Petros: déficit pelo 4º ano consecutivo


Quatro meses depois de assumir a presidência da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, Walter Mendes está reformulando a política de investimentos, enquanto negocia alternativas para reduzir o impacto do déficit bilionário sobre as pensões, aposentadorias e contribuições dos participantes. A entidade acumula um déficit de R$ 24,235 bilhões em 2016 até outubro, podendo chegar a R$ 26 bilhões, segundo projeções do mercado. O resultado refere-se ao Plano Petros do Sistema Petrobras (PPSP), o maior e mais antigo, com R$ 65 bilhões em patrimônio, 77.530 participantes e que desembolsa R$ 400 milhões mensais para pagar benefícios.

 

Mendes administra hoje uma carteira de renda variável problemática. A Petros carrega fatias em diversos Fundos de Investimentos em Participações (FIPs), que vêm provocando perdas desastrosas. Até outubro do ano passado, o recuo destes investimentos foi de 14,57%. Três deles foram objeto de reclamações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e "outras virão", garantiu o presidente da Petros, em entrevista ao Valor.

 

O fundo de pensão pediu à autarquia que investigue a gestão dos FIPs Enseada, Brasil Petróleo 1 e Riviera, em que ocorreram perdas relevantes. A nova política de investimentos, que vai vigorar até 2021, prevê movimentos contrários para os investimentos nos dois principais fundos. No PP-2, que não tem déficit, a estratégia é aumentar a fatia de renda variável de 8% para 20%; na renda fixa, de 83% para até 100%, tendo 77% como alvo para os próximos dois anos.

 

No deficitário PPSP, o objetivo é reduzir o volume de recursos aplicados em renda variável para aumentar a liquidez. Até outubro de 2016, o fundo tinha R$ 24 bilhões aplicados em renda variável, ou 37% de seu patrimônio. Entre as maiores participações em empresas estão Invepar, com 25% do capital total, BRF (11,42%), Paranapanema (11,81%), Norte Energia (10%) e Itaúsa (5,79%). A fundação também aplicou em companhias em recuperação judicial como a Lupatech e a Sete Brasil.

 

A nova política para o fundo prevê uma fatia de renda variável entre 10% e 35%, sendo que o alvo é chegar a 20% até 2018, o que será alcançado por meio da venda de algumas participações. "Olhamos este alvo de forma realista", diz Mendes. A Petros já se desfez até de ações que tinha na Petrobras, sem revelar o montante. É dona de 6,94% da Litel, veículo de investimento que faz parte do grupo de controle da Vale, mas Mendes é reservado sobre o tema.

 

"É um assunto muito delicado, que tem que ser conversado entre os sócios", disse. "A questão societária da Vale será discutida em breve, até porque existe um acordo de acionistas que vence em maio".

 

Enquanto analisa suas participações, a Petros adotará um critério de seleção técnica para os conselheiros indicados para as empresas em que participa, tendo a Previ como uma espécie de "benchmark". O modelo será implementado na próxima rodada de assembleias, a partir de abril.

 

Na renda fixa, a proposta é elevar consideravelmente a participação no PPSP. Até outubro, ela representava 45% da carteira. A intenção é chegar em 71% até 2018, considerando o intervalo de 40% a 75% previsto para 2021. Mendes vai implantar uma área de gestão ativa de renda fixa nos próximos três meses. A fundação só investia em títulos públicos. "Enquanto a taxa de juros está acima da meta atuarial, tudo bem. Na hora que ela cair, como você faz?", pondera.

 

O objetivo das mudanças, afirma, é implantar uma cultura de gestora de recursos. Para Mendes, o problema mais sério é na área de investimentos, onde os processos precisam ser revistos. "Não se sabe como as decisões eram tomadas. Faltou clareza e profissionalização por muito tempo", disse.

 

A nova diretoria reflete esse objetivo. Maurício Gutemberg, diretor de investimentos, tem passagens pelo Unibanco, Itaú Asset, Banco Garantia e Grupo Pão de Açúcar. O gerente responsável pela renda fixa é Felipe Cosi, que trabalhou com Mendes no Itaú. A área de renda fixa está sendo estruturada por José Seixas (ex-HSBC e Citi), trazido por Cosi. Também se juntou ao grupo Sandra de Oliveira (ex-BB DTVM), que vai gerenciar a área de riscos e conformidade.

 

Ex-conselheiro da Petrobras, onde presidiu o comitê de auditoria, Mendes conta que encontrou a Petros ainda desorganizada, com falta de governança e de institucionalização de processos. A gestão anterior, diz, estruturou uma área de risco independente, que não existia. O presidente da fundação considera essa uma boa iniciativa, mas avalia que "faltava e ainda falta" muita coisa a ser feita.

 

Para Mendes, a ideia é tornar a fundação mais leve e automatizada. Para isso, criou também um comitê para avaliar processos e normas. "Não quer dizer que vamos revisar tudo, mas vamos passar um pente-fino para deixar a empresa mais eficaz." Depois de avaliar que o fundo de pensão é muito burocrático e pouco eficiente, Mendes está elaborando um plano estratégico com metas claras sobre onde quer chegar e o que fazer.

 

Entre os problemas de governança que foram encontrados, está a falta de um regimento interno para o comitê deliberativo e para a diretoria executiva. O que existe é apenas para o conselho fiscal. Até agora, a nova gestão não encontrou justificativas para alguns dos investimentos que foram feitos, sendo que alguns são investigados pela Operação Lava-Jato e pela Operação Greenfield.

 

No caso dos imóveis, que representam 8% da carteira do PPSP, existem hoje três sedes no centro do Rio, sendo duas delas vazias. "Não há uma explicação clara porque essas decisões foram tomadas. A auditoria da Petrobras já fez apontamentos e já demos respostas. Nem eles entendem como as decisões foram tomadas", afirma.

 

A Petros fechou 2015 com déficit de R$ 22,6 bilhões, e fechará 2016 também no vermelho pelo quarto ano consecutivo. Mendes prefere não comentar projeções que indicam que o déficit pode chegar a R$ 26 bilhões em 2016, no quarto ano consecutivo fechando no vermelho. Por isso, a fundação negocia prazo com a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) para minimizar os impactos do déficit sobre os funcionários ainda na ativa e aposentados vinculados ao PPSP.

 

"Nunca antes se fez um equacionamento desses. Qualquer que seja o número - R$ 23, R$ 24 ou R$ 25 bilhões - ele é enorme e o efeito é muito expressivo. E até por uma questão de responsabilidade, a gente tem que estudar maneiras de amenizar os efeitos para o participante", diz Mendes, sem comentar as medidas estudadas para equilibrar o plano. 

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