Com a
expectativa de baixa da taxa básica de juros para os próximos meses, os fundos
de pensão devem ficar atentos para evitar que a rentabilidade de seus
investimentos caia. Para Silvio Rangel, membro do Conselho Deliberativo e da
Comissão Técnica Nacional de Investimentos da Associação Brasileira das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), essas instituições
devem encarar investimentos de maior risco não como uma opção absurda, e sim
como uma ferramenta. A declaração foi feita durante o 23° Seminário de
Investimentos, evento promovido pela Caixa de Previdência dos Funcionários do
Banco do Nordeste (Capef), na manhã desta sexta-feira, 11.
“Risco
não deve ser demonizado, deve ser gerido”, disse ele, durante uma das palestras
que integraram o evento. No entanto, Silvio avalia que deve-se ter em mente a
situação superavitária ou deficitária de cada entidade, assim como o nível de
conservadorismo de sua carteira. Ele conta que, se a tendência de diminuição da
taxa Selic se confirmar, não assumir níveis crescentes de risco deve resultar
em rentabilidade decrescente nos investimentos.
Zilana
Ribeiro, diretora-presidente da Capef, defendeu a aplicação de investimentos
com “risco calculado”, ou seja, levando em consideração as diferentes variáveis
que contribuem para aumentar ou diminuir esse risco e adotando garantias que o
abrandem.
Ela conta
que na Capef há o plano previdenciário BD, formatado na modalidade de benefício
definido, e o CV I, na modalidade de contribuição variável. O primeiro já é
bastante maduro, portanto pede mais conservadorismo em seu manuseio. O segundo,
no entanto, é consideravelmente mais jovem e permite que seja operado com mais
fatores de risco. No entanto, ela lembra que é sempre preciso ter cuidado, pois
os fundos trazem consigo obrigações de muito longo prazo.
Danilo
Araújo, diretor de administração e investimentos da entidade, conta que nos
últimos sete anos investimentos de renda variável tiveram perda de valor,
motivo pelo qual a Capef fez bem em vender o que tinha de investimentos desse
tipo quando teve a chance, realocando para opções de renda fixa.
Os fundos
de pensão tradicionalmente optam por investimentos mais seguros, como os de
renda fixa, que são atrelados à taxa Selic. No entanto, como é regra na maior
parte dos casos quando se fala em investimentos, mais segurança também
significa menor garantia de rentabilidade.
Segundo
Zilana, a Capef está considerando entrar em investimentos de renda variável,
mais arriscados e também mais rentáveis. Porém, se isso for feito, será com
cobertura de hedge, estratégia no mercado usada para minimizar os riscos em
aplicações desse tipo.
Durante
sua participação no evento, Silvio discursou sobre as alterações feitas nas
regras de precificação e solvência em fundos de pensão. Ele, que integrou a
equipe que definiu as mudanças, esclareceu em detalhes como elas funcionam e o
que foi alterado.
O
equacionamento dos déficits nos fundos passou a ser feito a partir da duration
observada nos planos, isto é, o tempo médio no qual o pagamento dos benefícios
aos participantes do fundo é feito. Silvio conta que, desse modo, passa a haver
mais justiça dentro do sistema, que agora prevê que planos maduros e planos
jovens com duration maior obedecem às mesmas condições.
Além
disso, Silvio conta que a nova norma estabelece que o teto de rentabilidade é
equivalente à taxa dos títulos federais mais 0,4%. Isso significa que, para
além do rendimento desses títulos, abre-se espaço para tomar risco ativo, mas
não em uma margem exagerada.
Desse modo, segundo ele, há um incentivo de um ponto
de vista estratégico para impulsionar esses investimentos. A regra prevê ainda
que, caso a taxa de juros dos títulos federais baixe para um patamar menor do
que 4%, essa margem aumenta e pode chegar a 0,6% ou 0,7% além da rentabilidade
desses títulos.
O Povo