O termo “fotografia” vem
sendo frequentemente associado ao Raio X da Previdência Complementar Fechada,
tal a capacidade que a pesquisa tem, já suficientemente comprovada nas duas
versões anteriores, de mostrar com riqueza de detalhes a realidade que o
sistema vive em duas de suas esferas, a atuarial e a dos investimentos. A
divulgação agora da terceira edição, no 37º Congresso Brasileiro dos Fundos de
Pensão, confirma mais uma vez isso.
De um total de 274 planos
abrangidos na pesquisa, 190 encontram-se dentro dos limites legais que
dispensam tanto a destinação de superávits quanto o equacionamento de déficits,
explicou o atuário Antônio Fernando Gazzoni, diretor da Mercer-Gama. Para ele,
o número mostra que o sistema está seguro e equilibrado, à vista das novas
normas.
Pela pesquisa, continuou
Gazzoni, 45 dos planos estão na situação de terem de equacionar os seus
déficits e 39 a caminho de fazerem a destinação de superávits. Gazzoni explicou
também o que mostra o IGA – Índice de Gestão Atuarial, criado pela Mercer-Gama
no intuito de aferir o grau de aderência à legislação e às melhores práticas
atuariais pelas entidades. Numa escala até 10, as EFPCs conseguiram na média
74,37%.
Gestão conservadora - “Nunca tivemos uma
gestão de ativos historicamente tão conservadora”, resume por sua vez Carlos
Garcia, sócio da Itajubá Investimentos. Garcia se refere aos dados que mostram
que pelo levantamento 85% dos ativos estão alocados em renda fixa e
apenas 6% em variável, entre outras opções, quando desconsiderados os números
dos 3 maiores fundos de pensão do País.
Detalhando um pouco mais,
informou que pela pesquisa na renda fixa 69% estão em NTNs-B, 14% em NTNs-C, 7%
em LFs, 3% em debêntures e 1% em LFTs, entre outros ativos.
Universo representativo - A pesquisa, realizada
pela Abrapp e operada pela Mercer-Gama, Itajubá Investimentos e Instituto
Ibero-Brasileiro de Relacionamento com o Cliente, contou com a participação de
associadas que respondem por 80% do patrimônio administrado e perto de 70% da população
de participantes ativos e assistidos, o que significa dizer que o universo
pesquisado foi bastante representativo do sistema. Como participaram entidades
de diferentes tamanhos, regiões e perfis, tal representatividade ficou ainda
mais garantida.
A fatia de empregados de
empresas patrocinadoras que aderiu aos planos cresceu 0,72% nos últimos 3 anos,
mesmo assim é de 500 mil pessoas o contingente que potencialmente ainda pode
neles ingressar. Nas estatais, é de 89,1% a proporção de funcionários que
participam dos planos que lhes é oferecido, sendo de 80,1% o percentual no caso
das empresas privadas. Para 67,5% das entidades, os principais motivos
que levam à recusa em participar são ausência de cultura previdenciária,
desconhecimento acerca do plano e a falta de visão de longo prazo. Para tentar
resolver, 65,4% das EFPCs realizam campanhas de adesão (incluindo o uso de
mídias sociais), 61,7% programas de educação financeira e 35% treinam a equipe
de RH da patrocinadora, entre outras soluções adotadas e que constam da íntegra
da pesquisa enviada a cada uma das associadas que dela participaram e que, como
prêmio por sua participação receberam versão integral naturalmente com todos os
detalhes.
Perto de 99% das entidades
têm página na internet, sendo que mais de 85% oferecem através delas aos
seus participantes a possibilidade de se informarem sobre saldos e extratos. Em
perto de 40% dos casos é possível fazer simulações.
Resposta às demandas - Para responder em geral
às novas demandas, 18,7% das entidades irá criar novos planos, 14,2% já
os criou recentemente e 9% os estão implementado nesse momento. Para 52% das
associadas respondentes, a melhor forma de alavancar as adesões seria
desenvolver um CD aprimorado, com mecanismos de proteção dos investimentos e do
benefício, enquanto 48% apostam também em um “VGBL para entidades fechadas” e
36% gostariam de desenhar um plano capitalizado para cobertura dos gastos
futuros com a saúde do participante.
Atualmente 77% das
entidades não securitizam os seus riscos, mas 56% das respondentes gostariam de
fazê-lo no intuito de se protegerem contra a longevidade coletiva. Outras
coberturas desejadas seriam rentabilidade (49%), morte (27%), longevidade (25%)
e invalidez (22%), entre outras possibilidades.
Quanto à gestão de riscos
e do passivo atuarial, Gazzoni registra que 90% das entidades informam realizar
estudos de adequação de hipóteses, 77% adotam procedimentos formais de
definição daquelas que serão testadas e 74% apresentam todos os anos os
resultados aos seus conselhos e diretorias. É informada também as taxas de
juros e duration média das entidades (na curva da ETTJ). No caso dos planos CDs
a taxa é de 4,50% a.a. e a duration de 10,01 anos, já no dos BDs 5,20% a.a. e
11,71 anos e no dos CVs 5,11% a.a. e 12,72 anos.
Visão clara - As entidades vêem com
clareza as políticas que deveriam ser adotadas prioritariamente, a começar da
adoção do mecanismo da adesão automática (78,7%), normativos que incentivem o
sistema (42,6%), regras para a gestão de submassas (31,9%) e criação de novas
modelagens de planos (31,2%), entre outras hipóteses detalhadas na íntegra
transmitida às associadas que participaram da pesquisa. Quanto aos pontos
julgados fundamentais para que a previdência complementar retome o caminho de
crescimento,31,1% consideram que o mais importante é a concessão de incentivos
fiscais, 29,6% a retirada da burocracia e entraves governamentais e 20,7% maior
educação previdenciária.
No entender de Gazzoni,
entre as principais conclusões da pesquisa estão a importância dos planos
instituídos para o crescimento do sistema, a percepção de que as campanhas de
adesão precisam ser reformuladas para trazerem melhores resultados e, por fim,
a existência de uma tendência de busca por planos sem qualquer risco atuarial,
o que faz pensar se as estratégias seguidas estariam adequadas para se chegar a
isso.
Ativos - Detalhando um
pouco melhor o alto grau de conservadorismo na alocação de ativos revelada pela
pesquisa, algo fácil de entender nas atuais circunstâncias do mercado, Carlos
Garcia, da Itajubá Investimentos explicou que, no caso dos planos BD, 63% dos
recursos estão atualmente investidos em renda fixa e, no caso dos CDs e CVs 82%
seguem o mesmo caminho, que na enorme maioria dos casos leva aos títulos
públicos. A íntegra da pesquisa fornece detalhes quanto aos indexadores,
benchmarks e diferentes estilos de gestão adotados.
Imóveis - Os imóveis ocupam
apenas 6% (BDs) e 2% (CDs e CVs) das carteiras, sendo que em se tratando de BDs
a alocação preferida são as lajes corporativas (39%). Já no caso dos CDs e CVs
a preferência recai sobre os espaços comerciais (61%).
Os negócios estruturados
detém fatia de 3% das carteiras dos 3 tipos de planos, vindo à frente nos BDs
os private equity/Fips (83%) e nos CDs e CVs os fundos multimercados
estruturados (48%). Considerando a governança, o que mais sobressai nesses
casos são as situações em que os cotistas têm a maioria dos votos (82%).
Os investimentos no
exterior respondem por 0,3% do total de recursos (BDs) e 0,7% (CDs e
CVs). A renda variável ocupa 100% e 84% do espaço, respectivamente.
Olhando à frente - Olhando para os
próximos 12 meses no que concerne à renda fixa, informou Garcia, 100% das
entidades pretende manter ou elevar as suas alocações em títulos públicos,
sendo 78% via fundos de investimento e 22% através de alocações diretas. E 83%
desejam também manter ou investir em papéis representativos de crédito privado,
seja por meio de fundos de investimento (51%) ou diretamente (49%).
Manter ou elevar o investimento em renda
variável é algo que faz parte do cardápio de opções para os próximos 12 meses
no caso de 80% das entidades, mostra a pesquisa.
Diário dos Fundos de Pensão