O Brasil nos últimos 40 anos.
Produtividade
do trabalho cresceu a um ritmo de apenas 0,6% ao ano.
A tabela apresenta a taxa média de crescimento da economia e
da produtividade do trabalho para os diversos períodos dos últimos 40 anos.
Os
dados são do Observatório da
Produtividade do FGV Ibre. O primeiro ano de cada um dos intervalos de tempo é o ano base a
partir do qual as taxas de variação foram calculadas.
Taxa de crescimento anualizada, em %:
EconomiaProdutividade
do trabalho
Redemocratização
e hiperinflação (1981-1993)
2,1
Estabilização
e liberalização (1993-2006)
2,9
Intervencionismo
(2006-2013)
3,6
Grande
crise (2013-2016)
-1,9
Lenta
recuperação (2016-2019)
1,3
Pandemia
(2019-2021)
0,2
40 anos de baixo crescimento (1981-2021)
O produto da economia é dado pelo valor adicionado
total —exclui, portanto, impostos indiretos pagos pelas empresas. A
produtividade do trabalho é dada pelo produto por hora trabalhada.
Nosso desempenho foi medíocre, afirma Samuel
Pessôa.
Como a última linha da tabela documenta, o
crescimento médio da economia foi de 2,2% ao ano e o da produtividade do
trabalho de baixíssimo 0,6% ao ano.
Uma hora trabalhada no Brasil produzia, em
1981, R$ 27,5 e, em 2021, R$ 35,1, sempre a preços de 2019.
Ou seja, por mês, um trabalhador na média produzia R$ 4.758
em 1981 e R$ 6.086 em 2021, um crescimento de 28% ou 0,6% ao ano.
A renda anual
per capita e por trabalhador foi em 1981 de respectivamente R$ 21.522 e R$
62.476, e de R$ 29.921 e R$ 69.911 em 2021.
A economia brasileira amarga enorme mediocridade.
Nesse mesmo período, a produtividade do trabalho para a economia americana
cresceu ao ritmo de 2% ao ano.
O único período relativamente bom foi o de 2006 até
2013, que eu chamei de intervencionismo.
Há para mim uma grande dificuldade.
Considero que a política econômica nesse período foi de pior qualidade.
Como lido com esse fato?
Penso ser importante considerar os legados, as
condições de contorno e as heranças.
O período foi antecedido por longo
processo de arrumação de casa macroeconômica e de construção institucional, o
período que chamei de estabilização e liberalização. Essa é a herança.
Por outro lado, o grosso do superciclo de
commodities ocorreu de 2006 a 2013.
Vale lembrar que, no período logo em
seguida da grande crise financeira global de 2008, acentuou-se
ainda mais o boom das commodities, em função da recuperação da China ter sido
muito mais rápida do que a do resto do mundo. Essa foi a condição de contorno.
Finalmente, o período do intervencionismo deixou um
pesado legado para o período posterior: nos três anos de nossa grande crise,
caímos 1,9% anualmente e a produtividade do trabalho regrediu 1% por ano.
O leitor deve ter notado que, no biênio da
pandemia, 2020-2021, o crescimento da produtividade foi relativamente bom, de
1,4% ao ano.
Esse fato deve ser revertido quando tivermos os números fechados
de 2022.
Em 2022, com a reabertura da economia e a
normalização dos setores de menor produtividade, a produtividade do trabalho da
economia deve cair.
FOLHA DE SÃO PAULO