A tradicional corrida de fim de ano para aplicar em fundos de previdência privada — para usar o 13º e aproveitar o benefício tributário no Imposto de Renda (IR) — ganhou impulso extra. A proposta de reforma da Previdência Social apresentada pelo governo no início do mês vai dificultar a vida de quem conta apenas com a aposentadoria oficial, aumentando a necessidade de complementar a renda. A mudança acontece justamente quando novas regras, que entraram em vigor há alguns meses, flexibilizaram as estratégia de investimento dos fundos abertos de previdência, proporcionando portfólios mais ousados e com maior potencial de ganhos. Esse cenário aumentou o interesse de gestoras independentes para esse mercado, dando ao poupador outras opções além dos bancos de varejo.
— A indústria de fundos de previdência privada vive o mesmo processo pelo qual passaram os fundos de investimento tradicionais há uma década. Hoje, ela ainda é muitíssimo concentrada nos grandes bancos, que fazem a gestão dos seus próprios fundos. Mas, aos poucos, assets independentes estão trazendo o diferencial de gestão mais ativa e diversificada — explica Felipe Bottino, gerente de produtos de previdência da Icatu Seguros, que trabalha com mais de 40 gestores independentes entre os fundos que oferece, incluindo multimercados de casas como Verde, Adam e Canvas.
Gestoras como essas estão de olho em um dos poucos filões do mercado que vem mostrando crescimento inabalável. Por ser uma aplicação de longuíssimo prazo e desincentivar o resgate em menos de dez anos — a maioria dos aplicadores opta pela tabela regressiva, que faz o IR cair de 35% para 10% após esse período —, pouca gente hoje retira o dinheiro aplicado na previdência.
Segundo os números da Anbima, associação das instituições financeiras, a categoria registrou captação líquida (aportes menos resgates) de R$ 38 bilhões no ano até novembro, alta de 7,7%. Foi o melhor desempenho do mercado, batendo a expansão de 2,8% dos fundos de renda fixa. Este mês, a previdência privada atingiu pela primeira vez o patrimônio de R$ 600 bilhões, mais que o triplo do dos fundos de investimento em ações (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa e Santander concentram mais de R$ 510 bilhões). A previsão do Fenaprevi, que representa o setor, é que as captações saltem entre 22% e 24% em 2017.
— A previdência é a única categoria em que as pessoas estão colocando dinheiro. Há uma oportunidade muito grande para gestoras independentes crescerem nesse segmento, apostando em gestão ativa e taxas menores que as cobradas pelos bancos — diz Marcos Fritzen, diretor de Operações e Riscos na Quantitas, asset gaúcha que gere R$ 607 milhões nesses fundos.
Os investidores devem ficar atentos, porém, às taxas: fundos mais agressivos costumam cobrar mais. Especialistas recomendam acompanhar de perto a rentabilidade para saber se a ousadia vale a pena.
O Globo