Os fundos de pensão brasileiros deram ontem (18) um passo enorme
na direção do futuro que se deseja construir. Reunidas em Assembleias,
as associadas da Abrapp, ICSS e Sindapp aprovaram o Código de
Autorregulação em Governança de Investimentos. Adicionalmente, as entidades
filiadas à Associação aprovaram também o Plano de Fomento do Regime
Fechado de Previdência Complementar e a contribuição extraordinária no valor de
uma mensalidade, sendo que esta última virá exatamente para viabilizar as
primeiras iniciativas ligadas ao plano.
“O Código”, notou nessa quinta-feira (18) o Presidente da Abrapp,
José Ribeiro Pena Neto, “este primeiro deles voltado para a governança dos
investimentos, representa a concretização de um compromisso assumido na
primeira hora da nova gestão e, sua aprovação pelas associadas, traduz o
reconhecimento da importância do passo que está sendo dado”.
“A aprovação do Plano de Fomento”, continuou José Ribeiro, “renova
as esperanças de que o sistema fechado de previdência complementar pode voltar
a crescer”. E tal crescimento, prosseguiu, é a oportunidade de levarmos a
cobertura de nossos planos a um contingente maior de trabalhadores brasileiros,
ao mesmo tempo em que ampliando uma poupança de que o País se mostra tão
carente”.
José Luiz Taborda Rauen, diretor do Sindapp e Coordenador da
Comissão Mista de Autorregulação, entende que a aprovação deixou claro “o nível
de entusiasmo com que os dirigentes olham o futuro que se está construindo”.
Mostra também o grau de amadurecimento e a força do sistema para alcançar a
sustentabilidade. “O que vimos aqui hoje revela a amplitude do compromisso do
sistema em levar adiante a sua missão”, afirmou por sua vez a Presidente do Sindapp,
Nélia Pozzi.
Na mesma linha manifestou-se o Presidente do ICSS, Vitor Paulo
Camargo Gonçalves, para quem “através da aprovação do primeiro código de
autorregulação os dirigentes mostraram de forma muito proativa a sua postura de
integridade e transparência”. No seu modo de ver, essa foi a mensagem passada
aos participantes e demais públicos interessados em nosso sistema.
Ações concretas - O plano de fomento traduz o diagnóstico de baixo ou quase
nenhum crescimento, situação que se arrasta há mais de uma década, em ações
concretas em resposta a esse quadro de coisas. É um cenário que pede respostas,
pode-se dizer sem tardar, e o Plano de Fomento do Regime Fechado de Previdência
Complementar é a oportunidade que os dirigentes de associadas identificaram de
responder a tal desafio.
O desafio é claro: reverter um quadro com certeza insatisfatório,
observa o Superintendente-geral da Abrapp, Devanir Silva. O que as estatísticas
mostraram nos últimos 5 anos é um pequeno decréscimo no número de entidades, um
aumento modesto na quantidade de planos e praticamente uma estabilidade no
contingente de participantes. O crescimento restringiu-se, pode-se dizer, aos
segmentos instituídos e de previdência complementar dos servidores. “Ainda
falta uma política pública que traduza o reconhecimento pelo governo da
relevância dos fundos de pensão”, nota Devanir, lembrando que tampouco a
sociedade brasileira, conforme confirmam estudos recentes, parece perceber na
medida necessária essa importância. E o Plano é a forma que o sistema tem de
ser reconhecido.
Portanto, sabe-se o que se deseja deixar para trás, como é
conhecido também aquilo que se busca: as estatísticas mostram existirem 3,7
milhões de brasileiros potencialmente em condições de ingressar em fundos de
pensão, uma vez que apesar de terem uma renda superior ao teto da Previdência
Social ainda estão fora do sistema. Num cálculo modesto, é razoável supor que
metade deles poderiam muito bem tornar-se participantes de um plano. Ajuda
nisso o fato de 1,2 milhão terem carteira assinada e que, por conta
disso, podem ser mais facilmente atraídos, desde que, é claro, as empresas em
que trabalham sejam incentivadas, por políticas tributárias adequadas, a
oferecer planos de previdência complementar.
São 5 focos em cuja direção se vai trabalhar, cada um
pormenorizadamente expostos às entidades e seus dirigentes através da ampla
divulgação que o documento recebeu. Somando focos e vetores chega-se a 66 macro
ações perfeitamente definidas.
O Plano traça um mapa do que se vai em busca. O primeiro dos 5
focos fornece o direcionamento estratégico da Previdência Complementar, no
contexto de uma discussão aprofundada de um novo modelo previdenciário. Daí sai
o primeiro vetor, que é “a conscientização da sociedade quanto à insuficiência
futura do modelo atual”. Uma consciência que se irá buscar criar através
de uma postura motivadora de mudanças, como a realização de estudos e a sua
difusão.
Visão de futuro - O segundo vetor, desse mesmo primeiro foco, vem a ser “visão de
futuro da Previdência”. Esse novo olhar viria por meio de estudos que levassem
a propostas para a construção desse novo modelo. O terceiro é a “transformação
do Órgão Regulador e Fiscalizador em uma Agência Reguladora”, consolidando-o
como organismo efetivamente de Estado, o que o faria ganhar estabilidade,
autonomia e densidade técnica. Vem a seguir vetores como “reestruturação das
organizações da previdência complementar” e “revitalização dos atuais produtos
e criação de novos à luz dos novos públicos”, algo a ser alcançado por meio de
um profundo repensar de tudo que diz respeito às entidades, que teriam mantida
a sua não finalidade lucrativa, mas contariam com patrimônio próprio para
investir em seu negócio, entre outros desdobramentos.
O segundo foco - “estrutura e regulação da Previdência Complementar - tem
como primeiro vetor “incentivos fiscais para a Previdência Complementar
Fechada”, prevendo-se nesse caso, entre outras, ações que conduzam a uma
alíquota zero como “prêmio” a quem poupa por um longo período e se adote
deduções de contribuições também para os participantes que preencham o modelo
simplificado do IR, entre outras possibilidades de estímulo tributário, além da
identificação no meio parlamentar de formuladores de políticas e da divulgação
das vantagens de se participar de um plano.
Outro desses vetores presentes no Plano é “estabelecer a adesão
automática”, começando por priorizar a discussão da matéria no CNPC. Há mais:
“criação de fundos setoriais” (capazes de atender a várias empresas de um mesmo
segmento de atividade econômica), novos modelos (buscar através de estudos e
pesquisas chegar a novos produtos, como fundos para abrigar pessoas jurídicas
ou um fundo instituído por empresa), FGTS (destinação total ou parcial dos
recursos do Fundo de Garantia para fundos de pensão), mudanças regulatórias
(normas distintas para os diferentes tipos de planos e atualização de
Resoluções e Decretos já em discussão) e aprimoramentos pontuais na estrutura
da Previc (criação de uma Diretoria de Fomento na autarquia, destinação direta
da Tafic para custeio da Previc e tornar esta última efetivamente um órgão de
Estado).
Inovação em produtos - O terceiro foco - “Inovação em Produtos” - tem como vetores
concepções preliminares de inovações, a partir da análise e desenvolvimento de
novas formas como fundos setoriais para empresas do “Simples”, Prev-Saúde e
planos para familiares. Outros vetores são desenvolvimento de um ambiente
favorável à inovação, realização de estudos de mercado e um plano de marketing
para os novos produtos.
O próximo foco recai sobre “comunicação, educação e cultura
previdenciária”, tendo como vetores comunicação e capacitação interna (reunir e
manter informados e motivados os comunicadores, levando-os a se utilizarem dos
mais diferentes canais), plano de comunicação institucional (estabelecendo
objetivos, estratégias, diretrizes táticas e operacionais), comunicação
institucional e mercadológica (visitas às associadas, sindicatos, associações e
empresas, promovendo palestras e seminários e mapeando nesse ambiente onde
residem as maiores oportunidades, intensificar o relacionamento com a imprensa)
e educação e cultura previdenciária (formação de um centro de altos estudos
como fórum permanente de pesquisa e ensino e articulação com instituições de
ensino, entre muitas outras ações).
O último foco é colocado sobre o “Engajamento Associativo”,
através do qual se vai trabalhar a intensificação do relacionamento com as
associadas.
Próximos passos - A aprovação pelas associadas na AGE leva agora aos passos
seguintes, como o detalhamento do que foi planejado, a definição das ações que
merecerão prioridade, ao estabelecimento das métricas a serem seguidas e à
escolha de um gestor executivo, tudo isso permitindo que se passe à etapa de composição do
funding. Para compô-lo, a Abrapp irá em busca dos parceiros naturais do
sistema, aqueles que mais se beneficiarão da alavancagem fruto da expansão da
poupança previdenciária, mais que qualquer outra disponível de forma estável no
longo prazo. Dela se beneficiarão em especial instituições financeiras e
empresas que atuam nos mais diferentes mercados em que os recursos assim
poupados podem ser alocados. Mas estão nesse caso também associações e
organismos nacionais e internacionais igualmente interessados no crescimento de
reservas logo transformadas em investimentos e prosperidade.
Diário dos Fundos de Pensão