A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o
presidente Michel Temer por corrupção passiva — encaminhada ontem à Câmara dos
Deputados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — colocou a reforma da
Previdência em segundo plano. Interlocutores do Planalto avaliam que o clima de
instabilidade política aumentou, sobretudo porque novas denúncias ainda virão,
e o governo ainda não sabe como lidar com elas no Congresso. Nessa situação,
disse a fonte, ninguém consegue votar nada. Mas os assessores do presidente
resistem em jogar a toalha e acreditam ser possível votar a proposta de reforma
da Previdência até o fim deste ano.
— A reforma ainda não foi descartada, apesar das circunstâncias
— disse um interlocutor do governo.
Segundo essa fonte, a intenção é insistir na votação do texto
aprovado na comissão especial que tratou do tema no início de maio. De forma
tímida, as conversas com os deputados estão recomeçando. Nada está parado,
afirmou.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o presidente
da comissão especial encarregada de analisar a proposta do governo na Câmara,
Carlos Marun (PMDB-MS), defendem que o Palácio do Planalto aproveite o embalo
da reforma trabalhista, caso ela seja aprovada pelos senadores no plenário, e
paute imediatamente a reforma previdenciária, ainda que sob o risco de ser
derrotado no plenário da Câmara. A ideia é apoiada pelo presidente da Casa,
deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que diz estar disposto a trabalhar para aprovar
o texto.
‘RISCO DE DERROTA É GRANDE’
Já o Planalto prefere dar um tempo antes de pautar a reforma. A
ideia é só intensificar as conversas com os partidos após o recesso parlamentar
de julho para avaliar os impactos da denúncia na base aliada.
— Se votar agora, o risco de derrota é grande e aí a reforma
pode ser enterrada de vez — avaliou um líder da base.
Para a equipe econômica, o adiamento da votação da reforma da
Previdência em alguns meses não se configura um problema, porque os impactos
das mudanças virão a médio e longo prazos. Porém, se a questão for empurrada
para o próximo governo, em 2019, o crescimento da economia ficará comprometido.
Num período de quatro anos, o rombo da Previdência Social (INSS) praticamente
quadruplicou e alcançará R$ 200 bilhões em 2018.
Durante uma ampla reunião ontem com ministros e líderes dos partidos da
base, o presidente não tocou especificamente no tema da reforma da Previdência.
Segundo relatos de deputados, ele disse apenas que ela continua na pauta do
governo.
G1