cerca de 47 milhões de pessoas com planos de saúde. Adicione esse
montante ao SUS e veja o que acontece.
Nosso dever é zelar para que as
instituições cumpram seu papel, temos de zelar pelo equilíbrio econômico”,
enfatiza o ministro João Otávio de Noronha.
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